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Uma nova voz se une à defesa da aviação agrícola

Neste ano, a deputada federal Marussa Boldrin protocolou Indicação Parlamentar e Projeto de Lei voltados ao setor

Publicado em: 10/01/25, 
às 11:53
, por IBRAVAG

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“A minha ligação com o agro vem desde a barriga, e como o fruto não cai longe do pé, fui ser agrônoma”, conta a deputada federal Marussa Cassia Favaro Boldrin Vaz (MDB/GO). A terceira filha do produtor rural e técnico agrícola Ademir Armando Boldrin e da professora Leila Conceição Favaro nasceu em 1990, quando a família já estava em Rio Verde/GO.

A infância no campo, brincado em caminhão de soja e vivendo o dia a dia da propriedade, o que faz até hoje, lhe trouxe a certeza que o agronegócio precisa de representantes no Congresso Nacional para que suas necessidades não caiam no esquecimento. Longe da política do “tapinha nas costas”, Marussa não deixa um pedido sequer na gaveta. Analisa e vai em busca de uma solução se estiver dentro do seu escopo de trabalho. “Nós temos muita entrega, para ajudar a solucionar problemas da coletividade”, reforça a parlamentar.

Foi assim com os pedidos das entidades representativas da aviação agrícola. Neste ano, protocolou a Indicação Parlamentar (INC) 288, sugerindo ao Ministério da Saúde regulamentar a aplicação aérea de inseticidas e larvicidas contra o Aedes Aegypti. Uma pauta antiga do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) e do Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag).

A outra ação da deputa federal envolvendo a aviação agrícola refere-se ao Projeto de Lei  (PL) 3.493/2024, apresentado em 10 de setembro, autorizando o uso de aeronaves dos bombeiros em áreas rurais afetadas por incêndios, especialmente em plantações e pastagens. O PL tem por objetivo garantir a segurança jurídica para os gestores públicos atuarem em casos de emergências.

Embora, ainda esteja em seu primeiro mandato (foi eleita em 2022), Marussa chegou na Câmara dos Deputados com vontade de fazer a diferença. Hoje, ela ocupa a posição de vice-presidente da Região Centro-Oeste na Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). A engenheira agrônoma, graduada pela Universidade de Rio Verde (UnRV), com mestrado em Ciências Agrárias pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano), com pós-graduação em Planejamento Urbano e Ambiental, entende que o agro e o ambiental podem e devem caminhar juntos.

A senhora começou cedo na política partidária?

Eu fui candidata* pela primeira vez em 2016, com 26 anos. Mas eu tenho foto com 18 anos em caminhada política. Eu sempre tive essa veia de liderança participativa na política. Não só na política, na classista também.

*Marussa Boldrin foi eleita vereadora no município de Rio Verde/GO, em 2016 e reeleita em 2020. Em 2022, conquistou a cadeira na Câmara dos Deputados. Marussa atuou ainda no Conselho Consultivo do Conselho Regional de Engenharia Arquitetura e Agronomia do Estado de Goiás (CREA-GO)/Inspetoria Rio Verde; foi responsável pelo CREA – Jovem e fez parte da diretoria do Clube Campestre. Atuou também na Diretoria de Assuntos Institucionais, Políticos e Café Político da Associação de Jovens Empreendedores.

Graduada em agronomia e mestre em Ciências Agrárias e Agronomia, a senhora fez uma especialização em planejamento urbano e ambiental. Essa pós-graduação já foi para se preparar para atuar como vereadora e, agora, como deputada federal?

Exato. Por conta da minha mãe, que é professora, na nossa casa sempre tivemos o estudo como fundamental. Assim, eu terminei a faculdade e fui fazer mestrado na área de Ciências Agrárias, enquanto montava a minha empresa (um laboratório de análise de fertilidade do solo). Quando eu já estava no meu primeiro mandato como vereadora, eu falei: – preciso continuar estudando, mas agora eu quero fazer alguma coisa que envolva políticas públicas. E aí surgiu essa pós-graduação em Planejamento Urbano e Ambiental, que fiz com a intenção de auxiliar na elaboração do plano diretor do município que estava em discussão na época. O propósito era vincular o que eu sei na prática como agrônoma, como produtora rural e, na época, fazendo política pública. Eu acredito que o político precisa também buscar conhecimento sobre a pauta que está falando.

A senhora foca a sua atuação hoje em três pontas: o campo, o urbano e o ambiental. Por que é tão difícil pacificar esses espaços? A cidade não reconhece o agro, o campo não consegue se comunicar bem com o urbano e as questões ambientais são a maior fonte de ataque ao campo.

Exato. Eu vejo assim: lá no interior de Goiás, eu vou ter mais facilidade para falar sobre o campo. As pessoas têm vinculação, sentem-se pertencentes ao meio. Quem não possui uma propriedade, conhece alguém que tem um rancho para passar o final de semana, ou um sítio, onde cria um porco, uma galinha, para consumo familiar. Agora, quando você passa para a cidade grande, sentimos os desafios de conseguir comunicar. Mesmo com tantas empresas investindo em aprimoramento das equipes de comunicação, ainda temos muitas falhas na forma como a mensagem chega ao receptor. A mensagem às vezes chega muito distorcida à sociedade em geral. A Internet facilitou a comunicação a ponto de podermos fazer esse encontro virtual, ao mesmo tempo, que na rede social a pessoa fala o que quiser, sem conhecimento, e uma massa das pessoas passa a acreditar naquilo. E você tem que vir desmistificando. Temos dificuldade de comunicação, mas acredito que estamos melhorando.

Neste seu primeiro mandato, a senhora é uma voz em favor do agronegócio, mas também atua em questões envolvendo as mulheres, os jovens, o empreendedorismo. Como é isso para a senhora?

Falando da minha atuação, eu também estou nas frentes das cooperativas. Todos são assuntos que fazem parte da minha vida. Dentro do Congresso, não adianta você querer  abraçar todas as agendas, mas sim você ter pautas segmentadas e fazê-las bem-feitas. Eu falo que a mulher é uma pauta transversal, é uma pauta que está em tudo que eu faço, se é para falar do agro, se é para falar da cooperativa, de empreendedorismo, a pauta feminina está lá sempre vinculada a mim. Por ser uma mulher, eu tenho esse olhar sobre o feminino; como mãe, penso com cuidado as pautas da educação vinculadas às crianças. O agro da mesma forma. Lá na Frente Parlamentar da Agropecuária são 300 parlamentares, 40 senadores, e eu estou junto ali nesse enfrentamento, nesse dia a dia.

HISTÓRIA
Marussa junto com as demais integrantes da bancada feminina 2022/2027, para a foto com o presidente da Casa, Arthur Lira

A senhora tem defendido causas importantes da aviação agrícola, como o uso da ferramenta no combate a incêndio e no controle de vetores. O que a levou a defender essas duas pautas do setor?

Em função do agro, eu já convivo com pessoas que trabalham na aviação agrícola. E nessa aproximação com as entidades da aviação agrícola (Sindag e Ibravag) dentro da Frente Parlamentar da Agropecuária, me interessei pelas pautas. Eu já trabalho a questão de combate a incêndios com aviões agrícolas nas propriedades desde a época que eu era vereadora em Rio Verde. Neste ano, com a quantidade de focos de incêndio no País todo, nós, produtores, observamos que, com a ajuda do avião, poderíamos combater esse fogo mais rápido, reduzindo os prejuízos ao solo, às lavouras, às próprias matas, às florestas, porque o fogo deixa tudo degradado. A recomposição do solo é um processo de anos. Inclusive, surgiu uma pauta ambiental grande dizendo que os próprios produtores estavam ateando fogo sobre suas terras. E aí quando você conhece, você sabe o quanto que custa, o quanto que demora para tentar deixar o máximo de palhada no solo, para aguentar passar por um período de estiagem, ou para, em um momento de muita chuva, não ter uma erosão no seu solo. Falar que é o próprio produtor que está colocando fogo em suas terras é uma injustiça sem tamanho ou uma falta de conhecimento enorme. A gente percebe que, simplesmente, é uma narrativa política para tentar atrair olhares da comunicação, tentar ser populista.

Inclusive, a senhora protocolou o Projeto de Lei 3493/2024, em setembro, autorizando o uso de aeronaves de combate a incêndio dos bombeiros, bem como dispensando licitação para contratação de aviões agrícolas para auxiliar no controle das chamas em vegetações nas áreas privadas, sempre que o fogo puder gerar prejuízo ou colocar em risco a segurança de pessoas. Como foi construída essa proposta de lei?

O pedido chegou através da  Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil), tendo em vista que se construiu uma força tarefa no Governo de São Paulo e de lá saiu a ideia de ampliar o uso de aeronaves e drones no combate a incêndios.

Esse projeto de lei vem preencher lacunas existentes na Legislação referente à contratação da aviação agrícola por ente público para proteger propriedades privadas?

A ideia da aviação agrícola, surgiu por estar próxima às regiões e ter a capacidade técnica de despejar grandes quantidades de água ou material anti-incêndio a depender da autorização de uso pelos órgãos competentes.

Em caso de calamidade, a contratação de serviços já é permitida sem licitação? Até que ponto o projeto de lei é para dar maior abrangência à lei já existente e até que ponto é para dar segurança jurídica aos gestores que contratam o serviço?

Como já dito, quanto mais clareza tiver a lei e quanto mais específica for, mais segurança jurídica é dada às autoridades para serem céleres e precisas no combate aos incêndios. A lei busca exatamente especificar o uso da calamidade, da urgência, para depois o gestor público não ter problemas com a prestação de contas à sociedade. E, reforçando, a aviação agrícola tem acesso fácil às áreas que por solo são inatingíveis, agilidade ímpar e com valores acessíveis nesses casos de emergência.

AGRÔNOMA
No tempo livre das atividades parlamentares, atua como produtora rural e cuida do seu laboratório de análise de fertilidade do solo, que criou enquanto fazia mestrado em Ciências Agrárias

Em abril, a senhora apresentou a Indicação Parlamentar (INC) 288, sugerindo ao Ministério da Saúde que tome as medidas necessárias para regulamentar a aviação agrícola como política pública de controle ao mosquito Aedes Aegypti*. Qual foi a sua motivação para isso?

Foi um pedido das entidades da aviação agrícola (Sindag e Ibravag). Não se trata de uma imposição, mas há uma necessidade de aplicações aéreas, principalmente, em lugares precários, claro, respeitando cuidados ambientais e a saúde das pessoas que estão próximas às áreas a serem pulverizadas. A Indicação Parlamentar é uma forma de alertar o Ministério da Saúde para estudar a possibilidade de usar avião agrícola no combate ao Aedes Aegypti. Foi nesse sentido.

(*)A inclusão da aviação agrícola nas estratégias de controle do Aedes Aegypti está amparada na Lei 13.301/2016 e referendada desde setembro de 2019 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), desde que tenha permissão das autoridades sanitárias e ambientais a partir de pesquisas no País, para definir um protocolo de aplicação aérea de produtos contra mosquitos. No entanto, até hoje ainda não foi criado esse protocolo.

Apesar dos métodos usados para combater o Aedes Aegypti no Brasil, o número de dengue segue crescendo. Em 2024, foram registrados mais de 7 milhões de casos de dengue e mais de 6 mil mortes entre confirmadas e em investigação. Será que não seria o momento de unir todas as ferramentas disponíveis, incluindo os aviões e drones agrícolas, para combater o vetor da dengue, Zica e chikungunya?

Sim, porque todas são alternativas e você não precisa fazer um estudo à exaustão de um método para começar a usar e estudar outro sistema de eliminação do mosquito. Por isso, essa proposta de mostrar ao Ministério da Saúde a importância da aviação agrícola para o combate do vetor em algumas regiões, em alguns locais específicos. Em outros locais, talvez tenha que ir com uma bombinha costal. Então tudo serve para poder alinhar a melhor forma de combatermos a evolução dos focos do Aedes Aegypti.

Para a senhora, qual é a dificuldade para o Brasil, detentor da segunda maior frota aeroagrícola do mundo, utilizar a ferramenta, enquanto outros países combatem os vetores de doenças com aplicações aéreas? O que deveria ser feito para as autoridades sanitárias e do Meio Ambiente verem a ferramenta como uma parceira?

Uma das maiores dificuldades é o enfrentamento dessa parte ambiental. Ambientalistas radicais, que começam a criticar e colocar coisas na cabeça das pessoas. A aviação agrícola, hoje, está consolidada mundialmente por conta do aperfeiçoamento da ferramenta, tanto nos quesitos segurança do piloto e qualidade das aeronaves, quanto na aplicação em si. Em via de regra, todos fazem a aplicação correta. Ninguém quer gastar a mais, ninguém quer colocar mais produto, porque sabe que aquilo tem um custo. Então, isso faz com que a pessoa trabalhe na legalidade. Para contrapor à má comunicação feita pelas redes sociais, onde cada indivíduo posta o que quer, precisamos mostrar com dados, com pesquisa, o quanto é importante a aviação agrícola para o agronegócio.

EM FAMÍLIA
Parabéns das advogadas, a mãe, Leila Boldrin, e a irmã Larissa Boldrin, que foram compartilhar conquista de Marussa

Essa necessidade de uma Indicação Parlamentar para o Ministério da Saúde pedindo que algo que já está referendado em lei e já foi solicitado pelo setor, no seu entender, escancara um preconceito contra a aviação agrícola?

A gente vê a falta de interesse do governo em contribuir com o setor. Por isso, eu falo que é fundamental ter a nossa representatividade no Congresso. Senão a gente entra no limbo do esquecimento.

O agro, como a aviação agrícola, é altamente regulamentado no Brasil, mesmo assim, sofre constantes ataques. Ao que a senhora atribui esses ataques sofridos pelo setor?

Foi o que eu falei lá atrás sobre as queimadas. Nos preparamos tanto para poder em  20 anos, 30 anos ter uma qualidade do solo, para depois pôr fogo? É o mesmo que queimar a ponta do meu dedo. Ninguém, que tenha sanidade mental, faz isso. Não podemos, em hipótese alguma, permitir que o agro seja colocado como esse vilão, porque a realidade é completamente diferente.

Por que essas acusações de que o produtor rural estaria colocando fogo nas suas próprias terras não são respondidas no mesmo tom das acusações, ou melhor, com a mesma ênfase?

Não são, porque parece que as pessoas gostam mais da polêmica. As pessoas não querem uma solução. As entidades do agro falaram, só que quem dissemina que o agricultor pôs fogo nas suas terras não repassa a mensagem de uma entidade representativa. A mensagem não chega à sociedade no mesmo equilíbrio.

PRESENÇA
A deputada acompanhou a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que viajou com a comitiva brasileira do agro, organizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), para participar da COP-29, em Baku, no Azerbaijão, e mostrar e dar voz ao agronegócio brasileiro

Na sua visão, o que falta para o agro romper com esse círculo vicioso de constantes ataques que levam o setor a gastar energia e explicar o que já foi explicado em sua defesa? Qual a dificuldade de se fazer entender?

Isso não é falta de otimismo, talvez seja muito pé no chão, mas é difícil conseguirmos eliminar esse tipo de reação. Ao mesmo tempo que a agricultura vai crescendo, vai se capacitando, as dificuldades também aumentam. E tem quem quer que você prospere e tem quem quer que você não prospere simplesmente pelo fato de achar que se você tem, quer tem o que é seu. Se cada um saísse do seu comodismo e fosse trabalhar como trabalha o agricultor, eu tenho certeza que essas pessoas não estariam falando o que falam.

Qual a lição de casa que o agronegócio e a aviação agrícola precisam fazer para terem segurança jurídica e poder crescer?

Eu acredito que a gente vem em uma construção, em uma evolução da pauta. O momento é de buscar o reconhecimento pelo que vem sendo feito, como a quantidade de ações que são trabalhadas no Congresso para dar essa legalidade, essa segurança jurídica que o setor necessita. É muito ruim você trabalhar e receber uma notificação por algo que está fazendo para contribuir com o meio ambiente. Então, é importantíssimo mais ações (refere-se ao PL 3.493/2024), como essa que fiz, e mais deputados, mais representantes, terem essa interlocução. Mas, eu repito, o setor também precisa mostrar a esses representantes como vem fazendo. É importante caminhar junto.

Como pós-graduada em Planejamento Urbano e Ambiental, como é que a senhora vê a realização da COP-30 em Belém do Pará, em 2025? O que o agro tem a apresentar neste fórum em que as questões ambientais são o foco dos debates?

Eu vejo ao mesmo tempo com alegria, por estarmos recebendo um evento climático mundial, e com preocupação por não saber quem será o coordenador geral desse evento. Se vai ser uma pessoa vinculada a uma pauta ambientalista que fala que não se pode produzir na região Norte do País, ou se vai ser uma pessoa, assim como nós, que pensa que produção de alimentos e relação ambiental caminham juntas. É isso que nós precisamos mostrar. A nossa produção da pecuária brasileira é altamente tecnificada, com parâmetros, com rastreabilidade. O que não podemos deixar é que outros países pautem o nosso produto. A sugestão é válida. Agora, obrigar a nós, produtores, que já fizemos todo o processo atendendo a leis ambientais severas e leis trabalhistas mais exigentes ainda. As questões ambientais não são só um compromisso do Brasil, são um compromisso de todo o mundo. Nós não podemos pegar a parte de outro país. Cada um precisa fazer a sua parte.

E para onde caminha o agro no Brasil? A senhora vê o agro cada vez mais tecnificado?

Não só o agro. A gente está vendo aí robôs que estão vindo até para substituir o trabalho humano. E isso já é quase uma realidade também na agricultura, mas precisamos das pessoas para pensar, para operacionalizar, para que use a seu favor a tecnologia disponibilizada.

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