Defensor da natureza e das boas práticas no campo, o engenheiro agrônomo João Alves de Souza Neto ingressou na Franciosi Agro em 2016, como auxiliar ambiental e desde então não parou de se envolver nas questões envolvendo a sustentabilidade do agronegócio. Compromisso alinhado com a proposta do grupo com sede no município de Luís Eduardo Magalhães, no extremo-oeste da Bahia.
Assim, não tardou para que o técnico agropecuário e graduado pela Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB), em 2014, assumisse o departamento que chama de Ambiental/Agronômico-Burocrático, trabalhando com projetos de custeio, investimento agrícola, boas práticas agrícolas e gestão ambiental.
Responsável por atender a legislação e regramento exigido pelos órgãos e entidades setoriais, João Neto destaca que a Franciosi Agro introjetou em seu processo produtivo as diretrizes ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança). Tanto que a Irmãos Franciosi, como o grupo se chamava na época que apareceu na lista das 100 maiores do agronegócio brasileiro da Forbes de 2019, adquiriu uma frota de oito aeronaves para atender a demanda de suas seis fazendas que utilizam aplicação aérea. A ideia é garantir maior produtividade, com menor impacto na natureza do que outras ferramentas de aplicação. Conforme João Neto, a opção por frota própria está diretamente ligada à praticidade de contar com aeronaves na melhor janela de operação.
O senhor se formou em engenharia agronômica em 2014. O que mudou nas lavouras nesses últimos dez anos?
O avanço da tecnologia é o marco principal dos últimos dez anos. As tecnologias aplicadas à agricultura tiveram uma evolução muito grande, principalmente a embarcada nos maquinários e de aplicação. Tivemos também um avanço muito grande na biotecnologia usada nas sementes e defensivos contra pragas e doenças, inclusive os agroquímicos foram aperfeiçoados. Também inovamos muito em relação à preservação, conservação e fertilidade do solo. Os processos organizacionais dentro das empresas foram profissionalizados. E a visão de sustentabilidade junto à produção e à conservação do meio ambiente ganhou um impulso significativo. Para mim, essas foram as principais mudanças.
E essa mudança de cultura dentro das fazendas também atingiu a área de recursos humanos?
Sim. O departamento de recursos humanos de uma fazenda também busca pessoas mais capacitadas, com uma visão de mundo mais abrangente. Existe hoje gestão de pessoas, avaliações de desempenho, plano de desenvolvimento individual dos trabalhadores. E o plano de carreira, dentro das empresas, inclusive aqui na Franciosi, está muito bem estabelecido.
E a questão ambiental como é que se dá dentro das fazendas? Há um investimento maior do que a legislação pede?
Há uma estrutura montada dentro do grupo voltada às questões ambientais, com uma gestora advogada e três agrônomos – eu e duas agrônomas. Nós, juntamente com os profissionais das fazendas, temos a missão de promover ações na área da sustentabilidade ambiental. Nós buscamos, além do atendimento à legislação, selos e certificações, tanto na cultura do algodão, nas unidades de beneficiamento de algodão (algodoeiras), como da soja.

O plantio de algodão irrigado ocupa a mesma área da soja, que é colhida em janeiro
O senhor tem dado entrevistas destacando a importância do respeito à natureza para a agricultura e que o grupo Franciosi Agro tem usado a tecnologia da irrigação sustentável para garantir a manutenção do crescimento vertical da produção. Como funciona esse projeto na prática?
Nós chamamos de crescimento vertical conseguir uma produção maior no mesmo tamanho de área. E nós temos know-how para fazer uma irrigação de complementação. – Como funciona isso? Irrigamos uma maior área com o menor consumo de água, o que nós chamamos de lâmina. Enquanto os pivôs* de 100 hectares fazem uma lâmina de 8 milímetros ou 7,8 milímetros, o grupo Franciosi usa uma lâmina de 4 ou 4,5 milímetros. Então, irrigamos praticamente o dobro de área com a mesma quantidade de água. A Fazenda Santa Isabel possui a maior área de terra irrigada neste sistema.
*Pivô, em resumo, é um sistema mecânico que permite irrigar grandes áreas de cultivo, por meio de um sistema rotativo, que distribui água de maneira uniforme e controlada, proporcionando eficiência hídrica e facilidade de operação para os agricultores.
E sustenta a planta?
Sustenta. Na soja, nós precisamos irrigar o solo agora para o plantio. Porém, em outubro já começa a chover, então não há mais a necessidade de continuar irrigando. O objetivo do pivô é você fazer duas safras no mesmo ano agrícola (o ano agrícola começa em 1º de agosto e se encerra em 31 de julho). A soja é plantada no final de setembro e colhida em janeiro. A mesma área é usada para o algodão, que tem um ciclo de 180 dias, ocupando a terra de janeiro a julho/agosto. O período que a planta precisa de mais água corresponde às chuvas na Bahia. Nos 90 dias restantes antes da colheita, a exigência de água é menor. Nesse período, a irrigação de complementação é suficiente. Por isso, que o algodão deu muito certo no cerrado brasileiro, principalmente no Oeste da Bahia.
E como a aviação entra nessa equação produtividade e preservação do meio ambiente?
Em uma agricultura de larga escala, como a praticada no grupo Franciosi Agro, é de suma importância o uso da aplicação aérea. Imagina: um avião faz o trabalho de quatro, cinco pulverizadores terrestres. Ainda, quando você utiliza esse avião, você evita o amassamento da lavoura e a contaminação por patógenos, que são levados de uma plantação para a outra nas rodas do trator. Falando só desse amassamento de lavoura, nós falamos, aí, de uma perda correspondente a cerca de 5% da produtividade. Quanto à sustentabilidade ambiental, o avião também causa menor impacto. A aplicação aérea utiliza 10 litros de água por hectare. Um trator utiliza de 60 a 90 litros de água por hectare. É drástica a economia de água quando se utiliza a aplicação aérea. Então, com as aplicações aéreas nós temos aumento de produtividade, diminuição do consumo de água e redução da transmissão de patógenos de uma área para outra.

A história do grupo Franciosi Agro, começou em 1986 com os irmãos João Antônio Franciosi, Ubiratan Francisco Franciosi e Romeu Franciosi
Quando o senhor fala em prejuízo de 5% por hectare, quanto isso representa de perda em dinheiro?
Eu fiz uma conta aqui. Uma fazenda de 10 mil hectares como a Santana, aqui do grupo, se você perde cinco sacos de soja por hectare, no total o prejuízo é de 50 mil sacos. Transformando isso em dinheiro, hoje, cotei barato ainda (a entrevista ocorreu no dia 24/09/2024), com cada saco de soja custando uma média de R$ 120, isso dá R$ 6 milhões, a cada 10 mil hectares por safra. Outro ponto importante também é que, com o avião, você consegue diminuir a propagação de pragas e doenças, porque pode entrar na lavoura logo após uma chuva. O trator não. O trator vai atolar.
E desde quando a Franciosi usa avião agrícola no manejo das lavouras?
A Franciosi começou a usar aplicação aérea nos anos de 1998/1999, contratando serviço de terceiros. No início da década de 2000, adquiriu um Ipanema para atender a demanda das suas fazendas. Atualmente, são oito Air Tractor, devido a capacidade maior da aeronave, tendo em vista a agricultura de larga escala do grupo. Para se ter uma ideia, hoje a produtividade da soja está acima de 80 sacos por hectare e a do algodão irrigado*, na casa das 400 arrobas por hectare.
*Nas duas últimas safras, a Franciosi Agro plantou somente algodão irrigado, permitindo assim fazer duas safras – uma de soja e uma de algodão – no mesmo ano agrícola.
Por que optaram por trabalhar com aviões próprios e como funciona esse departamento da aviação agrícola dentro da organização?
As primeiras questões para optar pelo uso de aeronaves agrícolas próprias é o custo, a qualidade e a praticidade para utilizar sempre que necessário. Nossa equipe conta com piloto gestor, que se reporta à diretoria e faz todo o planejamento de safra, o gerenciamento dos demais pilotos – contando com ele, oito no total – nas fazendas, bem como das operações e da manutenção da frota.
A Franciosi Agro usa drones?
Usamos drones para georreferenciamento, por meio da contratação de consultorias terceirizadas.
O avião agrícola entra quando em operação? Ele entra desde as primeiras aplicações, ou vocês têm algumas aplicações com terrestre?
O avião entra desde a adubação e a cobertura de solo, que é uma prática conservacionista. Hoje, nós lançamos também as sementes e, após o plantio, ele é utilizado nas primeiras aplicações de inseticida e fungicida preventivas, que é o que previne a propagação de pragas e doenças. O terrestre é usado na aplicação do herbicida e onde os distanciamentos não é permitido que seja feito por avião (500 metros de áreas povoadas e 250 metros de reservas e mananciais). Embora tenham algumas demandas em que o produto que combate as ervas daninhas possa ser aplicado por via aérea, o grupo faz 100% da aplicação de herbicidas com maquinário terrestre.
Em função dos eventos climáticos extremos, as janelas de aplicação têm reduzido bastante. O avião também entra nesse caso como um facilitador?
Com certeza. Nessa mesma questão que eu falei, se tiver três, quatro dias chuvosos, aqui, pode chegar até dez, 15 dias seguidos, o avião entra logo após uma chuva. O trator precisa esperar secar o solo. Ainda, com a agricultura em larga escala, com o avião fazendo um maior número de área, previne o que nós chamamos de pragas e doenças no estágio preventivo, e não só a aplicação corretiva. Principalmente, no caso das doenças causadas por fungos. Isto porque o cenário perfeito para essas pragas, agronomicamente falando, é umidade e temperatura alta. Então, se o solo estiver molhado e eu não conseguir entrar, a praga avança sobre a lavoura. No entanto, com o avião, eu consigo aplicar o fungicida, evitando que a doença se alastre.

O uso do avião agrícola reduz em mais de R$ 6 milhões o prejuízo com amassamento em uma fazenda de 10 mil hectares de soja
E qual é o principal predicado quando a empresa contrata um piloto e demais funcionários para as operações, tendo em vista esses compromissos cada vez maiores do agronegócio com a sustentabilidade?
Nós buscamos comprometimento, conhecimento técnico e adequação às regras da empresa, principalmente nessas questões de sustentabilidade e proteção ao meio ambiente. Além disso, conhecimento e disciplina para atender as legislações e as regras da empresa são importantes.
E essa equipe voltada à aviação agrícola é completa?
Sim. Temos os pilotos, mecânicos, assistentes de mecânicos, coordenador de aplicação, técnicos executores. E todos fazem todos os treinamentos necessários visando à segurança operacional. Todos os anos, os pilotos fazem o treinamento no simulador de voo da Air Tractor. Temos ainda de dois a três técnicos executores em cada fazenda, para que a atividade deles nunca fique a descoberto em caso de férias ou doença. Nós respeitamos todas as legislações, nós temos uma consultoria que nos dá assessoria só para a aplicação aérea, porque nós temos que fazer os relatórios de aplicação e mandar os relatórios mensais até o dia 15 do mês subsequente para o Ministério da Agricultura. Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Em que entidades setoriais, como Sindag e Ibravag, deveriam centrar sua ação quando se trata em melhoria de capacitação dos profissionais envolvidos com aplicações aéreas?
Conversando, até com o piloto gestor, nós consideramos que as duas entidades fazem um bom trabalho em relação à capacitação. Nossa equipe de pilotos acompanha a movimentação das duas entidades. Hoje, a aplicação aérea está muito tecnificada, todos os operadores e os agricultores precisam conhecer essa legislação que é específica para o setor e se manter atualizados.
A Franciosi Agro possui uma área piloto para testes tecnológicos, em relação à melhoria na aplicação ou de cultivares?
Não temos uma área específica. No entanto, nós temos parcerias com empresas multinacionais, empresas de aplicações, com consultorias, inclusive com áreas de teste próprias, para diferentes experimentos em busca de novas tecnologias. Assim, dependendo das características do estudo, é definida uma área dentro das fazendas do grupo para a testagem.
E como é que a Franciosi Agro vê os projetos proibindo o uso da ferramenta baseada em argumentos que não condizem com a realidade?
Já houve conversas de proibição aqui na Bahia. E o grupo, eu penso até que todos que utilizam a aplicação aérea, quer deixar um recado. O grupo Franciosi Agro está adequado à legislação, faz a mais do que a legislação pede, busca selos de qualidade e de sustentabilidade. O agro produz em larga escala para garantir a segurança alimentar e que o fato de usar o avião como uma ferramenta de aplicação não agride mais ou menos o meio ambiente. Pelo contrário, ele traz uma eficiência maior, uma maior produtividade, um menor consumo de água, além de ser operado por pessoas qualificadas e tecnificadas para atender à legislação, trazendo maior proteção para o meio ambiente. É a visão de quem usa e está em campo vendo as aplicações aéreas e sabe que elas são eficientes e seguras. Somos contrários à proibição da ferramenta.
Na sua avaliação, até onde esses ataques ao agro e à aviação agrícola prejudicam o crescimento do setor?
Imagina o investimento. Para um grupo com oito aeronaves, como o Franciosi Agro, a proibição da ferramenta acatará uma perda de produtividade na casa dos 5% somente em amassamento, como falamos antes, fora as outras variáveis do campo, como agilidade no combate às pragas e doenças. Vamos gerar uma insegurança alimentar, uma insegurança no crescimento vertical, porque se você quiser compensar esses 5% de produção perdida, teoricamente, você precisa abrir mais 5% de área, o que causaria maior impacto ambiental, além da compactação do solo.
E qual o caminho, que o senhor vê quando se fala em romper com esse ciclo de ataques ao agro e à aviação agrícola?
É o que estamos fazendo aqui, passando informação, que também pode ser transmitida em cursos, palestras. Seria interessante que essas pessoas que estão fazendo ataques ao agro abram sua mente para conversar, para entender como o campo funciona. Eu não sei se soa agressivo, mas precisam entender que vaca não dá leite, você tem que ir lá tirar. Isso quer dizer: há todo um estudo, toda uma preparação para manejar as lavouras sem prejuízo do meio ambiente para que ela continue nos proporcionando o alimento seguro.