
Agadir Jhonatan Mossmann
O engenheiro agrônomo, mestre em Engenharia Agrícola pela UFGD, coordenador em aviação agrícola é gestor em segurança operacional e ambiental, além de atuar como instrutor na Academia de Segurança de Voo (Sindag) e no Curso de Atualização de Pilotos (Ibravag).
Robótica autônoma, inteligência artificial, biotecnologias, edição genética. Esses são alguns exemplos que mostram como a tecnologia tornou-se vital para que a agricultura consiga abastecer a cadeia mundial de alimentos e insumos. Nesse cenário, a aviação agrícola emerge como um recurso indispensável na busca por eficiência e sustentabilidade. Por isso, damos ênfase, aqui, às inovações e aplicações que vêm se destacando no setor.
Muito além da pulverização de grandes extensões, a aviação agrícola expandiu suas funções significativamente. Hoje, não se limita apenas aos usos tradicionais como aplicação, povoamento de águas e combate a incêndios, mas também desempenha um papel fundamental no monitoramento de culturas em tempo real, no controle integrado de pragas, mapeamento agrícola e monitoramento ambiental, revelando-se como uma atividade dinâmica e adaptável, qualidades indispensáveis diante das constantes transformações provocadas pela evolução tecnológica.
Cuidar de uma lavoura requer que seus gestores tomem decisões constantes em busca da maior produtividade possível. Porém, a sua eficiência depende da qualidade e da quantidade de informações disponíveis sobre o cultivo. É nesse ponto que se encontra o “monitoramento em tempo real”. Trata-se de um conjunto de práticas capazes de fornecer dados sobre o estado da lavoura, permitindo intervenções mais precisas conforme a necessidade do cultivo.
A aviação agrícola é uma das principais ferramentas no monitoramento de lavouras em tempo real. Principalmente, por meio de drones (Veículos Autônomos não Tripulados – VANTs) é possível coletar imagens de altíssima resolução, feitas a poucos centímetros da lavoura, capazes de fornecer informações variadas como estresse hídrico, surgimento de pragas e doenças, deficiência de nutrientes, condições de solo e outros fatores-chaves para a saúde das plantas. Além disso, como a operação possui um custo relativamente baixo e cobre grandes extensões, pode ser realizada com maior frequência, mantendo-se os dados sobre as lavouras atualizados, permitindo que o agricultor responda mais rapidamente a problemas emergentes.
Outra área que a aviação agrícola tem atuado é no manejo integrado de pragas. Esse é o nome dado à abordagem holística que integra diversas estratégias para o controle de agentes danosos às lavouras. Ela busca envolver o maior número possível de fatores que impactam na presença e dispersão de pragas, bem como na resiliência da lavoura, como por exemplo: condições do solo, área de cultivo, escolha do tipo de lavoura e da qualidade do material de propagação, rotação de culturas entre outros. Assim, busca fazer o controle, garantindo o equilíbrio ecológico e a sustentabilidade a longo prazo.
A aviação agrícola integra-se a essa abordagem, não apenas com a coleta de informações necessárias para o manejo, mas, principalmente, atuando no controle direto de pragas, evitando sua dispersão quando já está presente. As técnicas de controle aeroagrícolas, através de aplicação de defensivos químicos e biológicos, permitem uma resposta rápida e localizada, salvando as áreas de plantio já contaminadas e impedindo que outras também sejam expostas à praga. Além disso, devido a sua eficiência a quantidade de insumos fitossanitários aplicados tende a ser reduzida, desacelerando o desenvolvimento de resistência das pragas.
Porém, nenhum desses usos seria possível sem o mapeamento agrícola. Usando tecnologias de sensoriamento remoto, os agricultores podem criar mapas detalhados das suas propriedades, identificando relevo, distribuição de culturas, tipos de solo, entre outros. O mapeamento permite ações e planejamento estratégico ao conceder informações precisas. Trata-se de uma peça fundamental tanto para o monitoramento em tempo real, quanto para o manejo integrado de pragas.

Uma das principais técnicas para o mapeamento agrícola é por meio da utilização de aeronaves equipadas com câmeras multiespectrais e sistemas de mapeamento como o GPS. Elas fazem sobrevoos percorrendo a extensão da propriedade e capturando as informações que posteriormente serão tratadas para a modelagem de mapas detalhados que servirão de base para decisões estratégicas, contribuindo, assim, para maior produtividade da terra.
Outro emprego atual da aviação agrícola, e de grande importância para a sociedade em geral, é o monitoramento ambiental. Ele extrapola os limites da lavoura e preocupações com produtividade e engloba a capacidade das entidades competentes em manter dados atualizados sobre as condições do meio ambiente, com o objetivo de minimizar e evitar crises, catástrofes e desastres em áreas rurais e naturais.
O monitoramento ambiental é feito através da coleta sistemática de informações sobre diversos parâmetros como qualidade do ar, qualidade da água, biodiversidade, emissões de poluentes e mudanças climáticas. É nesse ponto que a aviação agrícola lança-se ao voo novamente, como forte aliada para a obtenção de dados.
Para esta finalidade, os drones são os principais requisitados em pesquisas acadêmicas realizadas pelas principais universidades do País, com exemplos em áreas florestais na Amazônia (UEA) e em Campinas/SP (Unicamp); de manguezais no Rio de Janeiro (UERJ) e ainda de fenologia pelo instituto e-Phenology que une pesquisadores da Unesp de Rio Claro, Unicamp e Fapesp, com financiamento da Microsoft Research Foundation e que já publicaram diversos trabalhos sobre o assunto.
Tudo isso, deixa nítido como a aviação agrícola continua se adaptando e se tornando ainda mais indispensável neste novo cenário de crescentes inovações tecnológicas no campo. Pode-se dizer também que o setor aeroagrícola, além de fornecer ferramentas estratégicas para a gestão das lavouras, está alinhado às atuais perspectivas do mundo, contribuindo com as necessidades de preservação ambiental e ajudando a moldar o futuro da agricultura, tornando-a mais eficiente e sustentável.