Júlio Augusto Kämpf
Presidente do Ibravag
É revoltante ver pessoas morrendo de dengue no Brasil em pleno 2024. Nos primeiros 75 dias do ano, o Aedes aegypti fez mais de 1,6 milhão de vítimas, precisamente, 1.657.814 pessoas contraíram dengue e, destas, 491 morreram. Há outros 889 óbitos suspeitos de terem sido causados pela doença, somando possíveis 1.380 mortes na conta do Aedes aegypti. Os dados, atualizados até 14 de março e que podem ser acessados no Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde, levam a uma indagação: até quando o preconceito contra a aviação agrícola vai deixar a população brasileira vulnerável a um inseto.
O setor aeroagrícola está preparado para combater vetores, tem conhecimento e tecnologia de ponta para fazer aplicações seguras. Inclusive, já está provada a eficiência da ferramenta justamente no controle do mosquito. Em 1975, na Baixada Santista, para colocar fim ao surto de encefalite causado por mosquito, dois aviões agrícolas – um da Embraer e outro do Ministério da Agricultura – aplicaram inseticidas de fumacês nos municípios de Itanhaém, Peruíbe e Mongaguá.
Apesar do êxito da experiência no Litoral do Estado de São Paulo há quase 50 anos e a legislação vigente contemplar o uso da aviação no combate a vetores, nada tem avançado. O setor vem batendo à porta de autoridades da Saúde e do Meio Ambiente em busca da realização de pesquisas para gerar um protocolo para controle de vetores com o uso de aviões agrícolas. Exigência, essa, da Lei Federal 13.301/2016, que dispõe sobre as medidas de vigilância em saúde contra os mosquitos transmissores da Dengue, Chikungunya e Zika, ratificada em 2019 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). No entanto, as autoridades brasileiras parecem não ter interesse em discutir possibilidades de apoio para solucionar a epidemia que estamos vivendo no País.
Vale lembrar que aviões e helicópteros integram a lista de ferramentas amplamente utilizadas contra mosquitos nos Estados Unidos, inclusive preventivamente. Isso ocorre também na América Central, Europa e Oriente Médio. A pergunta é: todos eles estão errados?
A situação é muito grave. A Organização Mundial da Saúde (OMS) autoriza vários saneantes adulticidas, com formulação apropriada para aviões. Somente esta aprovação de produtos pela OMS já demonstra que o avião pode e é eficiente no controle de vetores. Está na hora das autoridades colocarem a mão na consciência e passarem a discutir como implantar a inclusão das ferramentas de aplicação aérea nas políticas públicas de combate a vetores. A proposta precisa parar de vagar por gabinetes e deve ser discutida dentro dos princípios científicos e conclusivos.
É preciso ter humildade para reconhecer que práticas adotadas até então precisam ser complementadas. Se os métodos utilizados no Brasil nos últimos 20, 30 anos não estão conseguindo controlar o vetor, há algo inadequado nessa abordagem, pois a dengue só aumenta. Está na hora das autoridades despirem-se de preconceitos e unirem forças no combate ao transmissor da doença.
Não há mais tempo para soluções paliativas. Nossos hospitais estão sobrecarregados. Muitas mortes poderiam estar sendo evitadas. O problema do mosquito da dengue requer um trabalho compartilhado, desde os cuidados domiciliares para evitar a proliferação do inseto, passando pelas várias tecnologias, incluindo aplicação aérea de saneantes e larvicidas biológicos. E isso requer investimento tanto na prevenção e, agora, mais que nunca, no controle da epidemia.
A reivindicação da aviação agrícola para apoiar no combate aos mosquitos no Brasil é antiga e recorrente. Desde 2004, estamos fazendo proposições ao Ministério da Saúde, entretanto até hoje pouco evoluímos.
Aproveito para dar, novamente, destaque à edição nº 5, de dezembro de 2019, da nossa Revista AvAg (acesse pelo QR Code), que foi dedicada a esta temática. É constitucional salvar vidas, estimular e desenvolver a pesquisa. É imprescindível buscar novas alternativas no combate aos mosquitos. A aviação agrícola está inteiramente disponível para ajudar.