
Júlio Augusto Kämpf
Presidente do Ibravag
O alto número de acidentes envolvendo aviões agrícolas no Brasil disparou o alarme, deixando evidente a necessidade urgente de rever e reforçar os protocolos de segurança. A gravidade do tema escancarou-se violentamente nos últimos meses. As grandes perguntas são: o que leva a esse alto índice de acidentes? O que os dados do Painel Sipaer (Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), desenvolvido pelo Centro de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), refletem? Qual é a nossa responsabilidade frente a este trágico cenário?
Somos obrigados a reverter esse cenário. Isso, com certeza, vai exigir mudanças efetivas com foco na segurança de voo, a partir da implantação de processos e, consequentemente, da manutenção do tema em destaque no dia a dia das organizações. Precisamos tratar esse assunto com a seriedade que ele exige.
Vale lembrar que o Painel Sipaer de 1º de janeiro/2015 a 28 fevereiro/2025 aponta que a causa da maioria dos acidentes envolvendo aeronaves de todos os tipos de operação está ligada a fator humano. Trazendo o dado para o nosso meio, é um bom começo para uma reflexão mais rigorosa sobre o papel dos pilotos e operadores da nossa categoria na prevenção e na qualidade dos nossos protocolos de segurança.
Acreditamos que para reverter esses números, precisamos investir no treinamento contínuo e atualização dos conteúdos de segurança de nossos pilotos. O Ibravag organizou o Curso de Atualização dos Pilotos Agrícolas, que aborda segurança de voo e operacional, entre outros temas. Também está criando o curso de formação de piloto agrícola voltado à parte teórica, com o objetivo de aprofundar temas para melhorar a especialização dos pilotos.
Mais que o aprendizado técnico, tanto o curso de atualização de pilotos, quanto o de formação, têm em seu escopo projeto de vida, conscientização e comportamento. É o momento que os pilotos param para pensar, refletir e rever conceitos operacionais. Cabe aos empresários do setor motivarem seus pilotos a fazerem os cursos de atualização. Esperamos que a adesão cresça, porque entendemos que quanto mais preparados nossos profissionais estiverem, menos acidentes teremos na aviação agrícola.
A atual conjuntura nos remete à necessidade de focarmos nos aspectos humanos e na elaboração de um manual de segurança de voo construído pelos próprios operadores e pilotos. Com isso, teremos um conjunto de procedimentos de segurança de voo viáveis dentro da prática diária no campo, facilitando aos envolvidos no processo – empresários, fazendeiros e pilotos – criarem seus métodos de segurança. É um dever de todos nós contribuir para mudar esse triste cenário. Temos que abraçar o desafio de chegar à marca de acidente zero.