O maior investimento na história da aviação agrícola já realizado no País, para o desenvolvimento de ações focadas na melhoria dos processos administrativos, imprimindo a cultura do empreendedorismo, aprimoramento da segurança operacional, avaliação de tendências e implementação de novas tecnologias, sai do papel. O programa Boas Práticas Aeroagrícola (BPA) Brasil é resultado da parceria entre o Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional) e prevê o aporte de R$ 3, 4 milhões. A iniciativa com duração de 18 meses representa um marco na cadeia produtiva do setor, que tem como característica estar na vanguarda das soluções para o agronegócio brasileiro. Uma das principais entregas será o Manual de Boas Práticas Aeroagrícolas, base da certificação das empresas que aderirem ao BPA.
O diretor-presidente do Ibravag, Júlio Augusto Kämpf, classificou o programa, que conta com apoio do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), como uma mudança cultural no setor, respaldada na educação, comunicação e inovação tecnológica, os três pilares que são o alicerce do Instituto. O dirigente explica que o BPA lança um olhar sobre as micros e pequenas empresas aeroagrícolas, foco da entidade de fomento, auxiliando essas organizações inclusive na gestão financeira. Proposta, que no seu entender, elevará o setor a um patamar superior de negócios, mostrando que os operadores comerciais e privados estão bem estruturados e comprometidos com a sustentabilidade do planeta.
O presidente do Sebrae, Carlos Melles, reforça que a iniciativa especificamente para a aviação agrícola é inovadora. “É a primeira abordagem setorial do segmento pelo Sebrae, o que nos traz enorme responsabilidade na sua execução, para gerar a transformação junto aos pequenos negócios do setor”, destaca. Para ele, é o começo de um esforço que não cabe só às entidades e empresários envolvidos no programa Boas Práticas Aeroagrícolas. O gestor acredita que se todos se conscientizarem que podem fazer melhor e com maior qualidade e padrão, “certamente a aviação agrícola brasileira será modelo para o mundo”.
Investimento na competitividade
O convênio alinhavado pelo presidente do Ibravag, Júlio Augusto Kämpf, e pelo diretor-presidente do Sebrae, Carlos Melles, foi assinado em fevereiro, e o BPA Brasil foi apresentado no dia 10 de março, durante a Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque/RS. A escolha pela divulgação dentro do Pavilhão Internacional de uma das mais significativas feiras do agro no País está diretamente ligada à importância do projeto, que abrangerá os 24 Estados, onde a aviação agrícola atua. O diretor-executivo do Ibravag, Gabriel Colle, na ocasião, destacou a grandeza do setor, que reúne a segunda maior frota aeroagrícola do mundo, com 2.432 aeronaves – dados de dezembro de 2021, empregando direta e indiretamente cerca de 50 mil pessoas.
O coordenador de Projetos do Ibravag, Rodrigo Almeida, ao falar sobre a abrangência do projeto explicou que o setor soma hoje 291 empresas, sendo 80% micros e pequenas. A ideia é envolver em torno de um terço delas, ou seja, 80 empresas. As ações alicerçadas em nove pilares compreendem Gestão empresarial, Governança e Compliance, Foco no Cliente, Pessoas, Processos, Tecnologia de Aplicação, Sustentabilidade, Segurança Operacional, Novas Tecnologias e Inovação (veja na página 13). Tudo isso, com a intenção de qualificação e reciclagem do pessoal da administração a técnicos, como engenheiros agrônomos, pilotos, mecânicos, técnicos agrícolas, ajudantes de pista. “A proposta é uma mudança cultural nas organizações, que venha de dentro para fora”, observa Almeida.
O vice-presidente da Cotrijal, Enio Schroeder, esteve presente na apresentação do projeto e ressaltou que os temas abordados no BPA vão ao encontro dos objetivos da Expodireto. Lembrou que há muitos anos já se fala na boa tecnologia da aviação agrícola e que a ferramenta será a grande solução para as lavouras que precisam fazer várias aplicações: “com esse modelo, vamos economizar muito em produto quanto em tempo e amassamento”. Entusiasmado com o projeto do Ibravag e Sebrae, concluiu: “então, nada mais adequado do que esta apresentação ter ocorrido no Pavilhão internacional da feira.”
Encontro on-line marcou a abertura das inscrições
Para viabilizar o programa Boas Práticas Aeroagrícolas (BPA) orçado em R$ 3,4 milhões, o Sebrae Nacional garantiu o aporte de 70% do total, ou seja, R$ 2,4 milhões. O Ibravag entrará com os 30% restantes. Recurso que está buscando junto a entidades e empresas parceiras. Ainda, cada empresa que aderir ao projeto investirá R$ 13,8 mil a título de participação. De acordo com o diretor Operacional do Sindag e consultor Sênior do BPA Brasil, responsável pela Metodologia de Gestão das Capacitações e Mentorias, Cláudio Júnior Oliveira, a contrapartida das empresas participantes é natural em projetos desta magnitude. “Mesmo assim, um investimento simbólico, se considerarmos apenas o trabalho de diagnóstico e o alto nível da mentoria e do treinamento que será oferecido às empresas.”
As inscrições abriram no dia 21 de março e estão limitadas a 80 vagas. O valor pode ser pago em até quatro parcelas de R$ 3.450,00. No entanto, quem se inscrever até 30 de abril e quitar a inscrição à vista, via pix, terá 10% de desconto (passa para R$ 12.420,00). Mas o coordenador de Projetos do Ibravag, Rodrigo Almeida, orienta: “é bom lembrar que são apenas 80 vagas para as 291 micros, pequenas e médias empresas aeroagrícolas do País”.
Programa antecipa demandas do mercado e da sociedade
“O programa Boas Práticas Aeroagrícolas (BPA) Brasil é a reunião de esforços institucionais e de profissionais em busca do aprimoramento nacional para o setor.” A fala do diretor Operacional do Sindag e consultor Sênior do Programa, responsável pela Metodologia de Gestão das Capacitações e Mentorias, Cláudio Júnior Oliveira, reflete a confiança de que o setor pode oferecer muito mais por meio de investimentos como este. Ele destaca que a iniciativa antecipa as necessidades do mundo de alimentos nos próximos anos, como milho, trigo, soja, banana, laranja e café, e de produtos como roupas, que são produzidas a partir do algodão e etanol, este tendo como base a cana-de-açúcar, que por serem culturas altas são dependentes da tecnologia de aplicação aérea. Por isso, o crescimento da demanda e as incertezas da economia mundial trazem consigo a necessidade de maior profissionalismo na gestão para atender a produtividade necessária, por meio da sustentabilidade.
Oliveira entende que a pressão que existe na economia mundial exige empresas com gestão avançada, principalmente porque a flutuação cambial, a inflação, assim como o preço dos combustíveis afetam diretamente a gestão financeira das organizações exigindo uma alta velocidade de adaptação na gestão dos negócios aeroagrícolas. Tudo isso, em um segmento de mercado tão importante para garantir a segurança alimentar, quando noticiários já remetem à falta de alimento no mundo. “O Brasil é um dos três maiores produtores e exportadores de alimentos do planeta e, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), precisará contribuir com 40% desse objetivo de dobrar a produção”, aponta o consultor Sênior do projeto. Aí entra a importância da tecnologia para garantir maior produtividade sem a necessidade de ampliar demasiadamente a área de terra plantada. Lembra que a sustentabilidade de um negócio envolve a visão econômica, ambiental e o social. Temas que fazem parte do alicerce do projeto.
METODOLOGIA
O BPA trabalhará nove pilares: Gestão Empresarial, Governança e Compliance, Foco no Cliente, Pessoas, Processos, Tecnologia de Aplicação, Sustentabilidade, Segurança Operacional e Novas Tecnologias. A ideia é que em 18 meses, as empresas recebam capacitações e mentorias, com o propósito de desfazer os gaps apontados nos diagnósticos, que ao todo serão três: inicial, no meio do projeto e no final. Independente do porte da empresa, o diagnóstico vai trazer os pontos fracos a serem trabalhados.
Ainda, a partir do diagnóstico e avaliações, será desenvolvida uma pesquisa sobre como está a gestão das empresas Aeroagrícolas no país. Também está prevista uma outra pesquisa sobre o mercado de atuação do setor, como as regiões do país onde opera, culturas atendidas pela ferramenta, possibilidade de novos mercados, áreas onde a concorrência é maior e onde é menor. Uma espécie de raio-X do setor no Brasil. Isso, sem falar na disponibilização de ferramentas para gestão e divulgação de produtos e serviços, com a criação de uma plataforma que poderá ser acessada pelas empresas que aderirem ao projeto, onde terão clientes e fornecedores.
ENTREGAS
Além de todo o processo, as empresas que participarem do BPA terão acesso aos manuais de boas práticas em gestão. A lista tem ainda a participação em rodadas de negócios e um TalkSite (site de divulgação de produtos e serviços com sistema de videoconferência para negócios on-line), hospedado no portal do projeto por 18 meses. Em uma segunda etapa do programa, que ainda não tem previsão para acontecer, o participante que atingir a meta em cada pilar receberá ainda o Certificado de Boas Práticas Aeroagrícolas.
Conheça o processo BPA
Pilar 1 – Gestão empresarial
Após a empresa fazer a inscrição será realizado um diagnóstico da gestão sistêmica da organização, para identificar os pontos que carecem de maior atenção. Não importa o porte da empresa, ou o avanço nos seus processos de gestão, o que importa nessa fase é a fidelidade das informações para que o diagnóstico seja efetivo.
Neste pilar, será trabalhado o planejamento estratégico da empresa analisando o negócio como um todo, conectando-o com a construção de um processo orçamentário preciso para que os projetos tanto de melhoria quanto de inovação sejam realizados, trazendo um resultado eficaz para toda a organização.
Gestão Financeira será um dos temas deste pilar, visto que a formação do preço de vendas, controle do caixa e outros assuntos são fatores fundamentais para a perenidade de um negócio.
Pilar 2 – Governança e compliance
Neste pilar, serão trabalhados os critérios de governança, conforme a estrutura da empresa. Trata-se da transparência em relação ao cumprimento das leis, regras, assim como a prestação de contas do negócio. O item compreende ainda todas as documentações para se trabalhar em nível federal, estadual e municipal.
Pilar 3 – Foco no cliente
Se o problema identificado no diagnóstico da empresa for o mercado, este pilar será fundamental. Neste pilar, será observado se a empresa possui um cadastro completo de clientes, um sistema de monitoramento das vendas, pós-venda, contratos estabelecidos e o modelo de negociação adequado para cada cliente.
Pilar 4 – Processo
Quantos setores a sua empresa possui? Qual a responsabilidade de cada setor? Quais são as funções de cada profissional da sua empresa? Quais são os indicadores que você possui para acompanhar os processos do seu negócio? Qual o organograma do seu negócio? A gestão de processos pode aliviar a pressão na gestão de pessoas de uma empresa, pois o seu papel é de definir quem faz o que na sua empresa, a responsabilidade de cada profissional e, principalmente, onde está a conexão entre as áreas, para que o processo de comunicação flua facilmente, contribuindo com a produtividade do negócio.
Pilar 5 – Pessoas
Liderança, melhoria da satisfação interna dos profissionais, ações efetivas de engajamento são temas abordados no pilar Pessoas. A ideia é promover ações em gestão de pessoas, auxiliando no engajamento da equipe e com as diretrizes da empresa. Também será trabalhada a questão do futuro da organização, incluindo a preparação para a sucessão empresarial
Pilar 6 – Tecnologia de aplicação
As empresas que identificarem que a área de tecnologia de aplicação merece atenção especial, o BPA oferecerá mentorias específicas com foco na revisão de conceitos em tecnologia de aplicação e nas soluções inovadoras propostas pela pesquisa.
A empresa que entrar no BPA, recebendo capacitações e mentorias específicas, se destacará no mercado por apresentar um processo evolutivo desde a gestão administrativa até a tecnologia de aplicação.
Entre as entregas nesse quesito, encontram-se as melhorias necessárias na tecnologia de aplicação; a documentação necessária para atividade no local de aplicação; atualizações de conhecimento (períodos determinados); garantir a aplicação aérea seguindo a Instrução Normativa (IN) 02/2008 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Pilar 7 – Sustentabilidade
O foco aqui é implementar as ações do Pacto Global da ONU, do qual o Sindag já é signatário. A ideia é que as empresas, principalmente aquelas que ainda não implantaram nenhuma ação específica em relação aos 17 pilares de sustentabilidade do Pacto Global da ONU, adotem as práticas sugeridas. A adesão ao Pacto Global da ONU dá visibilidade positiva ao setor aeroagrícola, fortalecendo-o frente aos antagonistas da atividade.
Pilar 8 – Segurança operacional
Implantar a cultura da segurança operacional é o principal foco desse pilar nas empresas. As participantes do projeto que detectarem necessidade de melhorar esse aspecto da organização terão mentorias diretas nesse sentido. O tema será abordado tendo como base o MGSO – Manual de Gerenciamento de Segurança Operacional – e prevê o aprimoramento do gestor de segurança operacional (GSO). O pilar também compreende atualização dos pilotos agrícolas em relação à segurança operacional.
Pilar 9 – Novas tecnologias
A proposta é fazer com que todos os funcionários da empresa participem da inovação do negócio. Cada um dos membros da empresa deve fazer a seguinte pergunta: – O que eu posso aprimorar no meu processo? Dentro da visão de sustentabilidade, o que eu posso fazer no meu processo para reduzir custos e aumentar a lucratividade por meio da inovação? O pilar prevê a disseminação de ferramentas fundamentais para estimular a criatividade e tecnologia.
Fonte: Cláudio Júnior Oliveira, diretor Operacional do Sindag e consultor Sênior do Programa Boas Práticas Aeroagrícolas (BPA) do Brasil, responsável pela Metodologia de Gestão das Capacitações e Mentorias
BPA promete mexer com toda a cadeia aeroagrícola
O programa Boas Práticas Aeroagrícolas (BPA) Brasil é o grande legado do Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag) para o setor. A iniciativa, além de mostrar a conexão da entidade setorial com as exigências da sociedade, aponta para uma mudança de paradigma de toda a cadeia ligada a esse setor tão importante para a agricultura brasileira e para a segurança alimentar. De acordo com o presidente da entidade, Júlio Augusto Kämpf, a magnitude do projeto está justamente em promover uma cultura empreendedora nas operadoras comerciais e privadas, com responsabilidade social e ambiental.
O BPA sugere uma quebra de conceitos pré-estabelecidos e promete trazer alterações no modelo da operação, conforme já foi vivenciada pelo setor a partir da criação, em 1997, do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), apoiador do programa, e da entrada do DGPS. Mais uma vez, gestão e tecnologia voltam a movimentar os operadores aeroagrícolas. Um projeto que chega para ficar. Após a fase de 18 meses, com patrocínio do Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Senai), a ideia é dar continuidade ao programa.
Conforme Kämpf, o BPA é o primeiro de uma série de projetos. “Depois do término do programa, vamos continuar fazendo cursos de aperfeiçoamento e de qualificação”, responde o dirigente da entidade, sem esconder a surpresa de ver uma instituição tão jovem – com apenas quatro anos de fundação – alavancar um projeto grandioso como o BPA. O presidente do Ibravag, que está em seu segundo mandato, lembra que os primeiros três anos na entidade foram dedicados a montar a estrutura necessária para dar andamento às ações que compõem os pilares do Ibravag: educação, comunicação e desenvolvimento.
RASTREABILIDADE
A história que começou a ser costurada em 2020, no áuge da pandemia da Covid-19, reúne os três suportes do Instituto. E a Certificação Boas Práticas Aeroagrícolas, que ocorrerá num segundo passo, diz à sociedade que a empresa ou o operador privado estão trabalhando com responsabilidade ambiental e social. Kämpf reforça que as commodities já começaram a fazer a rastreabilidade da cadeia de valor de seus parceiros de negócios – fornecedores, clientes, entre outros –, demandando certificações de boas práticas.
O presidente do Ibravag entende que a aviação agrícola subirá de patamar a partir do BPA. E justifica: “no momento que a agricultura brasileira vive, a importância da aviação agrícola dentro dessa segurança alimentar é significativa. Nós precisamos estar cada vez mais qualificados para exercer essa importante missão”. Acredita que esse é o início de uma corrente de evolução na cadeia da aviação agrícola, chegando aos fornecedores de peças, prestadores de serviço e demais stakeholders. Para ele, as empresas e operadores privados que não conseguirem evoluir nesse sentido, imprimindo esse novo ritmo ao seu negócio, adotando essa nova visão de mercado, enfrentarão dificuldade de continuidade.
Kämpf: “a ideia é que estejamos cada vez mais alinhados com a realidade do mercado”
O projeto BPA é considerado uma quebra de paradigma na aviação agrícola?
Júlio Kämpf – Sim. Precisamos cada vez mais de profissionais integrados com a tecnologia e com a responsabilidade que esse trabalho de pulverização aérea traz nas questões de boas práticas, nas questões de segurança ao meio ambiente e nas questões de segurança alimentar.
O que motivou essa busca de parceria com o Sebrae?
Júlio Kämpf – Como a maioria dos nossos operadores enquadram-se em pequena e média empresa, nós corremos atrás de quem tem essa expertise e finalidade dentro do governo brasileiro. O Sebrae tem muito conhecimento de gestão e tem auxiliado muito no desenvolvimento das empresas desse porte.
O que as empresas de aviação agrícola precisam fazer para se tornarem ainda mais prósperas?
Júlio Kämpf – As operadoras aeroagrícolas devem se integrar totalmente nesse programa de Boas Práticas, melhorando a sua gestão, tendo responsabilidade com a sociedade, com a segurança alimentar. Melhorando a gestão, você consegue ter qualidade de vida e transferir qualidade de vida para todo o grupo que está envolvido na sua empresa.
O BPA pode ser o grande aliado para derrubar as falas dos antagonistas do setor?
Júlio Kämpf – Esse projeto prevê na conclusão de todas as etapas que as empresas tenham uma certificação. Isso demonstrará para a população a qualidade e o perfil dessas empresas, sua qualificação, o respeito ao meio ambiente. O mercado está exigindo.
E como se dará essa comunicação com a sociedade?
Júlio Kämpf – Dentro dos pilares da nossa organização, do Ibravag, tem a área da comunicação, que compreende a Revista Aviação Agrícola, além do site e mídias sociais, que cumprem o papel de levar ao conhecimento da sociedade as ações, preocupações e conquistas do setor aeroagrícola. Acreditamos que o pilar da comunicação aliado à educação e tecnologia trará maior clareza do que realmente é o setor e das suas responsabilidades. Esse programa de Boas Práticas Aeroagrícolas vem afinar a gestão e a operacionalização dos processos da aviação agrícola. A ideia é que estejamos cada vez mais alinhados com a realidade do mercado. Os ataques que são feitos ao uso da ferramenta, infelizmente, mostram a falta de conhecimento e até mesmo da importância da aviação agrícola dentro da agricultura como segurança alimentar.
A aviação agrícola tem se mostrado uma importante aliada a outras forças da defesa civil para evitar catástrofes, como incêndios em florestas e combate a pragas como o gafanhoto?
Júlio Kämpf – Em muitas ocasiões. Por exemplo, quando a ferrugem asiática chegou ao Brasil foi um momento crucial para a agricultura brasileira, e a aviação agrícola foi exigida e muito. Então, é importante que essa atividade esteja conectada com as melhores tecnologias para oferecer essa segurança para o País. Temos ainda o combate a incêndio que é de extrema importância. Nós temos uma estrutura montada para atender esses tipos de calamidades. Tem ainda a questão dos gafanhotos. Estamos trabalhando também na possibilidade da aviação agrícola auxiliar no controle de vetores de doenças, como malária e dengue. O projeto está em discussão. Aí temos uma mostra das grandes áreas que a aviação agrícola pode atuar ajudando a sociedade e o desenvolvimento do Brasil.
Sinergia entre Sebrae e Ibravag foi a base do projeto inovador para as aeroagrícolas
Voz ativa na Câmara dos Deputados em defesa da micro e pequena empresa e com uma trajetória de lutas voltadas ao agronegócio e ao cooperativismo, Carlos Melles é um dos responsáveis por tornar o programa Boas Práticas Aeroagrícolas (BPA) Brasil uma realidade. Diretor-presidente do Serviço Nacional de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional), abriu as portas da entidade de fomento para a construção de ferramentas e soluções específicas para a aviação agrícola. “O aporte de recurso é significativo e será otimizado para prover os melhores resultados possíveis junto ao público-alvo”, reforça o dirigente.
A certeza do sucesso dessa primeira iniciativa conjunta entre Sebrae e Ibravag, que receberá R$ 2,4 milhões por meio do Sistema S, tem como base o cuidado como o programa foi gestado. Melles lembra que nas reuniões iniciais, ainda em 2020, buscaram temas e convergência das missões entre as duas entidades. Entre as convergências estão o público-alvo, empresas que operam no Simples nacional, e o propósito de projeto de implementar a cultura do empreendedorismo no setor. Assim começaram as tratativas, que culminou na assinatura do Convênio de Cooperação Técnica e Financeira em fevereiro deste ano.
Foi um caminho longo entre o começo das negociações e a consolidação do contrato, mas, de acordo com Melles, necessário para refinar o debate e definir ações relevantes que resultassem em transformação efetiva e ajustassem as arestas do setor. “O que importa é que conseguimos construir uma ótima proposta e com resultados significativos para os pequenos negócios do segmento”, observa. A ideia foi formar um programa que realmente melhorasse a gestão das pequenas empresas do segmento e impactasse positivamente na imagem do agronegócio brasileiro.
Assim, o Sebrae e Ibravag estão desenvolvendo um programa que vem mexer na cultura das empresas. O dirigente do Sebrae, engenheiro agrônomo de formação e pesquisador, entende que as boas práticas e a certificação das empresas aeroagrícolas colaborarão para romper os mitos de que a ferramenta agride o meio ambiente. Além disso, aumentará a competitividade das operadoras que aderirem ao programa, pois estarão engajadas em uma ação focada no tripé da sustentabilidade – econômico, ambiental e social. E frisa a importância desses três pilares estarem afinados: “a sustentabilidade não pode e não deve significar o engessamento da produção. Não existe meio ambiente sem o homem e vice-versa. Nossa produção é a mais sustentável do mundo, as inovações como drones e aviões já fazem parte do cenário atual do agronegócio brasileiro”.
Melles: “Como todo pequeno negócio, o empreendedor necessita de apoio na gestão como um todo”
O que representa para o Sebrae e para a sua gestão à frente da entidade de fomento a assinatura do Convênio de Cooperação Técnica e Financeira com o Ibravag?
Carlos Melles – Particularmente, me sinto honrado de poder viabilizar o desenvolvimento do setor, com ações relevantes para a melhoria das empresas do agronegócio e dos serviços prestados para a comunidade em geral.
O senhor já conhecia ou até já se relacionava com o setor aeroagrícola antes de assumir a presidência do Sebrae?
Carlos Melles – Minha caminhada no segmento do agronegócio brasileiro é extensa e muito gratificante, pois, em toda instituição que passei, consegui colaborar de alguma forma, para o crescimento do pequeno negócio rural. O setor aeroagrícola não poderia ficar de fora de tantas batalhas que realizamos neste segmento, e juntos, tenho certeza, iremos colaborar para um Brasil reconhecido mundialmente pela sua capacidade produtiva, com sustentabilidade e sempre valorizando o que temos de melhor: o empreendedor brasileiro.
Como se deu essa parceria exclusivamente para um setor tão peculiar e até pouco conhecido da sociedade, como o aeroagrícola?
Carlos Melles – No agronegócio, por exemplo, estão a maioria dos recursos aplicados em inovação e tecnologia, com a ferramenta Sebraetec. Na unidade de competitividade, no qual o núcleo do agro está inserido, temos várias ações de comércio e serviços setoriais. Nossa instituição possui a missão de realizar a transformação efetiva dos pequenos negócios após nossa intervenção, seja ela setorial, territorial ou temática. No caso, a aviação agrícola, segmento formado em sua maioria por pequenos negócios, se enquadra no público-alvo do Sebrae, o que facilita a sinergia das ações propostas pelo Ibravag.
O que o senhor acredita que falta para as operadoras aeroagrícolas tornarem-se ainda mais prósperas?
Carlos Melles – Como todo pequeno negócio, o empreendedor necessita de apoio na gestão como um todo. Neste sentido, estamos apoiando o Ibravag. Para nós, termos este esforço e qualificação reconhecidos pelas entidades representativas do setor é fundamental para que possamos demonstrar ao mundo nosso potencial e nossa responsabilidade para com o desenvolvimento do País e do agronegócio brasileiro.
O programa BPA Brasil, no seu entender, pode ser um grande divisor de águas na história da aviação agrícola no Brasil?
Carlos Melles – Com certeza, sim. É o começo de um esforço que não cabe só ao Sebrae, só ao Ibravag, ou só aos empresários.
Existe um antagonismo significativo em relação à aviação agrícola no Brasil – por fatores que vão da falta de conhecimento até preconceito e bandeiras políticas. O que o senhor acredita que falta para se mudar essa concepção errônea sobre o setor?
Carlos Melles – O achismo tem que acabar. A sociedade precisa ser munida de informações técnicas verdadeiras, reverenciando a ciência e a tecnologia. Eu como pesquisador tenho essa missão de vida. Independentemente do cargo que ocupo no Sebrae, é uma obrigação de nós todos profissionais do agronegócio brasileiro prover informações corretas, técnicas e desmistificar as ideologias que tanto atravancaram nosso desenvolvimento. Temos que atuar fortemente para levar conhecimento técnico aos profissionais e informação correta à sociedade em geral, para desmistificar quaisquer preconceitos criados de forma equivocada.
O senhor acha que o BPA-Brasil pode inspirar outros setores da cadeia aeroagrícola? Isso, claro, à medida que os cases de melhoria de gestão sejam percebidos, por exemplo, por fornecedores, empresas de manutenção e outros atores do mercado aeroagrícola?
Carlos Melles – Toda ação tem, além dos objetivos diretos, as conquistas indiretas. Obviamente que a demanda do setor sendo atendida, e a melhoria dos participantes deste primeiro projeto identificadas, evidenciadas e notadas, os demais atores da cadeia tendem a procurar o Sebrae e as entidades representativas para também propor novas ações e focos diferenciados de intervenção da entidade. Isto é um círculo vicioso positivo, que tende a qualificar e alterar todo o cenário do segmento e o ambiente de negócios.
Programa é visto como essencial para crescimento das empresas
Uma das responsáveis pela administração da Aerogrícola Conesul, Taylla Lara Scherwinski de Faria, acredita que o programa BPA tem tudo para dar muito certo, pois considera que a gestão das empresas aeroagrícolas, principalmente a área de custos, é muito sensível. Tanto que, desde a fundação da empresa há dois anos, conta com os diversos treinamentos do Sindag e do Ibravag sobre gestão. Inclusive no início da operação fez os dois módulos do Seminário Nacional de Finanças e é aluna da 1ª edição do MBA em Gestão Aeroagricola, oferecido também pelas entidades setoriais em parceria com a Faculdade Imed (Passo Fundo/RS). “O setor demanda documentação, registros e licenças muito específicos”, explica. Além disso, a instabilidade econômica mostrou sua face mais cruel, elevando os preços dos insumos, especialmente combustíveis, indispensável para colocar as aeronaves no ar.
Não muito diferente da maioria das operadoras aeroagrícolas brasileiras, a empresa com base no município de Chupinguaia, em Rondônia, foi criada pelos pilotos agrícolas Rodrigo de Faria e Lindomar dos Santos. Começaram a empresa com um Ipanema EMB-202 e um Thush 510P, que oferece alto rendimento nas aplicações em áreas maiores. No ano passado, a frota aumentou com a chegada em setembro de um Ipanema EMB-203, que saiu da fábrica direto para trabalhar a safra.
Como muitas empresas aeroagrícolas, quem está no comando da Conesul são as esposas dos pilotos. Taylla divide as funções na administração da aeroagrícola com Ana Carolina Hinze, para os pilotos poderem voar tranquilos. O conhecimento necessário para tocar o negócio veio com o tempo, buscando consultorias dentro do Sindag e Ibravag. A abertura do programa BPA Brasil, que tem o objetivo de profissionalizar a gestão das empresas aeroagrícolas, para Taylla é essencial para o crescimento das operadoras. “Os cursos vêm com um custo acessível e, em parceria com o Sebrae, você tem uma ferramenta que funciona, elaborada por pessoas supercapazes”, observa. Lembra que já fez um treinamento com o Sebrae em 2016 e até hoje usa os ensinamentos no seu dia a dia.
Operadores privados também serão contemplados
No escopo do projeto, os fazendeiros que usam suas próprias aeronaves na pulverização da lavoura fazem parte do público-alvo indireto. A expectativa é que 300 deles participem dos cursos de capacitação e aprimoramento voltados ao segmento oferecidos pelo BPA Brasil. Um dos gestores da Agro Fritzen, Fernando Fritzen, vê a iniciativa com bons olhos. Entende que é muito importante a atualização constante das práticas de aplicações aéreas, bem como na parte de segurança operacional, para evitar acidentes que possam afetar tanto o meio ambiente, quanto o profissional que atua diretamente na aplicação, como os pilotos.
A Agro Fritzen, com sede em Bom Jesus, no Piauí, optou pela aplicação de agroquímicos com aeronave própria em 2010, devido ao aumento da área agriculturável. Antes usava o serviço terceirizado, pois as chuvas impediam a entrada de terrestres na lavoura. Além disso, conta Fritzen, o milho é uma cultura alta, sendo mais razoável pulverizar com avião. Assim, foi comprado o primeiro Ipanema. Hoje, a propriedade de 60 mil hectares de área plantada – 45 mil hectares referente a safra de soja e milho, mais 15 mil hectares da safrinha (milho e sorgo) – conta com um Thrush 510 e um Air Tractor 602, operados por dois pilotos agrícolas que são funcionários da fazenda.
Engenheiro agrônomo e professor avalia que aproximação com a universidade é fundamental
O programa Boas Práticas Aeroagrícolas é um grande jogo de dominó. As ações são encadeadas e preveem 40 cursos para pilotos agrícolas, engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas, 15 dias de campo com o objetivo de melhorar a imagem do setor, mais 80 palestras em faculdades de agronomia e distribuição de 30 mil exemplares de cartilhas sobre boas práticas de aplicação aérea. A ideia é suprir possíveis lacunas deixadas na formação desses profissionais. Para o engenheiro agrônomo e mestre em Agronomia com Ênfase em Tecnologia de Aplicação, João Miguel Francisco Ruas, professor das disciplinas de Mecanização Agrícola e Tecnologia de Aplicação do curso de Agronomia, em Londrina (PR), e coordenador de Aviação Agrícola pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a iniciativa do Ibravag é fundamental para a sobrevivência da atividade.
A ideia é chegar a pelo menos 15% das faculdades de agronomia do País, apresentando aos estudantes do ensino superior a aviação agrícola. Ação essencial na avaliação de Ruas, que lastima a falta de informação sobre o setor durante o curso universitário. Lembra que em 2003, quando começou a cursar a Faculdade de Agronomia, queria trabalhar com agricultura de precisão e com aviação agrícola, mas não sabia onde buscar esclarecimentos. Ainda hoje, o problema persiste.
Vivendo a realidade de dentro da academia, Ruas salienta que poucas universidades têm professores altamente qualificados no tema. E lamenta que o Ministério da Educação não exija na grade curricular uma carga horária mínima sobre a tecnologia de aplicação aérea. Com isso, muitas vezes o assunto é abordado em disciplina optativa. Segundo ele, os profissionais saem preparados para trabalhar com os autopropelidos, pulverizadores terrestres que têm alto rendimento. “Muitas vezes o profissional que faz a recomendação desse tipo de equipamento pouco sabe sobre aviação, pouco sabe que o avião pode fazer o mesmo trabalho que o autopropelido com um rendimento muito maior e qualidade melhor”, observa.
REFERÊNCIA
Apaixonado pela aviação agrícola, o professor universitário recentemente convidou os alunos para uma aula extra, que não está na grade curricular da disciplina, no aeroporto para conhecerem o avião agrícola. “Para quebrar o gelo, porque o conceito que os estudantes têm é que a tecnologia é cara e distante da realidade deles”, destaca. A ideia é mostrar que muitas vezes o uso de aeronaves pode tornar a aplicação com um custo/benefício maior que a utilização de trator, quer pela agilidade, quer pela precisão.
Essa aproximação do Ibravag com as universidades, no entender de Ruas, trará um ganho significativo para o setor, principalmente na quebra de preconceitos em relação à ferramenta. Observa que a comunicação, que é ponto de destaque no BPA, deixará o setor ainda mais transparente, mostrando como opera, as preocupações do dia a dia, a capacidade da tecnologia prevenir a deriva, entre outras vantagens.
Acredita que esse engajamento com a sociedade, por meio da base da educação, alçará o Instituto ao patamar de referência em aviação agrícola. Entende que o BPA, por sua abrangência, eleva o Ibravag à condição de assumir essa importante função. “É ao seu portal que profissionais, produtores rurais e até mesmo pessoas sem vínculo com a atividade que desejam saber mais sobre essa tecnologia de aplicação recorrerão em busca de informações sobre esse mercado”, conclui.
Piloto agrícola aposta em cursos para fazer a diferença no mercado
O programa Boas Práticas Aeroagrícolas, tem em seu público-alvo indireto 1 mil engenheiros agrônomos, 2 mil pilotos agrícolas, 2 mil técnicos agrícolas executores, 400 ajudantes de pista e 1 mil engenheiros agrônomos. O piloto agrícola Guilherme Gil Basichetti está entusiasmado com a entrada de mais cursos de atualização e aprimoramento. Voando a sua primeira safra, o paranaense conta que já fez duas Academias de Segurança e duas Academia de Aplicação, oferecidas pelo Sindag, mais um curso de manuseio de herbicidas, para ampliar o conhecimento recebido durante o treinamento na escola de aviação agrícola. “Esses cursos agregaram muito na minha formação, me deixaram muito mais preparado para assumir o comando de uma aeronave e aplicar”, conta.
Há seis meses na profissão que sempre desejou exercer, Gil reforça que fez o curso de piloto agrícola para fazer a diferença, tanto que mesmo antes de conquistar a carteira já estava associado ao Ibravag para ter uma assessoria. Hoje contratado como CNPJ de uma operadora aeroagrícola no Mato Grosso, conta que suas aplicações têm recebido elogios dos fazendeiros. “Eu consegui fazer muita área e meu trabalho está sendo bem aceito no mercado”, confessa. Para ele, isso é resultado da constante busca por aprimoramentos das técnicas de aplicação.