O novo ano agrícola começa com boa expectativa de um lado e incerteza de outro. No lado alvissareiro, a previsão de uma colheita na casa dos 289,6 milhões de toneladas de grãos, pouco mais de 14,6% em relação à safra 2020/2021 (que foi de 252,3 milhões de toneladas). Isso conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que também aponta que as culturas continuarão bem remuneradas. Volume que deve manter a expressiva participação do setor primário no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, apesar dos desafios impostos (aí vem a preocupação) pela alta do preço dos insumos, especialmente do fertilizante, e de fatores climáticos. Nesse cenário, as lideranças do setor primário são unânimes em apontar a necessidade do investimento constante em inovação e tecnologia, bem como em alta gestão, para manter o negócio saudável. Equação que inclui a aviação agrícola, cada vez mais eficiente pela alta tecnologia embarcada.
Falta apenas o setor aeroagrícola saber “se vender”, com os empresários tendo clareza para mostrar a atuais e potenciais clientes que seus custos também subiram, porém a eficiência da ferramenta aérea compensa. “O setor aeroagrícola está sempre melhorando tecnologicamente, permitindo que o contratante tenha maior segurança e possa aferir a eficiência do serviço prestado”, explica o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Thiago Magalhães Silva. “Tanto é verdade que nossa frota aeroagrícola cresce de 3% a 4% todo o ano, estando o País em crise ou não”, pontua o dirigente. Porém, ele destaca que o horizonte da aviação agrícola ainda é muito grande. “Hoje, com certeza, mais de 70% das operações ainda são tratorizadas.”
Para alcançar mais espaço, tanto o Sindag quanto o Ibravag estão focados em aprimorar os gestores do setor tanto na melhoria contínua de suas empresas quanto na transparência das vantagens para seus clientes. Com vistas a isso, em maio o Sindag lançou o Índice Nacional de Inflação da Aviação Agrícola (Iavag) – para auxiliar os prestadores na precificação. Já o Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag) tem uma parceria alinhavada com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) – que deve ter novidades nos próximos meses. Conforme o presidente do Ibravag, Júlio Augusto Kämpf, “além de uma série de ações para o aprimoramento da gestão das empresas e qualificação de seu pessoal, a iniciativa prevê a criação de uma nova certificação para as empresas do setor”. Ao mesmo tempo, as duas entidades são parceiras do MBA em Gestão, Inovação e Sustentabilidade Aeroagrícola, promovido junto com a Faculdade Imed, de Passo Fundo/RS. Trata-se do primeiro curso do tipo no mundo voltado para o setor aeroagrícola, com duas turmas em andamento e formatura marcada para 2022.
Acumulado do Iavag em agosto ficou em 11,44%
Para o administrador de empresas e doutor em Agronegócio Cristian Foguesatto – professor do MBA em Gestão, Inovação e Sustentabilidade Aeroagrícola e que ajudou a criar o Iavag, o setor aeroagrícola precisa entender o seu valor na cadeia produtiva. Ainda mais em um momento em que os holofotes se voltam para o custeio da lavoura, especialmente da alta acima do esperado para os fertilizantes. Porém, ele recorda a alta do preço da soja, que nos dois últimos anos agrícolas passou de R$ 75/R$ 80, para em torno de R$ 160; a saca de arroz era comercializada a R$ 30/R$ 40, chegou a alcançar a marca de R$ 90. Aumentou a receita do produtor e, também, os custos, como o adubo, o defensivo, o fertilizante.
A mesma lógica deve ser usada no serviço aeroagrícola. Em agosto, o Iavag ficou em 11,44% no acumulado de 12 meses. O índice abrange variação do dólar (40% de sua composição), oscilação do custo de combustíveis (20%) e a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do IBGE (outros 40%). Na hora de negociar, o administrador considera fundamental que o operador aeroagrícola mostre para o agricultor que talvez seu serviço não signifique o menor custo para ele, mas o melhor.
Ao analisar os fatores do Iavag, o empresário e conselheiro do Sindag Bruno Ricardo de Vasconcelos, da Sana Agro Aérea (Leme/SP), pondera que primeiro a desvalorização do real frente ao dólar, com a moeda norte-americana saindo de menos de 4 reais e chegando a R$ 5,80 no ano passado. No dia 23 de setembro deste ano estava em R$ 5,30. Isso enquanto o preço do barril do petróleo subiu mais do que o dobro, chegando a cerca de 74 dólares. O preço do etanol também acompanhou, mesmo em São Paulo, onde é mais barato. “Em 2020, eu cheguei a ter planilha de custo com etanol a R$ 2,50 o litro; no início deste ano eu cheguei a pagar mais de R$ 4 reais.”
A certeza no momento é a necessidade de repassar esses custos. Mas Vasconcelos lembra que, apesar de sua importância, a participação do setor no custo total da lavoura é pequena. “Na maioria das culturas é uma fatia pequena. Vamos falar aqui de, talvez, entre 2% e 1%.” Estimativa ratificada por dados da cultura do arroz, conforme o levantamento do custo médio de produção elaborado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz. No Estado, responsável por 70% do arroz irrigado no País, o peso da aviação na planilha foi de apenas 1,86% do total. Isso considerando que se trata de uma das lavouras mais dependentes da ferramenta aérea.
Lei da oferta e da procura fez preço dos fertilizantes explodir
Para o diretor-executivo da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), Ricardo Tortorella, o aumento do preço dos insumos, especialmente dos fertilizantes que chegaram ao produtor com uma elevação de mais de 200% em dólar, faz parte da lei da oferta e da procura. A situação vai além do embargo econômico à Bielorússia desde junho. O executivo lembra que a demanda por fertilizantes já vinha aumentando em relação à oferta há mais de 20 anos. Destaca que o agronegócio no Brasil, Estados Unidos e China cresceu exponencialmente e a necessidade de fertilizantes aumentou. “A pandemia (provocada pelo novo coronavírus e declarada em março de 2020 pela Organização Mundial da Saúde – OMS) veio agravar a questão devido às dificuldades logísticas, com menor número de navios atracando nos portos”, observa Tortorella, enfatizando que o Brasil passou a sofrer a consequência de quem importa muito insumo para fazer fertilizante.
E esse aumento da demanda aparece diretamente no aumento da produtividade por hectare. “O Brasil, nos últimos 20 anos, 30 anos, praticamente na mesma área plantada, quase triplicou a produção de grãos. Se olhar, 25 anos ou 30 anos atrás, o Brasil produzia 80 milhões de toneladas de grãos, hoje produz 270 milhões de toneladas”, reforça Tortorella. Um reflexo das inovações tecnológicas, usando ferramentas adequadas de manejo do solo e de gestão e de outro lado os insumos corretos. “Daí eu digo, as sementes das plantas estão melhorando, os fertilizantes têm mais tecnologia empregada ajudando o solo a repor os ingredientes necessários para a boa produção e os defensivos quando bem utilizados permitem que a planta se desenvolva.”
E essa tendência, de acordo com Tortorella, já vem há mais de 20 anos e deve se manter ainda por muitos anos. Há também forte tendência de aumento do uso de fertilizantes também no pasto, porque o pecuarista se deu conta que os agroquímicos, especialmente os fertilizantes, trazem uma produtividade maior. E esse aumento de demanda, o setor de fertilizantes não tem como suprir na velocidade necessária para equilibrar a oferta e demanda. O potássio, por exemplo, é extraído de minas e, além de ser uma operação complexa, requer investimento altíssimo. “É um problema estrutural”, conclui.
Commodities funcionam como indexadores dos insumos
Se por um lado o preço dos insumos subiu vertiginosamente em dólar, o produtor de soja, milho, açúcar, algodão, café também tem seu produto cotado na moeda norte-americana além de um reajuste real, não somente o gerado pela desvalorização do real frente ao dólar. O diretor-executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Eduardo Daher, lembra que o produtor havia acabado de colher a safra de verão e ainda não tinha semeado a safra de inverno na hora que a pandemia apareceu no Brasil. Neste momento, o produtor escoou uma safra que plantou com o dólar a R$ 3,80/R$ 4,00 e colocou no mercado com o dólar valendo R$ 5,80. “O câmbio acabou favorecendo o produtor.”
Acompanhando este movimento, os agroquímicos também ficaram mais caros devido ao câmbio e depois, indexados às commodities, o preço subiu em dólar. E o valor dos fertilizantes, por questões de oferta e demanda, explodiu neste ano. Mesmo assim, de acordo com o executivo, está projetada a compra de 42 milhões de toneladas de NPK – nitrogênio, fósforo e potássio –, quase 2 milhões de toneladas a mais que em 2020. Isso no seu entender ocorre porque a relação de troca ainda vale a pena. “O produtor faz a conta: quantas sacas eu gasto com o fertilizante e quanto eu vou colher”, comenta.
Para Daher, o problema não está nesta safra que se inicia agora. “Para esta safra, o fertilizante, defensivos já estão comprados e faturados.” Lembra que aconteceu muito no ano passado, ao receber a receita da safra com o dólar a R$ 5,80, o agricultor comprou os insumos por antecipação. “O produtor grita pensando já no futuro, no próximo passo, o que ele vai fazer com o dinheiro do que ele já vendeu antecipadamente.” No entanto, ele lembra que se o câmbio é uma das variáveis incontroláveis para o agricultor, a outra é o clima – que está mudando em todo o planeta. “Nesse momento, tem gente perdendo milho na Alemanha. Também nos Estados Unidos houve uma grande seca.” Para Daher, há como amenizar os efeitos da seca com a irrigação, mas é um investimento que custa caro. Hoje, o número de lavouras irrigadas no Brasil não ultrapassa a marca dos 18%. Um sistema que com a crise hídrica aumenta ainda mais o custo de produção devido ao gasto de energia.
PIB do agronegócio teve alta já sobre crescimento
Apesar da alta dos insumos, especialmente fertilizante, energia elétrica, combustível, as incertezas causadas pelas adversidades climáticas, a previsão é que a agropecuária continue crescendo. A divulgação do PIB do segundo trimestre de 2021 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta para estabilidade em relação ao primeiro trimestre (-0,1%), com a maior queda na agropecuária (-2,8%). No entanto, quando se olha o mesmo trimestre com o mesmo trimestre do ano anterior, o desempenho do setor mostra uma alta de 1,3%. Isso sobre uma base de crescimento. Já no comparativo semestre de 2021 ao de 2020, o crescimento ficou na casa dos 3,3%.
Um primeiro impacto desanimador, ainda mais se comparar o desempenho do setor primário com a indústria, que em relação ao mesmo trimestre de 2020 cresceu 17,8% e no comparativo semestral 10% em relação ao mesmo período de 2020. No entanto, o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Antônio da Luz, alerta: “é preciso analisar o contexto”. A agricultura vem de um ano de crescimento. A agropecuária foi o único setor da economia que cresceu em 2020. Então o crescimento se dá sobre crescimento. Observa o economista que a indústria vem de uma queda no desempenho, então, os números deste ano mostram uma recuperação e não um crescimento.
Mesmo com um quadro otimista quando se fala em agropecuária, os custos do setor estão muito altos. Luz observa que a pandemia do novo coronavírus trouxe consigo uma série de problemas de conexões no mercado. “A pandemia bagunçou as cadeias produtivas e isso mexeu muito também com a indústria de agroquímicos global”, pontua. Agora, existe uma demanda muito aquecida e, consequentemente, um acréscimo da área plantada no mundo e maior procura por agroquímicos.
Mesmo assim, o economista-chefe da Farsul acredita que o agro se manterá firme, com preços bons no mercado. Embora os resultados para o produtor devam cair, devido ao aumento do custo de produção, que vem achatar as margens de lucro. Um cenário frente ao qual Luz aconselha os produtores rurais e empresas voltadas ao agronegócio, como as que o Sindag reúne, a ampliarem seu nível de gestão.
Controlador de custos tão importante quanto agrônomo
“Eu até diria que o agricultor hoje depende de um bom controlador de custos quase no mesmo grau de importância de um bom agrônomo.” A frase do consultor em Tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Reginaldo Minaré, reflete a importância da gestão cada vez mais profissional também nas plantações. Ele explica que a conjuntura global das incertezas vem de uma pandemia ainda não controlada, que desorganizou as relações comerciais no mundo.
Desafios intrínsecos à produção agrícola brasileira, que importa 85% dos insumos. Com isso, problemas pontuais de algumas nações, como o embargo econômico da União Europeia e Estados Unidos à Bielorrússia (que reponde por 20% da produção mundial de potássio e não consegue embarcar o produto nos portos europeus), são sentidos em toda a cadeia produtiva. “Um cenário de risco previsível, mas que exige que o agricultor tenha uma planilha de custo muito bem elaborada para ele saber a renda dele no final de sua colheita”, ressalta. Quem produz commodities, como a soja, precificada no mercado internacional pela Bolsa de Chicago (EUA), não tem como repassar o custo.
Já a assessora técnica do Núcleo Econômico da CNA, a economista Isabel Mendes explica que a entidade estima que o PIB do Agronegócio, que compreende insumos, produção básica, agroindústria e agrosserviços, elaborado pela CNA/Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), deve se manter em torno de 30% no ano. Três pontos percentuais acima do registrado em 2020. Porém, Isabel lembra que o produtor rural, que tem como desafio a natureza e o câmbio – duas variáveis impossíveis de controlar –, precisa buscar formas de resguardar seu investimento, reduzindo custos. E buscando proteção em caso de perdas. Por exemplo, com seguro rural, além do hedge cambial (para garantir preço das mercadorias negociadas) e operações de barter – onde o produtor “trava” o preço do seu produto (com o qual paga os insumos).
Na soja, o escambo funciona como indicador do custo real
O presidente da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), Antônio Galvan, destaca duas realidades bem diferentes experimentadas pelo produtor brasileiro. “Quem não vendeu o produto no ano passado, bancou por conta e segurou a soja. Esse produtor ganhou muito dinheiro”, diz. Porém, observa, que a maioria precisou vender antecipado para bancar uma série de despesas na sua lavoura. “Mas o preço não estava ruim”, confessa. Para a próxima safra, plantada entre meados de setembro e outubro, tem menos soja vendida no mercado futuro que na safra 2020/2021, mesmo com o preço da commodity tendo dobrado.
Hoje a saca para ser entregue na próxima colheita está valendo R$ 150,00 / R$ 160,00. Porém, os custos subiram alavancados pela alta dos fertilizantes. No caso do potássio, Galvan conta que no ano passado pagava 300 dólares a tonelada e neste ano subiu para 900 dólares ou pouco mais. Por isso, adverte, o agricultor não faz a conta em real. Ele usa o produto que ele planta como parâmetro de custo, seja ele fertilizante, defensivo ou sementes. No cálculo do dirigente da Aprosoja, a conta ficou muito maior. No ano passado, com 16 ou 17 sacas de soja, vendidas em média a 80 reais cada, se comprava 1 tonelada de potássio. Hoje, são necessários quase o dobro de sacas para a mesma quantidade de fertilizante.
Acompanhando os demais analistas do segmento, Galvan entende que o aumento da demanda por alimentos e a busca por maior produtividade das áreas plantadas está entre os motivos do encarecimento do fertilizante devido à baixa oferta, agravada pelo embargo da União Europeia e Estados Unidos à Bielorússia. Mesmo assim, a aposta é em uma colheita de 141,2 milhões de toneladas, aumento em torno de 3,9% em relação à safra passada. Já em termos de mercado, a expectativa é exportar 87,58 milhões de toneladas – 5,51% a mais que em 2020/2021, mantendo o Brasil na posição de maior exportador de soja do mundo. Maior produtor mundial, apesar da área plantada ser menor que a dos Estados Unidos (segundo no ranking), o País deve isso ao modelo agrícola e ao clima. Segundo o presidente, entram na conta também desde a qualidade das sementes e a possibilidade de menor tempo para a colheita, até tecnologias como o avião agrícola.
Seca castigou o milho em 2021
A seca no primeiro semestre deste ano castigou a lavoura de milho, principalmente do Paraná e do Mato Grosso do Sul, representando uma quebra de 25% na safra 2020/2021. De acordo com o 12º Levantamento da Safra de Grãos passada, divulgado pela Conab no início do mês, a produção total ficou em 85,75 milhões de toneladas (16,4% menor que em 2019/2020). Para o próximo ano, o boletim Perspectivas para a Agropecuária Safra 2021/2022 – Edição Grãos, também da Conab, aponta para uma recuperação na casa dos 29% chegando a 115,9 milhões de toneladas. O relatório Céleres/Abramilho, de 6 de setembro, aponta para a possibilidade de a área plantada crescer 4%, especialmente no Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Decisão fundamentada na manutenção da desvalorização do real frente ao dólar.
De acordo com o presidente institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Cesário Ramalho da Silva, os preços também estão atrativos no mercado interno. O dirigente não esconde que o agricultor ganhou nas duas últimas safras, a de 2019/2020, quando o setor foi surpreendido pela desvalorização expressiva do real frente ao dólar, e na de 2020/2021, com o aumento real dos produtos. E está bastante otimista em relação ao aumento da produção de milho. “O nosso setor está capitalizado. O agricultor então ampliou as suas áreas de terra e investiu em tecnologia que pode melhorar a produtividade”, reforça.
Por sinal, em tempos de insumos com preços acima do esperado, especialmente o dos fertilizantes, há necessidade de se otimizar a aplicação. Nesta equação, entra o uso da aviação agrícola, que, pela alta tecnologia embarcada, permite uma pulverização precisa sobre a lavoura sem desperdícios. Sobre a ferramenta, o dirigente da Abramilho destaca ainda a agilidade de aplicação, aproveitando melhor janela de tempo. “Agricultura tem dia e hora”, completa. Ramalho acredita que a aviação agrícola tem um grande espaço para crescer não só pelo aumento da área plantada, mas também pela busca da eficiência nas lavouras.
Safra de arroz deverá crescer 20%
Já no arroz, o custo de plantio da próxima safra deve aumentar entre 20% e 30% em média. A projeção é do presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, levando em consideração o aumento do preço dos insumos. No entanto, acredita que para alguns orizicultores esse índice pode ser menor, entre 10% e 15%, e para outros bem acima, na casa dos 30%. Exemplifica: “quem comprou adubo em maio pagou R$ 1,9 mil pelo cloreto de potássio e, em setembro, mais de R$ 3 mil. Então esse produtor que não antecipou as compras ficou à mercê de um aumento no custo de produção maior.”
Aumento que reforçou a necessidade de eficiência na gestão das lavouras. Como 80% a 90% do arroz produzido no Brasil fica no mercado interno, sem preço futuro como a soja, o arrozeiro depende do hoje, da cotação do arroz no dia da venda. Por isso, o orizicultor, explica Alexandre Velho, precisa cuidar de bons momentos de troca – a troca do produto arroz pelo produto fertilizante – para reduzir o custo da lavoura. “Quando o arroz está valendo um pouco mais, eu tenho que olhar quanto está o fertilizante.”
O dirigente da Federarroz acredita que a aviação agrícola tem uma importância cada vez maior dentro do setor. Além disso, o arroz é dependente do avião pela dificuldade de entrada das máquinas terrestres nas áreas irrigadas. Aliás, segundo o boletim Custo de Produção Médio Ponderado Arroz Irrigado Safra 2020/21, divulgado pelo Irga que o custeio específico da lavoura representou 55,66% das despesas, com 17,6% para agroquímicos e fertilizantes e o custo com aviação (que otimiza esses produtos) representando 1,86%. Já para a safra 2021/2022, a perspectiva é de que a produção de arroz cresça 0, 4%, com produção estimada em 11,8 toneladas.
Aeronaves para reduzir custo no futuro
“Tecnologia e escala são a chave para continuarmos tendo rentabilidade no nosso negócio.” A afirmação do presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Júlio Busato, reflete a preocupação do setor frente aos aumentos dos insumos, especialmente do fertilizante, já pensando no futuro. Afinal, para ele, esse filme não é novo. O preço dos agroquímicos sobe indexado ao das commodities, depois o valor das commodities recua e os custos não voltam para o mesmo patamar. Por isso, a importância de aumentar a produtividade por hectare. E entre as ferramentas à disposição do agricultor, Busato destaca a aviação agrícola: “não só pela redução dos custos, mas também para um controle mais eficientes das pragas, principalmente do bicudo do algodoeiro que é o nosso arqui-inimigo.”
O dirigente da Abrapa acredita que a maioria dos produtores de algodão já utilizam a aviação agrícola no combate às doenças da lavoura, como um processo contínuo em busca de maior rentabilidade das fazendas. Esse pensamento está ligado ao futuro, pois para a safra 2021/2022 a área de plantio está definida e os insumos comprados, com a expectativa de que se a chuva ajudar a colheita deve chegar perto de 3 milhões de toneladas de pluma. De acordo com o presidente da Abrapa, entre 30% e 40% do algodão que vai ser plantado na próxima safra já foram vendidos em contratos com preços fixos basicamente em dólar. Admite que a flutuação do câmbio prejudica, mas o setor tem como se proteger disso em parte, com um hedge natural.
O clima é um desafio maior. Busato aponta que somente 8% do algodão brasileiro é plantado no sistema de irrigação. Por isso, a preocupação que as chuvas caiam no período correto. Lembra que no ano passado, principalmente no Estado do Mato Grosso, as chuvas atrasaram e parte da área de algodão foi forçada a migrar para a cultura do milho devido à janela de plantio.