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Florestas plantadas, um setor afinado com a Sustentabilidade do Planeta

Aviação agrícola por meio do BPA Brasil prepara aproximação com economia que responde por 9,93 milhões de hectares cultivados

Publicado em: 31/01/23, 
às 16:27
, por IBRAVAG

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Diante da emergência climática global, a aviação agrícola brasileira mostra que está pronta para encarar o desafio de contribuir com a agricultura de baixo carbono, bem como participar do processo de regeneração das matas nativas e do manejo das florestas plantadas para fins comerciais. Este último, um importante mercado de atuação do setor, uma vez que as duas principais espécies cultivadas no Brasil, o eucalipto e o pinus, podem atingir grandes alturas, tornando inviável o manejo com ferramentas terrestres.

Para se ter uma ideia do setor, conforme Relatório Anual 2022 da Indústria Brasileira da Árvore (Ibá), a área de plantio florestal chega a 9,93 milhões de hectares, a maioria nos Estados de Minas Gerais (2,31 milhões de ha), São Paulo (1,26 milhão de ha) e Paraná (1,18 milhão de ha). Já entre as espécies plantadas para fins comerciais, o eucalipto ocupa o primeiro lugar com 7,53 milhões de hectares (FGV IBRE, Ibá & Canopy Remote Sensing Solutions, dado referentes a 2021), seguido pelo pinus (1,93 milhão de hectares).

Um mercado amplo e afinado com o conceito de sustentabilidade e que exige prestadores de serviços comprometidos com as boas práticas. Nesse sentido, o Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag) em parceria com o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola está desenvolvendo projetos visando a interagir ainda mais com o segmento dos produtores de florestas. Tanto que para março está programado o Painel de Aproximação: Oportunidades e Desafios para os setores Aeroagrícolas e Florestal em parceria com a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp), Ibá e Associação Paulista de Produtores, Fornecedores e Consumidores de Florestas Plantadas (Florestar São Paulo).

AÇÃO BPA

O evento compreenderá painéis e um período de demonstrações sobre como se desenvolve a atividade aeroagrícola no campo, bem como as tecnologias que garantem a segurança das operações. A ação faz parte do Programa Boas Práticas Aeroagrícolas (BPA) Brasil, desenvolvido pelo Ibravag em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), com apoio do Sindag, e tem o propósito de mostrar a evolução da atividade da aviação agrícola.

De acordo com a consultora do BPA Brasil, Luciane Kolbe, a intenção é abordar desde treinamento e capacitação dos operadores aeroagrícolas até pontos da legislação que envolve a atividade em relação às áreas de preservação ambiental. “Vamos mostrar como funciona uma aplicação aérea e onde e quando ela pode ser aplicada nas florestas plantadas”, sinaliza a organizadora do evento. Ela lembra que foram as entidades do setor de plantio de árvores que pediram um plano de ação voltado para as necessidades desse mercado.

Pesquisa e atenção às boas práticas para atender mercado

Diretor comercial e de operações da Sana Agro Aérea, o engenheiro agrônomo Max Zenker Justo destaca que as empresas aeroagrícolas estão preparadas para atender esse importante mercado do país, que tem um impacto positivo em relação ao meio ambiente sequestrando toneladas de carbono da atmosfera. Atendendo florestas de eucaliptos para fins de produções de celulose e carvão vegetal desde 2006, a operadora aeroagrícola tem adotado conceitos de ESG (sigla em inglês para governança social, ambiental e corporativa) na sua estratégia de negócios.

Zenker conta que o modelo de negócio voltado ao tripé da sustentabilidade cada vez mais torna-se uma exigência para se manter no mercado. O engenheiro agrônomo conta que as empresas que plantam florestas têm uma preocupação muito grande com o meio ambiente e comunidades vizinhas às suas áreas de atuação e exigem o mesmo de seus prestadores de serviços. “Nós aprendemos bastante com o setor florestal e acabamos levando para as outras áreas que atuamos (a Sana trabalha também com culturas de cana-de-açúcar e citrus)”, pontua.

Hoje, o calendário anual da aeroagrícola, com sede em Leme/SP, que atende florestas em São Paulo e Minas Gerais, é intenso. “O que mais fazemos na área florestal é adubação granulada (principalmente potássio), mas aplicamos também adubação foliar de micronutrientes, em especial o boro, que é muito exigido pelo eucalipto”, explica Zenker. Basicamente, a Sana trabalha com adubação sólida e líquida, controle de pragas e aplicação de herbicida.

A lista de aplicações vem crescendo de acordo com as necessidades dos clientes e novas pragas que chegam de países como Austrália. Zenker conta que quando começaram no setor florestal faziam aplicações somente para controle da lagarta desfolhadora. “De uns anos para cá, entraram muitas pragas exóticas, como o psilídeo de concha, o percevejo-bronzeado, o gorgulho do eucalipto (Gonipteros scutellatus), a vespa da galha, entre outras”, explica o diretor comercial da Sana.

Por isso, a importância de desenvolver pesquisas para atender as necessidades dos clientes, garantir a permanência no mercado e a frota sempre em movimento. Foi assim para atender o controle da rebrota de eucalipto com herbicida. Zenker conta que chegaram até a fazer um estudo para o controle de formigas cortadeiras, com isca formicida granulada, mas não entrou em operação comercial devido ao produto não ter registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para aplicação aérea. Também cita a importância no desenvolvimento dos biodefensivos e soltura de inimigos naturais nas áreas de florestas plantadas.

Silvicultura aposta na tecnologia para aumentar produtividade por hectare

BIOECONOMIA: diretor-executivo da Ibá chama a atenção para o fato de que a preservação do meio ambiente e seus ecossistemas impacta diretamente no comércio exterior e abertura de novos mercados.
Foto: Divulgação Ibá/Gladstone Campos

A preocupação com as questões climáticas está no DNA do setor de florestas plantadas. O diretor-executivo da Ibá, embaixador José Carlos da Fonseca Jr, observa que o segmento tem um trabalho muito positivo no que diz respeito à conservação do meio ambiente e redução das emissões de Carbono. E os números revelam que o mercado de árvores cultivadas tem feito a lição de casa. O setor planta, colhe e replanta em áreas antes degradadas. Isso representa um ganho significativo no processo de descarbonização.

Fonseca Jr. comenta que a Embrapa Florestas divulgou estudo recente que demonstra que o plantio de árvores produtivas substituindo os pastos de baixíssima produtividade traz ganhos para a terra, inclusive auxiliando no aumento de estoque de carbono no solo. O Relatório Anual mostra que em 2021, as companhias de base florestal atuaram na recuperação de 25,8 mil hectares – 50% são áreas de Pampa; 22,3%, Mata Atlântica; e 15%, na Amazônia; e 12, 7%, no Cerrado. No entanto, muito ainda se tem para recuperar.

Conforme dados da Universidade Federal de Goiás (UFG), apresentados por Fonseca Jr., no Brasil existem 88 milhões de hectares com algum nível de degradação. “Problema sério, mas também uma oportunidade para que a agricultura possa avançar sem necessidade de derrubar uma árvore nativa sequer”, sinaliza o executivo. No entanto, o gestor da Ibá alerta que o crescimento do setor de árvores cultivadas não se dá pela incorporação de mais terras.

PRODUTIVIDADE

Com os dois pés na bioeconomia, as empresas trabalham com a ideia de aumentar a produtividade utilizando os mesmos ou menos recursos. “Na década de 1970, por exemplo, a produtividade do eucalipto era de 10 m³/ha/ano. Hoje, após investimento em ciência e tecnologia, está em 38,9 m³/ha/ano”, esclarece Fonseca Jr. Um empenho que se reflete inclusive na redução do uso de água durante o processo industrial, que caiu 75% desde a década de 1970.

Outro ponto importante diz respeito às áreas de conservação da mata nativa. De acordo com o levantamento da entidade setorial, 6,05 milhões de hectares compreendem Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs), Áreas de Preservação Permanente (APPs) e Reservas Legais (RLs) dentro das fazendas.

Muito já se tem caminhado, mas muito ainda precisa ser feito. Fonseca Jr. observa que desde a COP 26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), em Glasgow na Escócia, o Brasil ruma para uma atitude de maior cooperação com a descarbonização. Posição que considera fundamental pois impacta diretamente no comércio exterior e abertura de novos mercados. Porém, alerta que é fundamental para o Brasil “combater o desmatamento, as queimadas, a grilagem de terras e o garimpo ilegal, com atenção especial à Floresta Amazônica.

Alta regulamentação das aeroagrícolas torna setor importante aliado

A diretora-executiva da Florestar São Paulo – Associação Paulista de Produtores, Fornecedores e Consumidores de Florestas Plantadas, a engenheira florestal Fernanda Maria Abilio, que integra, junto com Ibravag e Sindag, a equipe organizadora do programa de aproximação do setor de florestas cultivadas com o aeroagrícola, pontua que a aviação agrícola é uma das ferramentas utilizadas regularmente no manejo integrado para o controle de pragas e doenças. Isso ocorre principalmente depois da árvore atingir grandes alturas – uma árvore de eucalipto pode chegar em sete anos a mais de 30 metros de altura em média.

Para a executiva da Florestar São Paulo, a solução aérea, além de ser eficaz para manter a saúde da floresta, está cada vez mais atendendo aos conceitos da sustentabilidade. Lembra que a silvicultura é uma economia de baixo Carbono, alinhada com as metas globais, tais como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), para a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Inclusive o Sindag é signatario do Pacto Global da ONU.

FERNANDA: setor de florestas plantadas preza pela economia de baixo carbono e está alinhado com as diretrizes do ODS.
Foto: Divulgação

MENOR IMPACTO

Somada a essa preocupação com os conceitos de governança ambiental, social e corporativa (ESG na sigla em inglês), a atividade aeroagrícola tem regulamentação que envolve tanto cuidados ambientais quanto sociais. Porém, esses cuidados esbarram nos preconceitos que depõem contra o setor. “Temos visto que há muito ainda a discutir e desmistitificar entre os setores público-privado e a sociedade civil sobre a segurança da operação”, pontua Fernanda Abilio.

A executiva da Florestar São Paulo entende que é preciso trabalhar para reforçar a importância da aviação agrícola para o setor e levar ao conhecimento de todos que a atividade realizada conforme os procedimentos de aplicação, com profissionais capacitados e em conformidade com as regulamentações previstas, é uma atividade segura. Fernanda acrescenta que a silvicultura de florestas plantadas prioriza o uso de produtos biológicos ou agroquímicos com maior eficácia e menor impacto ambiental.

Mercado exige prestadores de serviço proativos atento às boas práticas

EXIGÊNCIA: inclusive caminhões de abastecimento das aeronaves agrícolas devem estar em plenas condições para atender demanda das companhias que cultivam árvores.
Foto: Divulgação

“Esse pessoal da silvicultura sempre está um passo na frente. Então você vai melhorar, trabalhando com aeronaves com cada vez mais tecnologia embarcada, comprando instrumentos aeronáuticos de ponta, além de aprimorar a operacionalização, para ficar no mercado.” O depoimento é do sócio-diretor da Aeroverde Aviação Agrícola (Aracruz/ES), Sérgio Bianchini, que atende, desde 2008, companhias produtoras de eucalipto no Espírito Santo, parte de Minas Gerais e Sul da Bahia.

O executivo da aeroagrícola conta que esse cliente que trabalha com o mercado internacional, principalmente o europeu, exige muito mais que documentação em dia e cumprimento da legislação. Há todo um cuidado na parte do pessoal que presta o serviço, meio ambiente e equipamentos. “Para nós que prestamos serviços para empresas que trabalham com o mercado externo, as boas práticas já são exigidas há mais tempo”, observa Bianchini.

Uso correto de Equipamento de Proteção Individual (EPI), extintor na pista, manutenção preventiva para evitar vazamentos fazem parte do dia a dia das aeroagrícolas que trabalham com florestas plantadas. “Você tem que ser proativo, não pode ser reativo. Se você verificar que uma mangueira está ressecando, troque logo para evitar que estoure na hora do abastecimento no meio do mato e dê problema de contaminação”, assinala o gestor.

Além disso, engenheiro agrônomo e auxiliar técnico precisam fazer periodicamente cursos de reciclagem. Um preparo que é complementado dentro da própria fazenda da família Bianchini, onde fica a sede da Aerverde e cultiva eucalipto, banana e café conilon. O gestor conta que o espaço acaba servindo como um laboratório para testar novas tecnologias, nova vazão, novos produtos, como os biológicos. “A gente colocou na fazenda a nossa biofábrica de insumos para a gente aprender a trabalhar e utilizar no avião”, explica Bianchini.

Avião agrícola faz o papel da gralha-azul na natureza

SEMEADURA: Piloto agrícola Mário Capacchi fez a dispersão das sementes sobre ilha da Barragem Passo Fundo. No detalhe, uma das sementes de pinhão que brotou.
Foto: Acervo Roberto Magnos Ferron

“Será que dá para semear pinhão com aeronave.” A curiosidade do engenheiro florestal Roberto Magnos Ferron foi despertada ao avistar uma gralha-azul levando no bico um pinhão da floresta de mata nativa de pinheiros para uma lavoura abandonada. Atento ao trajeto do pássaro, percebeu quando a semente caiu e foi ver de perto onde havia ficado. E qual foi a surpresa? “Em cada moita de capim com pequenas árvores de timbó havia pinhão germinando e pequenas mudas de araucárias com um a três anos de idade.”

A resposta à pergunta foi dada 27 anos depois, quando encontrou o piloto agrícola e diretor da Aerodinâmica Aviação Agrícola, Mário Capacchi, que se prontificou a participar do projeto, pois já semeava sementes de aveia, azevém, além de fazer aplicação aérea de adubo e ureia. Assim foi dada a largada para o Programa Experimental de Educação Florestal Gralha Azul, desenvolvido por Ferron, em 2012, quando era diretor do Departamento de Florestas da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (SEMA) do Rio Grande do Sul.

“A semeadura com avião foi um sucesso. Caiu um pinhão a cada 2 metros quadrados, conforme a previsão inicial”, comemora o engenheiro florestal. No entanto, do plantio nas ilhas da Barragem do Rio Passo Fundo que deveria germinar 20% das sementes, ou seja, mil mudas, e no final de um ou dois anos restar, 50% das mudas – 500 –, restou apenas 1%. Conforme Ferron, o resultado aquém das expectativas deve-se ao preparo inadequado das sementes. “Os pinhões deveriam ficar dois dias submersos em água para quebrar a dormência e depois serem banhados em querosene para espantar os roedores, porém, isso não aconteceu”, explica o coordenador do projeto. Deste modo, capivaras e ratões-do-banhado foram atraídos para um banquete de pinhões.

O professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o engenheiro florestal Fabiano de Oliveira Fortes, com experiência na área de Recursos Florestais e Engenharia Florestal, com ênfase em Processos e Métodos de Mensuração Florestal e Experimentação Florestal, foi um dos avaliadores do programa. Ele conta que a equipe da universidade foi ao longo de sete meses até a área verificar o desenvolvimento das sementes, mas elas sumiam com o passar das semanas.

“A ideia de usar a aviação agrícola foi fantástica, mas ocorreram problemas no processo de preparo da semente e do solo”, explica Fortes. O engenheiro florestal concorda que as sementes não germinaram porque as capivaras limparam o campo. Para ele, o ideal seria abrir sulcos ou gradar a terra para ficar mais fácil de germinar as sementes. Porém, entende que a proposta era não haver intervenção humana a não ser o avião dispersando as sementes.

Com semeadura de nativas, aeroagrícola busca aproximação com a comunidade

PREPARATIVOS: comitiva no ato de entrega das sementes encapsuladas para elas pegarem carona no avião agrícola até chegarem ao seu destino.

Quando se fala em regeneração de matas nativas, incluindo o plantio de sementes, a aviação agrícola no Brasil ainda é pouca usada. No entanto, associados do Sindag e Ibravag já decolaram para semear mudas nativas. “Não é um trabalho comum. É uma operação bem esporádica”, conta o piloto agrícola Rogério Velludo Ribeiro, da Tangará Aeroagrícola (Orlândia/SP). Segundo ele, a solicitação é feita por proprietários rurais que precisam fazer o reflorestamento por exigência dos órgãos ambientais.

Na semeadura das árvores nativas, o avião agrícola faz o papel dos pássaros jogando a semente do alto para a terra absorver o grão e completar o seu ciclo. Uma operação que encantou os estudantes do Projeto A Sementinha Pega Carona, uma ação ambiental proposta pela Secretaria Municipal de Educação de Morro Agudo, envolvendo as 19 escolas do município. O trabalho idealizado e coordenado pela assessora pedagógica da pasta, a professora Carla Moraes, começou em 2016 e em cada ano a semente é levada ao seu destino por um tipo de transporte.

DIVERSOS USOS

PELETIZAÇÃO: estudantes envolvem as sementes com argila para serem dispersadas.

Em 2019, foi a vez da aeronave agrícola dar carona às sementes. Após, os estudantes envolverem o grão em uma espécie de massa com argila e substratos, uma comitiva com representantes da Secretaria de Educação e escolas levou as cápsulas até a Tangará, que fica na cidade vizinha. Na base da aeroagrícola, as bolinhas foram colocadas no hopper do avião comandado por Velludo, que dispersou as sementes às margens de um córrego. Para o piloto agrícola, participar dos projetos educacionais na região em que a empresa atua é uma forma de aproximar o setor aeroagrícola da comunidade.

Além disso, mostra que a ferramenta tem diversos usos. Além do controle de pragas, está no escopo da atividade aeroagrícola fazer semeadura de sementes e mudas, combate a incêndio, povoamento de rios, entre outras operações. Inclusive o setor está gestionando autorização para atuar no controle de vetores de doenças, como o Aedes aegypti, transmissor da dengue, zica e chikungunya, entre outros.

Para isso, a Tangará tem levado até a empresa desde as crianças da educação infantil até os estudantes do ensino médio para mostrar que a atividade aeroagrícola é séria, com aplicações sempre dentro do recomendado pelo agrônomo. “É importante que a sociedade civil reconheça que a ferramenta é segura e que não vai poluir o meio ambiente”, pontua o comandante. Mais que isso, a cada operação de dispersão de sementes feitas para recompor matas nativas, o setor mostrar a importância do reflorestamento e que o avião pode fazer esse trabalho. “É um mercado que pode crescer muito”, sinaliza Velludo.

Meta é reabilitar 12 milhões de hectares de floresta nativa até 2030

PESQUISA: Ivan Alvarez visita viveiro de mudas de árvores nativas no Acre, onde também participa de projetos.
Foto: Divulgação

A dispersão de sementes com aviões para restaurar matas nativas ainda é bastante restrita, tanto nas propriedades rurais quanto nas áreas sob a jurisdição dos governos estaduais ou federais. O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Ivan André Alvarez, engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia, lembra que já ocorreram alguns plantios usando a ferramenta aeroagrícola na Serra do Mar. No entanto, a prática está longe de ser padrão, mas pode vir a se tornar um mercado promissor para a aviação agrícola.

Conforme o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), a meta é reabilitar 12 milhões de hectares de florestas nativas e 15 milhões de hectares de pastagens até 2030. O planejamento que atende as premissas do Acordo de Paris foi assinado durante o Governo Michel Temer, em 2017, e tem como base a redução da emissão do dióxido de carbono (CO2), com a intenção de mitigar as mudanças climáticas. “É com essa meta que estamos trabalhando”, explica o pesquisador.

Diferente das florestas plantadas para fins comerciais, a restauração de matas nativas tem a ver com a reabilitação do ambiente natural, garantindo maior diversidade possível, com condições ecológicas estabelecidas. “Você não faz uma restauração só com árvores, tem outros tipos de vegetação, como arbustos e forrações”, pontua Alvarez, lembrando que há diferentes biomas no Brasil.

Em razão dessa diversidade de ecossistemas no país, há muitas linhas de pesquisa propondo formas de restaurar as florestas nativas. Inclusive, Alvarez conta que está propondo uma silvicultura de nativas. “Pode ser uma floresta plantada com um pouquinho mais de diversidade”, adianta o engenheiro agrônomo. Um trabalho que ainda esbarra na carência de estudos sobre as espécies nativas para essa silvicultura convencional.

Por isso, ao se falar em apreender CO2, o primeiro passo é não desmatar, o segundo passo é restaurar as matas nativas, e o terceiro seria a adoção dos sistemas agroflorestais, que reúne culturas plantadas e plantio de florestas. O outro passo, no entender do agrônomo, seria que esses sistemas criassem escala com a possibilidade de ampliar uma agricultura de baixa emissão de carbono. Para Alvarez, o sucesso da manutenção da floresta em pé se dará a partir da geração de riquezas, formando uma cadeia de bioeconomia que considere desde um coletor de sementes, ao produtor de mudas até o maior valor agregado em produtos da sociobiodiversidade.

Drone é usado para fazer inventário da floresta no Acre

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL: Sistema é usado para fazer inventário da floresta e mensurar biomassa florestal e estoque de carbono

As pesquisas são muitas com vistas a garantir a floresta em pé. O engenheiro agrônomo e doutor em Manejo Florestal Evandro Orfanó Figueiredo, pesquisador A da Embrapa Acre, é líder do Projeto Geoflora, financiado pelo Fundo JBS pela Amazônia. O trabalho consiste em treinar algoritmos de inteligência artificial para automatizar o inventário florestal da Amazônia a partir de drones. A ideia é que o sistema reconheça espécies nativas, obtenha a sua localização geográfica e extraia métricas de copa, além de mensurar a biomassa florestal e o estoque de carbono.

A obtenção dos dados se dá por meio de fotos aéreas do dossel e por um sensor remoto, o LiDAR (Light Detection and Ranging). É uma espécie de levantamento aerofotogramétrico, com o laser aerotransportado pelo drone, que joga um feixe de luz voltado para dentro da floresta e a desenha em três dimensões. “Isso vai servir além da parte mais ambiental, também para uso em planos de manejos sustentáveis”, explica Figueiredo.

O trabalho também permitirá verificar a regeneração natural da floresta. O engenheiro agrônomo assinala que a selva amazônica mantém um banco próprio de sementes e resto de material genético, pedaço de raízes, tubérculos, e, mesmo depois das árvores cortadas, a floresta tem capacidade de retornar. “A regeneração é muito mais forte que o reflorestamento”, pontua Figueiredo, observando que às vezes tem o desmatamento, mas tem o incremento da área que foi usado por um a três anos e abandonada.

Avião agrícola faz dispersão de sementes no deserto

DISPERSÃO DE SEMENTES: projeto foi realizado com um Antonov AN-2, a versão agrícola do velho avião russo.
Foto: China People’s Daily

Entre projetos desenvolvidos por escolas, experimentos realizados por governos estaduais (leia mais nas páginas 14 e 15), o setor aeroagrícola vai aumentando seu leque de atividades. Além de se aproximar das comunidades onde atua, mostra que sua importância na redução do gás carbono vai além do trabalho na proteção das florestas plantadas e semeadura em matas nativas. A novidade vem da China. Em dezembro, o governo chinês começou operações de semeadura aérea no deserto de Taklimakan, no noroeste do País.

A técnica é a mesma já utilizada em uma operação aeroagrícola em 2019, no interior paulista. As sementes foram encapsuladas por uma espécie de argila com nutrientes, que servem também para segurar a umidade e evitar que sejam devoradas por pássaros, e dispersadas por avião agrícola. Na China, o trabalho foi realizado por um biplano agrícola Antonov AN-2, de fabricação russa.

A ideia é frear o avanço do Taklimakan sobre cidades, áreas verdes e de produção rural. O deserto é considerado o segundo maior do mundo de areais móveis – mais de 330 quilômetros quadrados. Em 2021, o governo chinês havia restaurado cerca de 380 mil quilômetros quadrados de florestas e 1,5 milhão de quilômetros de áreas junto a rios e lagos, entre outras iniciativas. Em 2022, mais de 300 mil árvores saxaul uma espécie “parente” da vegetação existente na Caatinga e no Cerrado do Brasil foram plantadas. A ação mais recente envolvendo a aviação agrícola  tem como principal objetivo proteger a bacia do Rio Tarim.

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