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Biológicos avançam e ampliam mercado para aeroagrícolas

Adoção de produtos biotecnológicos em lavouras convencionais aumentou em quatro anos 61.2% e produtor e operador sentem impacto no volume de aplicações

Publicado em: 09/10/23, 
às 15:55
, por IBRAVAG

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“Biológicos sempre que possível e o químico quando necessário.” A frase da diretora de Produtos Biológicos da CropLife Brasil, Amália Borsari, reflete o avanço do uso de bioinsumos nas lavouras convencionais. A taxa de adoção dos biológicos de 2018 para 2022 cresceu 61.2%. O dado é da pesquisa encomendada pela associação, que reúne empresas e instituições que atuam na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para a produção agrícola, para a S&P Global Commodity Insight e reflete um volume comercializado do produto superior às projeções feitas em 2021.

Um mercado que vem crescendo a passos largos e que promete aumentar a área voada pelas aeroagrícolas, tendo em vista que os biológicos exigem mais entradas na lavoura. O produtor rural de Luziânia/GO, Carlos Alberto Moresco, confirma a maior exigência operacional: “os bioinsumos são como vacinas, precisamos sempre fazer doses de reforço”.

Mesmo assim, entende que compensa a adoção da tecnologia integrada com os sintéticos. “Uma aplicação com químico custa 100 reais, com biológico, dez reais.” Mesmo com o custo do avião, os biológicos ainda têm a sua preferência. “É interesse do produtor produzir e preservar o meio ambiente”, explica Moresco. E deixa claro que o avanço do uso de biológicos nas lavouras brasileiras é a busca pela sustentabilidade do agro.

Quem viu o volume de aplicação com biológicos aumentar significativamente nos últimos quatro anos, foi o operador aeroagrícola Mauro Moura. Diretor da Centroar Agro Aéreo e da Agro Brasil, ele destina desde 2017 um avião somente para aplicar orgânicos. A exigência foi feita por uma usina de cana-de-açúcar do Vale São Patrício, norte de Goiás, que o operador atende há 23 anos. O objetivo da empresa era ampliar a área de orgânicos e buscar certificações nacionais e internacionais para colocar um novo açúcar no mercado.

Embora seja possível descontaminar o avião de forma a não ficar nenhum resíduo do produto químico, Moura entende que o trabalho na usina comporta uma aeronave só para ela. O “avião verde”, como é chamada a aeronave adesivada com selo Orgânico, foi destaque em reportagem na edição de setembro/2019 da Revista Aviação Agrícola (Revista AvAg). Na época, Oliveira já vislumbrava o crescimento do mercado para aplicação aérea de biológicos não só em lavouras orgânicas, mas, principalmente, nas convencionais.

Produto exige respeito aos princípios básicos da aplicação

EVOLUÇÃO: Brito destaca eficiência do biológico no controle de pragas e doenças

Para o engenheiro agrônomo Marcelino Borges de Brito, gerente e Desenvolvimento de Mercado da Koppert Brasil, empresa holandesa que chegou no Brasil em 2011, a aviação agrícola é uma ferramenta importante que o produtor rural pode dispor no manejo com produtos biológicos. Possibilidade, que no seu entender, deve-se à indústria, que evoluiu e está construindo formulações e organismos que, de certa forma, o produtor rural não precise adotar manejos muito diferentes do que já fazia com a molécula sintética.

No entanto, adverte que o produtor precisa respeitar as limitações da tecnologia de aplicação e seguir seus princípios básicos, como temperatura e umidade do ar. E esclarece: “aplicar ao meio-dia é um problema sério para a gota chegar no alvo, que seria a praga ou doença da planta. Se a gota não chega no alvo, obviamente o produto não vai entregar a performance dele”.

Brito faz questão de ressaltar que o biológico é eficaz e que o agricultor percebeu que só com agroquímicos não consegue produzir mais com a mesma produtividade. Existem pragas que ganharam resistência às moléculas sintéticas. “Aí, o produtor viu a necessidade de inserir um produto biológico no sistema para quebrar a resistência dessas pragas e voltar a ter um nicho de equilíbrio, evitando perdas na lavoura”, explica o agrônomo.

Escalada das moléculas orgânicas ocorreu a partir da Helicoverpa armigera

De acordo com a diretora de Produtos Biológicos da CropLife, a engenheira agrônoma Amália Borsari, ocorreu um crescimento muito grande dos produtos biológicos nos últimos cinco anos. Movimento que começou a acelerar a partir de 2010/2012 com o advento da Helicoverpa armigera, uma espécie de mariposa, que ataca principalmente grãos e ocorre em todas as regiões do País. E os biológicos acabaram sendo os únicos capazes de conter a praga.

Porém, o uso de biológicos nas lavouras vem em uma curva ascendente mais acentuada desde o ano 2000. E nos últimos cinco anos deu um salto. A pesquisa da safra 21/22 da S&P Global aponta que taxa média de adoção do controle biológico subiu para 28% do total da área plantada estimada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que era de 85,7 milhões de hectares. Na pesquisa de 2019/20, a taxa média estimada foi de 17%.

Porém, a gestora avisa que não há perspectiva dos bioinsumos substituírem completamente os químicos. “São tecnologias complementares”, pontua. Mesmo assim, há projeção de um crescimento maior de moléculas orgânicas do que sintéticas nos próximos anos. E o motivo é simples. O mercado de químicos já está muito maduro. Então, na proporção, vai chegar ao campo maior volume de novos bioinsumos.

AVANÇO: Amália destaca que o Brasil possui hoje a maior indústria de insetos para controles biológicos do mundo

Para isso, a indústria já vem se preparando há bastante tempo. De acordo com a diretora de Produtos Biológicos da CropLife, hoje existem próximo a cem novos players no mercado. Está falando de indústrias que multiplicaram em termos de volume de produção por dez em um curto período. “Eu tenho alguns exemplos de empresas que dobraram a capacidade produtiva de um ano para outro”, destaca.

Os investimentos existem e são grandes porque não existe uma tecnologia pronta. Amália explica que o Brasil teve que buscar conhecimento para desenvolver a tecnologia. “Hoje, nós temos a maior indústria de insetos do mundo para controle biológico”, comenta a engenheira agrônoma. Um resultado a que se chegou unindo experiências da indústria farmacêutica e alimentícia, bem como adaptando processos fermentativos para o desenvolvimento desse setor.

Expectativas dos produtores (Fonte: Sumário Executivo Biodefensivos Mercado Brasileiro | Safra 2021/22 – CropLife Brasil/S&P Global)

Com os produtos biodefensivos

  • Maior eficiência de controle 29%
  • Maior durabilidade / vida útil 25%
  • Formulação dos produtos 21%
  • Menos exigências no armazenamento 14%
  • Compatibilidade em misturas de produtos 8%
  • Embalagens 3%
  • Custo/preço menor 2%

Com os fabricantes biodefensivos

  • Testes de campo mostrando resultados dos produtos 46%
  • Apoio/assistência técnica no campo 40%
  • Pós-venda para avaliar resultados dos produtos 38%
  • Orientações sobre o uso correto de produtos 29%
  • Diversificação do portfólio de produtos 28%
  • Redução de preços 7%

Projeção é que 75% do controle seja feito por biológicos em 25 anos

EFICIÊNCIA: Silveira diz que 40% das
lavouras de milho estão usando bioprodutos

“Considerando o ritmo de crescimento dos últimos anos, a área sob controle biológico no Brasil deve ser superior a 70 milhões de hectares.” A estimativa foi extraída do artigo assinado pelo pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Meio Ambiente Wagner Bettiol e pelo pesquisador da Universidade Federal de Lavras (Ufla) Flávio de Medeiros, publicada em março no portal da unidade, remete à liderança do País na produção e consumo de biocontroles.

A evolução dos biológicos começou na década de 1960, com o uso do fungo Metarhizium anisopliae para controle da cigarrinha da cana-de-açúcar, e ganhou impulso no início dos anos 2000, com a regulamentação sobre os bioprodutos. Um processo sem volta e que deve evoluir ainda mais. “Em 25 anos, 75% do controle de pragas e doenças da lavoura será feito por biológicos”, sinaliza Bettiol. Atualmente, soja, milho, algodão e cana-de-açúcar lideram o ranking de áreas atendidas pelos bioprodutos. Porém, outras culturas também estão fazendo o manejo integrando agroquímicos e biológicos, engrossando esse percentual.

O diretor-executivo da Associação Brasileira de Bioinsumos, Reinaldo Minaré, lembra que hoje quase na totalidade da lavoura da soja é utilizado inoculante, que são bioinsumos destinados a fixar o nitrogênio no solo. Existem outros bioprodutos – formulados com microrganismos e macrorganismo – e químicos que combatem as pragas e doenças da lavoura. O gestor acredita que hoje entre 28% e 30% do total da área plantada do Brasil, incluindo lavouras convencionais e orgânicas, recebem tratamento biológico. “É um volume de aplicação de biológicos que é muito grande e é o começo”, frisa o executivo.

Minaré chama a atenção para a importância dos bioinsumos para melhorar a qualidade das lavouras e a qualidade nutricional dos alimentos. O gestor lembra que o biológico é um dos componentes do que se chama agricultura regenerativa. “O conjunto de macrorganismos, que são as vespas, e microrganismo, fungos, bactérias, entre outros, são responsáveis pela incorporação da matéria orgânica no solo”, explica Minaré. Esses elementos junto com remineralizadores, ou biofertilizantes, e plantas de cobertura do solo, recompõe a microbiota do solo, tornando a terra mais rica em nutrientes. Assim, o próprio solo protege a planta.

A exemplo da soja e algodão, os produtores de milho também aderiram ao uso de bioprodutos. O diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira, acredita que em torno de 40% das lavouras estão trabalhando com biológicos integrados à sintéticos. “Ainda não temos como controlar todas as pragas só com moléculas orgânicas.” Entende que é um segmento que ainda vai crescer muito, lembrando que vê a movimentação da indústria em busca de microrganismos e macrorganismos cada vez mais eficientes.

Nas lavouras de arroz, os biológicos estão entrando especialmente no tratamento de sementes e controle de percevejo. De acordo com o engenheiro agrônomo Maurício Ferreira, que atua consultor agrícola no segmento de arroz e soja, as lavouras de arroz ainda estão iniciando o processo de inserção das moléculas orgânicas no trato das lavoura nas fazendas que atua.

Para ler o artigo dos pesquisadores da Embrapa e Ufla sobre biocontroles no Brasil, acesse AQUI

No algodão, bioproduto é questão de sobrevivência

“Os biológicos é uma questão de sobrevivência para os produtores de algodão”, sinaliza o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o engenheiro agrônomo Márcio Portocarrero. O cultivo de longo prazo – 200 dias entre plantio e colheita – em um clima tropical como o do Brasil, torna o uso de biocontroles fundamental para manter a lavoura saudável e garantir as certificações – como da Better Cotton Iniciative (BCI) –, que fazem o algodão brasileiro ser valorizado no mercado externo.

Conforme o executivo, atualmente 20% da área plantada é tratada com bioinsumos. A tendência é reduzir cada vez mais essa diferença em relação aos químicos. Para isso, Portocarrero alerta que precisam ser desenvolvidas ainda novos produtos. Nesse sentido, existe um trabalho muito forte no setor, envolvendo a comunidade científica que atua na produção de algodão. A ideia é cada vez mais integrar biológicos e sintéticos criando uma medida de controle mais eficiente.

Uma mostra disso é a taxa de adesão de bioinseticidas no algodão para controlar a lagarta e nematóides na safra de 2019/2020 que foi de 9%. Neste ano, o uso está na média de 30%. Novas formulações estão chegando e ampliando o leque de opções para o produtor rural. Uma construção que, segundo Portocarrero, mesmo com o custo dos biológicos e químicos equiparados, “o produtor ganha na estabilidade da proteção do meio ambiente e da saúde. Esse é o caminho”, orienta.

CONSTRUÇÃO: Portocarrero vê nos bioinsumos o caminho da estabilidade e proteção ambiental
REFERÊNCIA: Renata reforça equilíbrio entre produção e meio ambiente

CANA-DE-AÇÚCAR

Embora, não tenha uma proporção definida entre uso de biológicos e sintéticos na cana-de-açúcar, pois os manejos ocorrem diante da necessidade da planta, o uso de controle biológico pelo setor sucroenergético é uma prática amplamente difundida e consolidada. A coordenadora de Sustentabilidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), Renata Camargo, destaca o uso da biotecnologia no controle da broca-da-cana e da cigarrinha da cana-de-açúcar.

Renata reforça que o setor sucroenergético tem buscado sempre o equilíbrio entre produção e meio ambiente. “O setor sucroenergético já é uma referência para o agronegócio em termos de baixa demanda de agrotóxicos, seja de origem química, seja como insumo biológico”, pontua. E dentro dessa proposta, o uso da aviação agrícola é uma ferramenta importante, porque depois de determinada fase do crescimento da planta fica impossível a aplicação pela via terrestre.

Além disso, Renata destaca os atributos da aplicação aérea, aviões ou drones. Segundo a gestora, a ferramenta confere maior segurança à operação. Entre os predicados expostos por ela estão a redução do contato direto do aplicador com o produto e garantia de maior controle sobre o volume de calda aplicado, conferindo maior eficiência à operação.

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