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AVIAÇÃO AGRICOLA – TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO AÉREA NO CONTROLE DE FERRUGEM ASIÁTICA NA SOJA

Testes em cultura de soja avaliaram a deposição de calda no dossel da lavoura, em aplicações de fungicidas e adjuvantes para o controle da ferrugem asiática. A análise das aplicações por via aérea e terrestre abrangeram os resultados de produtividade.

Publicado em: 14/03/20, 
às 15:47
, por IBRAVAG

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Autores

GUSTAVO P. DE ANDRADE (1), JADER J. FRANCO (2), LAERCIO L. HOFFMANN (3), ADILSON JAUER (4), WENDEL C. SILVEIRA (5).

1 Eng. Agr. M. Sc., Fitossanidade, Mirim Aviação Agrícola LTDA – Av. Fernando Osório, 590 – Pelotas, RS., gustavo@mirimaviacao.com.br. – 2 Eng. Agr. M. Sc., Fitossanidade. – 3 Eng. Agr. Dr., Desenvolvimento Técnico de Mercado – Syngenta. – 4 Eng. Agr. Dr., Desenvolvimento Técnico de Mercado – Syngenta. – 5 Graduando em Agronomia – Unopar

Resumo

O objetivo do trabalho foi avaliar a deposição de calda no dossel da cultura da soja, o controle de Phakopsora pachyrhizi e a produtividade da cultura em função da aplicação de fungicidas e adjuvantes por via aérea e terrestre. Os tratamentos constaram da aplicação por via aérea com atomizadores rotativos de tela (10 L ha-1 e 15 L ha-1) e aplicação terrestre com pontas de pulverização Hypro Defy 3D (150 L ha-1), nos estádios R1 e R1+15 dias da cultura da soja, utilizando os seguintes fungicidas e adjuvantes, em diferentes momentos: Elatus® (0,2 kg ha-1), Cypress® (0,3 L ha-1), Unizeb Gold® (1,5 kg ha-1), Nimbus® (0,5 L ha-1) e Ochima® (0,25 L ha-1). Foram avaliadas a deposição de gotas, a severidade de ferrugem e a produtividade da cultura. Os tratamentos com aplicação de fungicidas por via aérea ou terrestre foram eficientes e resultaram na redução da severidade da ferrugem asiática e no aumento de produtividade da cultura da soja. A aplicação aérea com atomizador rotativo de telas e volume de calda de 15 L ha-1, com as combinações de fungicidas e adjuvantes dos tratamentos 4 (Elatus+Unizeb Gold+Nimbus) e 5 (Elatus+Unizeb Gold+Ochima), apresentaram, de modo geral, os melhores resultados de redução da severidade de ferrugem nos diferentes terços da cultura. Não foram observadas diferenças entre o uso do adjuvante Nimbus ou Ochima.

Palavras-chave

Phakopsora pachyrhizi, tecnologia de aplicação, atomizador rotativo, ponta 3D.

Introdução

A estimativa de produção de soja no Brasil na safra 2019/20 é de 123,2 milhões de toneladas do grão, numa área de aproximadamente 35,8 milhões de hectares (CONAB, 2020). Dentre os fatores limitantes de produtividade na cultura, destaca-se a ferrugem asiática da soja causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, considerada a doença mais severa da cultura, podendo acarretar em perdas de produtividade de até 90% (GODOY et al., 2016). A eficiência dos fungicidas no controle da ferrugem depende, em parte, da qualidade da pulverização (DURÃO E BOLLER, 2017), sendo a deposição de gotas um dos componentes mais importantes (CUNHA et al., 2008) e depende, entre outros fatores, do volume de aplicação, da calibração, do tipo de equipamento utilizado e dos adjuvantes utilizados na calda. Dentre os principais métodos de aplicação de produtos fitossanitários, destacam-se a aplicação aérea com o uso de atomizadores rotativos de tela e a aplicação terrestre com barras equipadas com bicos, que dispões de variados modelos de pontas de pulverização, incluindo a ponta de pulverização Hypro Defy 3D, desenvolvida para a aplicação de fungicidas em alvos de difícil cobertura. Nesse contexto, o objetivo do trabalho foi avaliar a deposição de calda no dossel da cultura da soja, o controle de Phakopsora pachyrhizi e a produtividade da cultura soja em função da aplicação de fungicidas e adjuvantes por via aérea com atomizadores rotativos de tela e via terrestre com pontas 3D.

TRATAMENTOSVOLUME DE APLICAÇÃO
(L ha-1)
CALIBRAÇÃOTAMANHO DE GOTAS
T1Testemunha
T2
T3
T4
T5
Atomizador Rotativo de Tela – Aéreo15Ângulo de pás em 55° – VRU (disco) 9, com Fluxômetro (2,5bar).Média

T6
Atomizador Rotativo de Tela – Aéreo10Ângulo de pás em 55° – VRU (disco) 6, com Fluxômetro (2bar).Média
T7Ponta Hypro Defy 3D150110015 – 2 barFina
Tabela 1: Equipamentos e calibração para aplicação dos tratamentos em R1 e R1+15 na cultura da soja. Arroio Grande, RS, 2017/18.
Aplicação aérea com atomizador
Atomizador

Material e métodos

O experimento foi conduzido em lavoura comercial de soja na safra agrícola 2017/18, no município de Arroio Grande – RS, latitude 31°05’29.70’’ S e longitude de 52°56’44.90’’ O. Foi utilizada a cultivar GARRA IPRO, densidade de semeadura de 13 sementes por metro e espaçamento entre linhas de 0,45 m, semeada no dia 04/12/2017. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com sete tratamentos (Tabela 1) e cinco repetições. Para os tratamentos aéreos foi utilizada aeronave agrícola modelo Ipanema EMB 202A, operando a 3 metros do topo da cultura, equipada com oito atomizadores rotativos de tela, calibrados para produção de gotas médias e dois volumes de aplicação, controlados por fluxômetro. As unidades experimentais para os tratamentos aéreos foram obtidas pela aplicação de 4 faixas de 18 m de largura por 700 m de comprimento, garantindo desta forma a sobreposição adequada com vento de “través” (lateral ao sentido de deslocamento). Para o tratamento terrestre e a testemunha, foram demarcados 10 pontos na lavoura, cobertos com lonas plásticas de 24 m2 (6 m de comprimento x 4 m de largura) antes das aplicações dos tratamentos aéreos. Destes, 5 pontos foram utilizados para aplicação do tratamento terrestre, utilizando pulverizador costal pressurizado a CO2, equipado com barras de 4 metros de largura e pontas Hypro Defy 3D 100015, reguladas para produção de gotas finas. Já para as testemunhas, mantiveram-se sem aplicação os demais pontos. As aplicações foram efetuadas nos estádios R1 e R1+15dias da cultura da soja. No estádio R1, os produtos aplicados em cada tratamento foram: Testemunha (T1); Elatus+Cypress+Nimbus (T2); Elatus+Cypress+Ochima (T3); Elatus+Unizeb Gold+Nimbus (T4); Elatus+Unizeb Gold+Ochima (T5); Elatus+Cypress+Ochima (T6) e Elatus+Cypress+Ochima (T7). Já em R1+15 dias foram: Elatus+Unizeb Gold+Nimbus (T2); Elatus+Unizeb Gold+Ochima (T3); Elatus+Cypress+Nimbus (T4); Elatus+Cypress+Ochima (T5); Elatus+Cypress+Ochima (T6); Elatus+Cypress+Ochima (T7). Nos dois momentos, as doses utilizadas de cada produto foram: Elatus (0,2 kg ha-1); Cypress (0,3 L ha-1); Nimbus (0,5 L ha-1); Unizeb Gold (1,5 kg ha-1) e Ochima (0,25 L ha-1). As condições meteorológicas foram monitoradas com estação meteorológica Kestrel 3500DT em todas as aplicações e mantiveram-se dentro dos limites ideais. Foram avaliadas a deposição de gotas por meio da coleta em cartão hidrossenssível e posterior análise no software Stain Master, a severidade de ferrugem no estádio R6 através da escala diagramática (GODOY et al., 2006) e a produtividade da cultura, obtida através da colheita manual de área útil de 2,7 m2. Após a colheita, foi realizada trilha, limpeza e pesagem dos grãos e, posteriormente, os dados foram corrigidos para 13% de umidade e convertidos em kg ha-1. Além disso, determinou-se o índice de área foliar (IAF) da cultura nas aplicações realizadas nos estádios R1 e R1+15.

TRATAMENTOTERÇOSPRODUTIVIDADE
(kg ha-1)
SUPERIORMÉDIOINFERIOR
Testemunha18,537,81002716
20,8*1 c212,5* b45,8* a3364NS3 a
31,1* bc22,6* a35,5* b3346NS a
41,4* bc3,5* d6,5* d3373NS a
52,9* a6,3* cd9,4* d3473* a
61,8* b11,0* b24,7* c3202NS a
70,8* c9,5* bc9,5* c2994NS a
CV4729,629,613,0
Tabela 2: Severidade de ferrugem no estádio R6, nos terços superior, médio e inferior e produtividade da cultura da soja em função dos tratamentos com fungicidas e adjuvantes e diferentes equipamentos. Arroio Grande, RS 2017/18.

1* média difere da Testemunha pelo teste Dunnett (p≤0,05). 2NS: não significativo pelo teste F (p≤0,05). 3Médias seguidas por mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Duncan (p≤0,05).
Testemunha – coberta com lona
Estação meteorológica
Estação meteorológica
Figura 1: Densidade de gotas nos terços superior (S), médio (M) e inferior (I) no dossel da cultura da soja nas aplicações em R1. Arroio Grande, RS, 2017/18.
Figura 2: Densidade de gotas nos terços superior (S), médio (M) e inferior (I) no dossel da cultura da soja nas aplicações em R1+15. Arroio Grande, RS, 2017/18.

Resultados e discussão

Na aplicação em R1 o IAF da cultura foi de 6,1:1 e em R1+15 foi de 6,8:1. Considerando-se os valores absolutos, a aplicação aérea, assim como a terrestre, apresentou densidades de gotas semelhantes nos dois estádios de aplicação (Figuras 1 e 2). No entanto, a aplicação aérea com volume de 10 L ha-1 apresentou, em números absolutos, menor deposição de gotas nos diferentes terços da cultura e, em todos os terços avaliados, o tratamento terrestre proporcionou maior cobertura do dossel foliar. Esta maior cobertura encontrada no tratamento terrestre pode estar associada à produção de gotas finas (regulagem utilizada no tratamento 7, Tabela 1) as quais no geral podem proporcionar uma maior penetração no dossel foliar. Entretanto o uso de gotas finas aumenta consideravelmente o risco de evaporação e deriva, geralmente inviabilizando este tipo de regulagem em condições reais de aplicação. Conforme destaca Cunha et al., (2008), a cobertura do dossel da soja, proporcionada pela aplicação de fungicida, em geral é baixa, principalmente na parte inferior, resultando em controle ineficiente. Todos os tratamentos fungicidas diferiram significativamente da testemunha, apresentando menores índices de severidade da ferrugem asiática (Tabela 2). Nos terços médio e inferior, de modo geral, os tratamentos fungicidas 4 e 5 com aplicação aérea, apresentaram os menores índices de severidade da doença. Em relação à produtividade, apenas o tratamento 5 foi significativamente superior a testemunha mas, considerando-se os valores absolutos, todos os tratamentos foram superiores, com ganhos de produtividade variando entre 10,2% a 27,8%, (Tabela 3). Não foram observadas diferenças significativas de produtividade entre os tratamentos com aplicação de fungicidas e diferentes adjuvantes. No entanto, considerando-se os valores absolutos, verifica-se que os tratamentos aplicados via aérea resultaram em produtividades superiores ao tratamento via aplicação terrestre (T7), com diferenças entre 6,5% a 13,8% a mais de produtividade.

Coletores de gotas
Coletores de gotas
Coletores de gotas (setas vermelhas) e testemunha (seta amarela)
Mapa da área tratada antes da aplicação aérea
Software para análise de gotas
Mapa da área após a aplicação, com o registro das faixas aplicadas

Conclusões

Os tratamentos com aplicação de fungicidas por via aérea e o tratamento terrestre foram eficientes e resultaram na redução da severidade da ferrugem asiática e no aumento de produtividade da cultura da soja. A aplicação aérea com atomizador rotativo de telas e volume de calda de 15 L ha-1, com as combinações de fungicidas e adjuvantes dos tratamentos 4 e 5, apresentaram os melhores resultados. Não foram observadas diferenças entre o uso do adjuvante Nimbus ou Ochima e, as diferenças encontradas na severidade de ferrugem estão associadas ao posicionamento dos fungicidas nos diferentes estádios de aplicação.

Referências

CONAB, Companhia Nacional de abas-
tecimento. Acompanhamento da Safra Brasileira – Grãos, Safra 2019/20, N.7. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos/boletim-da-safra-de-graos. Acessado em 03 março. 2020.

CUNHA, J. P. A. R.; MOURA, E. A. C.;
SILVA JÚNIOR, J. L.; ZAGO, F. A.; JULIATTI, F. C. Efeito de pontas de pulverização no controle químico da ferrugem da soja. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.28, n.2, p.283-291, 2008.

DURÃO, C.F; BOLLER, W. Desempenho
de pontas de pulverização em aplicações de fungicida para o controle de ferrugem asiática da soja. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v.37, n.4, 2017.

GODOY, C.V.; KOGA, L. J.; CANTERI,
M. G. Diagrammatic scale for assessment of soybean rust severity. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.31, n.1, p.63-8, 2006.

GODOY, C.V.; SEIXAS, C.D.S.; SOARES,
R.S.; MARCELINOGUIMARÃES, F.C.; MEYER, M.C.; COSTAMILAN, L.M. Asian soybean rust in Brazil: past, present, and future. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.51, n.5, p.407-421, 2016.

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