A aviação agrícola brasileira entrou 2020 com 2.280 aeronaves (2.265 aviões e 15 helicópteros), com um crescimento de 3,99% em 2019, devido ao acréscimo de 86 aeronaves à frota. Os dados são do levantamento feito pelo engenheiro agrônomo, consultor e ex-diretor do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Eduardo Cordeiro de Araújo. Os números são do Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
A taxa de crescimento mantém a retomada do setor verificada em 2018, quando cresceu 3,74%, depois de um 2017 com incremento de apenas 1,53%. Boa fase que teve ecos também fora do País: enquanto a indústria de aviões agrícolas dos Estados Unidos teve diminuição nas encomendas do ano passado, a entrega de aparelhos para o Brasil chegou a representar quase metade da produção para uma das fábricas. Aliás, a força aérea agrícola brasileira segue como a segunda maior do mundo, atrás apenas dos norte-americanos, que contam com cerca de 3,6 mil aeronaves – segundo a Associação Nacional de Aviação Agrícola dos Estados Unidos (NAAA, na sigla em inglês). Os brasileiros estão à frente ainda de potências como o México (2 mil aeronaves), Argentina (1,2 mil aeronaves) e Austrália (300 aeronaves), entre outras.
Reflexo (e, em parte, causa) de um campo mais produtivo por aqui. Desde 2018, o Brasil vem rivalizando com os norte-americanos no topo do ranking mundial da produção de soja: não conseguiu ultrapassar o Tio Sam naquele ano devido a uma seca no Paraná. Mas, para 2019/2020, uma nova previsão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) aponta nesse sentido. Enquanto isso, a ferramenta aérea segue como fundamental para a produtividade em outras lavouras essenciais para a balança comercial brasileira, como a cana-de-açúcar, o milho, arroz, algodão, frutas, café e até, indiretamente, na pecuária – onde aviões são importantes no plantio de pastagens. Ou seja, mais do que nunca, um setor que ajuda a alimentar, vestir e mover o País.
Número de empresas aeroagrícolas passou de 253 para 267
O estudo Frota Brasileira de Aeronaves Agrícolas – 2019 abrange também o número de empresas aeroagrícolas (categoria SAE-AG, que são as prestadoras de serviços aos produtores), que passou de 253 em 2018 para 267 este ano – aumento de 5,13% (superior aos 3,7% de crescimento em 2018). Já a quantidade de operadores privados (categoria TPP, que são os agricultores, fazendas empresariais ou cooperativas que têm suas próprias aeronaves) chegou a 650 no final de 2019 – eram 585 no ano anterior.
Já a proporção na distribuição de frota entre operadores SAE e TPP ficou a seguinte:
- 1.427 aeronaves (62,59%) estão com as 267 empresas aeroagrícolas – operadores de Serviço Aéreo Especializado Agrícola (SAE/AG).
- 825 aeronaves (36,18%) são dos cerca de 650 operadores de Serviço Aéreo Privado (TPP).
- As 28 aeronaves restantes na conta são de governos ou autarquias federais ou estaduais, além de protótipo e aeronaves de instrução. Por exemplo, aviões pertencentes a corpos de bombeiros (combate a incêndios), os usados pela Academia da Força Aérea e aparelhos das seis escolas de formação pilotos agrícolas do País.
No topo do ranking, Mato Grosso recebe 30 aviões
O balanço da frota aeroagrícola é feito pelo consultor Eduardo Araújo desde 2012, com base nos arquivos da Anac. Como das outras vezes, ele considerou os números da frota de 2019 em 31 de dezembro, abrangendo também as unidades da Federação. Nesse ponto, o ranking por Estados continua liderado pelo Mato Grosso, cuja frota também foi a que mais cresceu. São agora 524 aviões agrícolas, 30 aparelhos a mais do que no levantamento anterior.
Em segundo vem o Rio Grande do Sul, que fechou 2019 com 426 aviões agrícolas em seu território – um a menos do que em 2018. Já São Paulo tem a terceira maior frota e foi o segundo Estado em que a aviação agrícola mais cresceu no País: são 339 aeronaves, 22 a mais do que no balanço anterior.
Além de aeronaves novas que entraram no mercado, o balanço tem reflexo ainda de empresas que foram transferidas de Estado, por venda ou arrendamento. Conforme Araújo, o estudo considerou para o ranking o domicílio do operador de cada aeronave (fosse ele o proprietário ou a tivesse arrendada).
Assim, Goiás, o quarto no ranking, tem 10 aviões a menos (total 277 aparelhos atualmente). E o Paraná, quinto na lista, ganhou sete aviões, passando para 141. Outros seis Estados tiveram aumento de frota, cinco diminuíram e cinco Estados mais o Distrito Federal ficaram estáveis. Uma novidade na lista foi o Amapá, que não aparecia no levantamento anterior e agora conta com uma aeronave agrícola registrada.
Embraer ainda lidera ranking de fabricantes
Embora tenha registrado aumento de 11 aviões da marca no relatório das aeronaves agrícolas no Brasil, totalizando 1.284 aparelhos em 2019, a Embraer perdeu participação, de 58,02% em 2018 para 56,32% da frota no ano passado. Mas nada que lhe tirasse a franca liderança entre 16 fabricantes. A segunda colocada é a norte-americana Air Tractor, que tem 418 aviões, 18,33% do total.
A vedete da Embraer, o Ipanema 203, é a sétima geração do modelo lançado nos anos 1970. Graças a um diferencial importante: desde 2004 (modelo 202 A) o Ipanema sai de fábrica movido a etanol. Com motor a pistão, como 81% da frota nacional, o avião nacional atingiu no final de 2018 o total de 1,4 mil unidades entregues pela fábrica. Das quais 1.284 figuram nos registros da Anac.
Helicópteros seguem abrindo espaço
Esta é a terceira edição do estudo que abrange também a frota de helicópteros atuando nas lavouras. As asas rotativas voltaram ao mercado aeroagrícola brasileiro em 2016, depois de terem ficado fora dos campos desde o final dos anos 1970, por motivos econômicos. Justamente o fator que agora está favorecendo sua volta, buscando nicho em áreas de geografia acidentada, com muitos obstáculos ou sem pista próxima (o pouso de abastecimento pode ser feito sobre o caminhão de apoio).
Atualmente, eles ainda representam 0,65% do total de aeronaves, mas com boas expectativas. Nos Estados Unidos, por exemplo, os helicópteros são 15% da frota no trato de plantações, segundo a NAAA. No entanto, Araújo lembra que o resultado do levantamento nesse segmento deve ser visto com alguma cautela. “Em função da dificuldade em identificar, no banco de dados da Anac, os helicópteros certificados como agrícola”, assinala o consultor.
País ganha importância no mercado global de turboélices
O balanço da frota aeroagrícola em 2019 também comprovou que segue firme a tendência de aumento da fatia dos aviões turboélices no mercado brasileiro, repetindo aqui o fato que ocorreu a partir dos anos 70 nos Estados Unidos. Atualmente, lá as aeronaves turbo já representam quase 70% da frota. No Brasil, os turboélices eram 7,27% de todas as aeronaves agrícolas em 2011. No final de 2019, esse percentual já havia saltado para 18,96%. Comparando o segmento com todo o setor, o desempenho fica mais expressivo: enquanto toda aviação agrícola brasileira cresceu 46% nos últimos dez anos, no mesmo período o aumento entre os turboélices bateu os 252%
Desempenho que também colocou o Brasil como principal mercado mundial do segmento no último ano, segundo relatório da Associação dos Fabricantes da Aviação Geral dos Estados Unidos (GAMA, na sigla em inglês), divulgado em fevereiro. O levantamento da instituição apontou que a aviação de asas fixas teve a as mais altas vendas da década… menos entre os turboélices. Segundo o portal Flight Global (um dos principais sites sobre mercado aeronáutico global), justamente pela menor demanda no setor agrícola norte-americano. E é aí que o Brasil ganhou importância.
Dos 145 turboélices agrícolas fabricados em 2019, foram 119 da texana Air Tractor e 26 da Thrush Aircraft, no Estado norte-americano da Georgia. A Air Tractor, maior fabricante de aeronaves agrícolas do planeta, exportou para a América do Sul mais da metade de sua produção. De 72 aviões, 53 vieram para o Brasil (outros cinco foram para a Argentina, três para o Chile e um para a Bolívia).
CRESCIMENTO
“No ano anterior também mais da metade da produção da fábrica tinha sido destinada para a América do Sul, em especial o Brasil”, ressalta o representante da Air Tractor no País, Fabiano Zaccarelli Cunha. “É uma questão de rendimento e custo operacional”, ressalta, sobre as vantagens dos turboélices, maiores e mais rápidos que os aviões com motores a pistão.
Já Diego Preuss, também representante brasileiro da marca, lembra que, além da soja, o crescimento foi puxado pelo aumento das lavouras de algodão no Nordeste, a maior produtividade da cana-de-açúcar e outras culturas. “Além disso os Estados Unidos estão ‘maduros’: não têm tanto espaço para expansão como o Brasil e a frota está consolidada. Ao passo que aqui há fôlego para as lavouras crescerem sem avançarem sobre áreas ambientais e a aviação agrícola vem recuperando terreno perdido para os equipamentos terrestres”. Sem falar no aumento da fatia dos turbos sobre os motores a pistão.
TABELAS
Ranking nacional
UF Aeronaves %
Mato Grosso 524 22,98
Rio Grande do Sul 426 18,68
São Paulo 339 14,87
Goiás 277 12,15
Paraná 141 6,18
Mato Grosso do Sul 132 5,79
Bahia 99 4,34
Minas Gerais 83 3,64
Tocantins 52 2,28
Pará 44 1,93
Maranhão 36 1,58
Rondônia 22 0,96
Alagoas 20 0,88
Santa Catarina 15 0,66
Distrito Federal 15 0,66
Piauí 15 0,66
Rio de Janeiro 14 0,61
Roraima 8 0,35
Pernambuco 8 0,35
Acre 3 0,13
Espírito Santo 3 0,13
Amazonas 2 0,09
Sergipe 1 0,04
Amapá 1 0,04
TOTAL 2280 100
Crescimento da frota (ano/aeronaves)
2008 1447
2009 1498
2010 1560
2011 1693
2012 1811
2013 1925
2014 2007
2015 2035*
2016 2083
2017 2115
2018 2194
2019 2280
(*) Araújo não fez estudo da frota em 2015, quando o levantamento foi feito pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa)
COMBUSTÌVEL AERONAVES %
ÁLCOOL 804 35,26
GASOLINA 1041 45,66
QUEROSENE 435 19,08
Fabricante quantidade %
Embraer/Neiva 1284 56,32
Air-Tractor 418 18,33
Cessna 280 12,28
Piper 155 6,80
Thrush 42 1,84
Ayres 19 0,83
PZL 18 0,79
Laviasa 18 0,79
Robinson 11 0,48
Chincul 11 0,48
Ag-Cat Co. 10 0,44
Aircraft Parts 4 0,18
Gippsland 3 0,13
Bell 3 0,13
Hughes 2 0,09
Bellanca 2 0,09
Aeronaves turboélices
Quantidade % da frota
2011 123 5,37
2012 159 6,95
2013 210 9,17
2014 250 10,92
2015* ————————
2016 260 11,36
2017 308 13,46
2018 365 15,95
2019 434 18,96
(*) Não houve levantamento