O dia 3 de agosto de 1921 marca o nascimento da aviação agrícola no mundo, em uma operação para combater lagartas em uma floresta comercial de catalpa, perto de Dayton, no Estado norte-americano de Ohio. A operação teve como piloto o então tenente John Arthur Macready, da Aviação do Exército dos EUA, na época com 33 anos de idade. Ele estava acompanhado do engenheiro francês (naturalizado norte-americano 12 anos depois) Etienne Dormoy, de 36 anos, que criou e operou o aparelho pulverizador (movido a manivela) acoplado na lateral da fuselagem do avião. O experimento integrou uma pesquisa do Departamento de Agricultura de Ohio e Divisão de Engenharia do Serviço Aéreo do Exército dos EUA – na época, a Força Aérea do país (USAF) ainda não existia como tal.
No Brasil, a primeira operação aeroagrícola ocorreu 26 anos depois, no município gaúcho de Pelotas. O gatilho foi o ataque de uma praga de gafanhotos, que atingiu cidades da fronteira sul e região da Campanha gaúchas. O pedido de socorro dos agricultores chegou ao engenheiro agrônomo Leôncio de Andrade Fontelles, então chefe do Posto do Ministério da Agricultura em Pelotas. Ele, por sua vez, conversou com o piloto Clóvis Gularte Candiota, do aeroclube local, para preparar uma estratégia de combate pelo ar. Enquanto encomendou de um funileiro local uma espécie de polvilhadeira manual, adaptada conforme ilustrações que teria visto em publicações estrangeiras sobre operações aeroagrícolas.
Com tudo preparado no avião, na tarde do dia 19 de agosto de 1947 veio o alerta de gafanhotos se aproximando da região do Areal (hoje bairro da cidade). A dupla decolou então para a primeira operação e, logo após a aplicação, os dois pioneiros chegaram a pensar que a estratégia não havia funcionado. A tal ponto que já estavam esperando a zombaria de amigos e conhecidos. O que durou só até o dia seguinte, quando perceberam que os agricultores comemoravam a eliminação da praga. Brasil entrava ali para o seleto clube da tecnologia aeroagrícola.
Hoje, no centenário da primeira operação nos Estados Unidos e a pouco mais de duas semanas de seus 74 anos de Brasil, as (respectivamente) duas maiores potências mundiais do setor contam com a ferramenta aérea para manter a aprimorar a alta produtividade de suas lavouras – cada vez mais necessária por três fatores: manutenção da economia, atender a demanda crescente de alimentos e insumos e evitar o avanço das fronteiras agrícolas sobre áreas ambientais. Para isso, aliás, o setor sempre foi um dos irmãos mais próximos da alta tecnologia. Laço cada vez mais estreitado em tempos de agricultura 4.0.
CONFIRA AS ATUAIS FROTAS AEROAGRÍCOLAS DE ALGUNS PAÍSES
EUA – 3,6 mil aeronaves
Brasil – 2.352 aeronaves
Argentina – 1,3 mil aeronaves
Uruguai – 135 aeronaves – 55 empresas (69)
México – 2 mil aeronaves
Nova Zelândia – 306 aeronaves (116 aviões e 190 helicópteros)
Austrália – 300 aeronaves agrícolas e cerca de 130 operadores
China – 500 aviões e 100 mil drones
Cuba – 160 aeronaves agrícolas, a maioria modelos Antonov NA-2 ou PZL m-18. Todos operado pela estatal Empresa Nacional de Serviços Aéreos (ENSA)
Espanha – 259 aeronaves agrícolas
México – cerca de 2 mil aviões
Guiana – 2 aviões agrícolas (pertencentes à Guyana Sugar Corporation (Guysuco), criada em 1976 a partir da estatização de duas empresas privadas de açúcar – São dois Thrush Commander, que tratam cana e arroz.
Suriname – 26 aeronaves (25 aviões e 1 helicóptero)
Peru – 5 aviões agrícola
Belize – 15 aviões agrícolas
Bulgária – 55 aviões, divididos entre 20 empresas
República Dominicana – 20 aeronaves e 10 empresas
Croácia – 40 aviões agrícolas
África do Sul – cerca de 100 aviões agrícolas
Paraguai – 5 empresas operando Piper PA-36, Cessna 188, Thrush 510 e Air TRactor
Filipinas – 7 empresas aeroagrícolas, atuando principalmente em lavouras de banana, da qual o país é um dos maiores produtores mundiais
Nigéria – 2 aviões agrícolas