
Cléria Regina Mossmann
Parceira do Sindag e Ibravag, a empresária é mestranda em Agronegócios, pela (UFGD), e especialista em Gestão, Inovação e Sustentabilidade Aeroagrícola, com expertise em documentação. Inclusive é habilitada pela Anac como Gestora de Segurança Operacional (GSO).
No dia 8 de março, celebramos o Dia Internacional da Mulher, uma data que nos convida a refletir sobre as conquistas femininas e os desafios ainda presentes em diversos setores. Na aviação, não é diferente. Ao longo da história, as mulheres têm lutado para conquistar espaço e reconhecimento, rompendo barreiras e provando sua competência. No segmento da aviação agrícola, essa jornada tem sido igualmente desafiadora, mas repleta de exemplos inspiradores.

O pioneirismo feminino na aviação remonta ao século XVIII, com Marie Élisabeth Thible, a primeira mulher a voar em um balão, em 1784. Desde então, muitas abriram caminho para as gerações futuras. Elise Raymonde de Laroche, na França, foi a primeira mulher a obter uma licença de piloto, em 1910. Nos Estados Unidos, Harriet Quimby fez história ao atravessar o Canal da Mancha em 1912. No Brasil, Teresa di Marzo tornou-se a primeira mulher brevetada em 1922, seguida por nomes como Anésia Machado e Ada Rogato, que se destacaram na aviação civil e aeroagrícola.

Ada Rogato foi um marco na aviação agrícola brasileira. Em 1948, tornou-se a primeira mulher piloto agrícola do País e a segunda do mundo. Em uma época em que a presença feminina no setor era quase inexistente, Ada mostrou que a coragem e a determinação eram tão importantes quanto a técnica para vencer os desafios da profissão. Sua trajetória abriu portas para que outras mulheres se interessassem pelo segmento e buscassem oportunidades na aviação agrícola.

Entretanto, apesar dos avanços, a representatividade feminina na aviação ainda é baixa. Mundialmente, a participação feminina nesse setor é limitada, com uma predominância masculina em funções como piloto e mecânico. Enquanto as mulheres compõem a maior parte das tripulações de cabine, apenas uma pequena porcentagem atua como piloto ou em cargos técnicos. No início da década de 2010, apenas cerca de 3% dos 130 mil pilotos de linhas aéreas no mundo eram mulheres, sendo que apenas uma pequena fração delas ocupava o posto de capitãs. Nos EUA, em 2018, o número de mulheres pilotos representava apenas 5,2% do total, um crescimento tímido em relação ao passado. Neste mesmo ano, entre as cinco companhias aéreas comerciais mundiais que mais empregavam mulheres pilotos, a porcentagem ficava entre 5,3% e 7,4%.

Apesar do crescimento de 189% de mulheres ingressando no treinamento de pilotagem nos EUA, entre 2015 e 2022, a porcentagem de pilotos licenciadas aumentou de forma mais lenta, indicando desafios contínuos no processo de licenciamento. Em 2023, a participação feminina em diferentes categorias de voo chegou a 10,2%, com a disparidade de gênero invertida quando se trata das comissárias de bordo, das quais cerca de 80% eram mulheres.
No Brasil, dados abertos da Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) revelam que, atualmente, 16.243 (19,6%) mulheres possuem habilitação ativa para pilotar aeronaves (aviões e helicópteros), enquanto os homens são 66.612 (80,4%). Esses dados revelam um desequilíbrio marcante na aviação, onde os homens dominam as posições técnicas e de comando.
A desigualdade de gênero também se manifesta no setor agrícola. De acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), dados de 2023 dão conta de que as mulheres representam cerca de 43% da força de trabalho agrícola global, mas a participação feminina varia consideravelmente entre os países e setores específicos. No Brasil, os dados do Censo Agropecuário de 2017, do IBGE/Embrapa, indicam que apenas 19% dos estabelecimentos agrícolas são administrados por mulheres, evidenciando uma participação significativamente inferior à masculina.
Na aviação agrícola, essa disparidade é ainda mais acentuada. Dados atuais da ANAC revelam que existem 2.293 pilotos habilitados na Categoria Piloto Agrícola de Avião (Paga). Destes, apenas 15 correspondem a pilotos femininos, ou seja, a proporção de pilotos mulheres é de 0,65%.

Essa baixa representatividade reflete os desafios enfrentados pelas mulheres no setor. O crescimento da participação feminina no setor agrícola e na aviação agrícola depende de políticas voltadas para a equidade de gênero, incluindo maior acesso à capacitação técnica, incentivos para ingresso e permanência na profissão e a desconstrução de estereótipos que associam determinadas funções exclusivamente aos homens.
Nesse sentido, Programas de mentoria, bolsas de estudo e campanhas de conscientização têm sido algumas das estratégias adotadas para estimular essa mudança e ampliar a presença feminina nessas áreas.
Neste 9 de março, brindemos àquelas que desafiaram limites e pavimentaram o caminho para as futuras gerações. A aviação agrícola tem muito a ganhar com a diversidade e a inclusão. Que possamos seguir avançando, tornando o setor cada vez mais acessível e receptivo ao talento feminino.
Referências:
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