O homem que praticamente inventou a agricultura tropical no Brasil

Atual presidente da Abramilho e ex-ministro nos anos 70, Alysson Paolinelli é reconhecido internacionalmente como um personagem que contribuiu significativamente para a produção de alimentos no mundo

Publicado em: 06/08/18, 
às 16:27
, por IBRAVAG

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Mineiro de Mambuí, Minas Gerais, o engenheiro agrônomo Alysson Paolinelli, 82 anos, é provavelmente uma das figuras de maior envergadura da história da agricultura brasileira. Ex-secretário de Agricultura de Minas Gerais e ex-ministro da Agricultura do governo Ernesto Geisel (1974 a 1979), foi o responsável pela implantação de uma política que deu ao Brasil o desenvolvimento de uma agricultura tropical até então inexistente no mundo. Para isso, fez sair do papel a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa, criada dois anos antes).

Enviou centenas de técnicos para se especializarem no exterior, trouxe especialistas de fora e criou o terreno para o desenvolvimento das pesquisas no País. Propiciou a tecnificação da produção e auxiliou diretamente a aviação agrícola brasileira. Paolinelli também foi deputado constituinte, entre 1987 e 1991, e presidente da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), de 1987 a 1990. Em 2006, recebeu o World Food Prize (Prêmio Mundial da Alimentação e da Agricultura, em tradução livre), como uma das personalidades que contribuíram para o aumento da oferta mundial de alimentos.

Atualmente preside a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), que abrange outras sete entidades similares nos Estados. Além disso, é presidente do Instituto Fórum do Futuro, um grupo de reflexão independente, que debate questões estruturantes do País, a partir da perspectiva do desenvolvimento sustentável. Participam da entidade ex-ministros de diversas pastas e governos, além de especialistas e intelectuais.

Paolinelli conversou com a revista Aviação Agrícola sobre sua trajetória e experiências e também falou sobre suas perspectivas para a agricultura brasileira. Confira a entrevista:

O senhor é filho de engenheiro agrônomo e se formou em Agronomia. Mas como foi a sua descoberta da agricultura?

Alysson Paolinelli – O meu pai, provavelmente, tenha influenciado um pouco, porque, desde pequeno, acompanhei muito o trabalho dele e achava que era uma atividade que tinha futuro. Ele foi um parceiro meu. E me aconselhou Lavras (Escola Superior de Agricultura de Lavras/ESAL). Era uma escola americana implantada no Brasil pelo Instituto Gammon. E ali eu cursei o Científico (na Escola Agrícola de Lavras, também do Instituto) e depois fiz vestibular, passei e fui para faculdade.

A escola na época tinha um modelo integrado – sala de aula e campo?

Paolinelli – Isso. Era uma escola particular, paga, mas compensava. Eu fui bem classificado e, então, ganhei uma bolsa de estudos. Fui ganhando experiência. Dois dias antes de eu me formar, o diretor, um americano de Iowa, me chamou para dizer que a missão evangélica que mantinha a escola estava saindo do Brasil. Então ficariam só os cursos primário e secundário. Enquanto isso, não estava conseguindo repor professores. E deu o xeque-mate: – Nós estudamos o seu currículo, o senhor tem competência e capacidade para assumir essa cadeira. Se o senhor não puder vir, vamos fechar o vestibular neste ano. Assim eu iniciei minha atividade como professor, em 1960.
 
Que idade o senhor tinha?

Paolinelli –  Ah! Eu tinha 23 para 24 anos. Casei seis meses depois. Eu lecionava e trabalhava e estudava feito um danado porque eu não queria deixar cair o nível. Até que surgiu a possibilidade de federalizarmos a escola – o que não era muito bem visto na época, já que normalmente era uma forma de vender patrimônio caro para a união. Lá não teve disso. A Igreja Presbiteriana Brasileira abriu mão do patrimônio.

A solução foi abraçada por todos, então?

Paolinelli – E foi uma luta tremenda. A escola foi federalizada em 1963. A partir disso, fizemos um plano para transformá-la em uma universidade. Hoje, ela (a Universidade Federal de Lavras) está lá, uma das melhores do Brasil. Fui diretor de 1967 até 1971, quando o doutor Rondon Pacheco, com quem eu tinha feito amizade em Brasília, foi eleito governador de Minas Gerais. Ele me chamou para ajudá-lo no setor agrícola. Aceitei porque a dívida que tínhamos com ele era muito grande, já que tinha sido chefe da Casa Civil do governo Costa e Silva, no período que nós gastamos para regularizar tudo aquilo. A saída da escola, confesso, foi meio a contragosto, mas eu fiz um trato com o Rondon Pacheco: ele ia me dar apoio para eu fazer uma secretaria que não existia.

Provavelmente, ele já havia visto o trabalho na universidade.

Paolinelli – Sim, ele foi lá, visitou, gostou muito. Nós fizemos um planejamento para Minas e, graças a Deus, conseguimos em pouco tempo dar uma reviravolta na agricultura mineira. Foi uma verdadeira revolução, mesmo. Tínhamos começado o aproveitamento do Cerrado e iniciamos o avanço sobre uma nova agricultura tropical em Minas.

Como o senhor percebeu essa possibilidade do Cerrado?

Paolinelli – Nós discutimos muito. O Brasil não tinha mais terra roxa. Na época, a agricultura brasileira era só em terra roxa, praticamente, mas não dava para abastecer a população urbana brasileira. Em 1960, o Brasil importava um terço dos alimentos que consumia. Isso continuou até quase 1980.

Era muita gente contra o Cerrado, que dizia que não daria certo…

Paolinelli – Tinha muita gente contra, sim, mas também teve gente a favor que ajudou muito e teve produtores que acreditaram. Fomos buscar gente até no Rio Grande do Sul. Quando a coisa já estava num avanço muito grande, o presidente (Ernesto) Geisel foi eleito (em janeiro de 1974, por um Colégio Eleitoral). Ele provavelmente foi avisado do trabalho que eu estava fazendo. Estudou tudo aquilo e me chamou para conversar. Quando cheguei, eu me assustei pelos detalhes que ele tinha na cabeça.

As conversas estavam na mesma língua, tecnicamente falando?

Paolinelli – Foi uma linguagem muito comum, muito próxima. Mas ele disse apenas que queria que eu fizesse um programa para o leite, para o Brasil inteiro. Perguntei o prazo. – Você que marca. Pedi 15 dias, mas antes disso ele me chamou outra vez. Peguei o avião e fui. Disse que o trabalho estava pronto mas faltava dar uma apurada. Ele deu uma olhada por cima, e falou: – É isso mesmo que eu quero. E quero que você venha nos ajudar a fazer isso. Eu não poderia negar o convite (para o Ministério), mas precisava me entender com ele de como a coisa funcionaria. Ele me perguntou como era em Minas. Eu falei: – Olha, o doutor Rondon me permitiu escolher toda a equipe, não me pediu para eu colocar um motorista sequer. Eu tenho absoluta confiança nela e, por outro lado, ele me dá apoio político, porque eu tenho feito umas coisas lá que são complicadas. O Geisel falou: – O senhor vai escolher toda a equipe sua. Eu quase caí duro.

A transição já estava adiantada?

Paolinelli – Sim. Assim, nós tivemos a oportunidade de nos conhecer muito e as coisas estavam dando certo. Na criação da Embrapa, ele foi o grande articulador. A Embrapa havia sido criada por lei pelo (Emílio Garrastazu) Medici, mais o (Luiz Fernando) Cirne Lima. O Cirne Lima teve aquela briga e acabou saindo (pediu demissão em maio de 73, depois de divergências com o ministro da Fazenda, Delfim Neto). Foi uma pena. Eu era o fã número um do Cirne Lima. Eu queria que ele fosse o presidente da república civil, mas não deu certo. E o Geisel foi positivíssimo na criação da Embrapa. Ele entendia que nós precisávamos desenvolver a ciência, porque agricultura tropical não existia no mundo.

Foi uma virada de página na agricultura?

Paolinelli – Foi uma virada de página. Eu deixava sempre bem claro que ou nós teríamos competência para criar uma nova tecnologia para fazer uma agricultura competitiva, ou eu iria sair. O País estava quebrado. A indústria era obsoleta, um projeto inicial brasileiro que não nasceu de inteligência brasileira, nasceu de compra de projetos velhos e com tecnologia já ultrapassada. O setor agrícola até então era muito frágil.

E o Cerrado todo já havia mostrado sua capacidade.

Paolinelli – Você tinha Minas Gerais na frente, tinha um pouco de São Paulo na frente. São Paulo tinha o IRI (International Research Institute), que foi custeado pelo (Instituto) Rockfeller e desenvolveu trabalhos muito interessantes com relação às chamadas terras ácidas. Nós aproveitamos muito aquilo. Só depois da Embrapa que realmente a coisa funcionou. Houve dificuldades porque não tínhamos o número de doutores necessários. Eu tive que tomar uma decisão corajosa: contratar US$ 200 milhões para treinar mais de 1,5 mil profissionais – 950 da Embrapa, 460 das (entidades) estaduais e mais cem das universidades. Deu certo.

O senhor mandou gente estudar fora?

Paolinelli – Para onde fosse necessário. Onde tinha a ciência no mais alto grau, eles iam conhecer. Chamei as universidades, chamei a iniciativa privada, chamei as estaduais, reforcei as estaduais, elas passaram a ser fortes também. Tinha nove, eu criei mais oito junto com os Estados e passaram a ser 17. Mandei treinar, fiz um esforço, pagava a metade do curso. Criamos a Embrater (Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural). Os Estados compreenderam e emparelharam conosco. Eram 23 Estados, nós criamos 23 Emater. Em 1975, nós criamos o Polocentro (Programa Para o Desenvolvimento do Cerrado), juntamos institutos, criamos o Centro de Pesquisa do Cerrado. O Japão forneceu equipamento, mandou um grande número de pesquisadores para cá, que nós escolhemos. Isso ajudou demais.

Como foi o critério de escolha desses pesquisadores?

Paolinelli – Pela experiência. Gente que conhecia o que nós precisávamos mais. Microbiologia, biologia de solo, genética. Escolhemos a dedo.

Nessa época a aviação agrícola também se desenvolveu bastante em São Paulo, que tinha o Centro Nacional de Engenharia Agrícola (Cenea), na Fazenda Ipanema.

Paolinelli – Quando eu entrei no governo, o meu antecessor, José Francisco Moura Cavalcanti, que depois foi governador de Pernambuco, informou que a Embraer estava com dificuldades. Quando me passou isso, me disse: – Dá uma olhada. Nós precisamos da Embraer. A aviação agrícola no Brasil vai ser um fato. Eu falei: – Não tem dúvida. Eu comprei de uma vez só, se lembro bem, 180 aviões da Embraer. Na época, foi o que deu um fôlego à empresa. E tentamos colocar esses aviões da maneira mais racional possível na mão da iniciativa privada. Não ia fazer a aviação agrícola do governo.

Senão ia criar uma força paralela…

Paolinelli – Isso acabou ajudando a Embraer e avançou muito. Mesmo no combate biológico, o avião é muito importante para impedir a ação de fungos. A gente desenvolveu muito. Eu criei um Departamento de Aviação, mas deixei só um ou dois aviões novos para a turma aprender a pilotar (na Fazenda Ipanema). Era escola. Os outros eu fui passando para a iniciativa privada.

MINISTRO: Em 1975, Paolinelli (ao centro) na inauguração da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), com o então governador Jaime Canet Júnior (esq) e o presidente da entidade, Guntolf van Kaick

Muita gente que se formou na Fazenda Ipanema continua voando.

Paolinelli – Pois é, foi um período que a gente pôde fazer. Outra coisa: eu estava com dificuldade porque, do primeiro para o segundo ano que estava no governo, foram comprados 68 mil tratores de roda. Só agora, em 2003, o recorde foi batido. Precisava mecanizar por completo, pois nessa época eu falei: – Vamos desenvolver essa aviação agrícola porque ela é fundamental. Por problemas de espaço e outras coisas, ela foi fundamental.

Foi um período que se conseguiu articular estratégias abrangentes. A impressão que se tem é que se perdeu um pouco isso.

Paolinelli – Nós tínhamos deixado um plano muito bem estruturado para ter autossuficiência em fertilizantes. Como você entra em uma guerra sem pólvora? Você não vai entrar em uma guerra para perder. Nós tínhamos feito um trabalho muito grande na área de defensivos. Trouxemos algumas empresas de fora para cá e estávamos desenvolvendo as empresas brasileiras também. Na área de máquinas agrícolas, houve parcerias que trouxeram novas tecnologias de fora. Em 1975, nós subsidiamos o preço do fertilizante em um quarto do valor dele, porque no Brasil não tinha fertilizante suficiente e nós não tínhamos capacidade competitiva pelo seu custo. Em 1980, o Brasil tinha igualado a balança entre importação de alimento e exportação. Depois, o negócio começou a degringolar. Eles (governos posteriores) começaram a criar déficit público, gastar o que não devia. Começou com o Plano Funaro, o primeiro deles. Acabaram com o preço mínimo, com o crédito, o preço bagunçou, o crédito de comercialização foi por água abaixo e as coisas deterioram muito. A cada plano econômico (foram sete) que tinha, a coisa foi piorando até chegar nessa bagunça que está aí hoje.

Tem a questão econômica, mas há também uma instabilidade política no meio.

Paolinelli – Então isso atrapalhou de fato. A coisa complicou. Para fazer voltar (agricultura mais forte), você tem que ter governo competente. Infelizmente, nossos governos não têm a capacidade que teve, por exemplo, o Geisel de fazer uma proposta daquelas de tocar e bancar. Hoje é o contrário, estão tirando da agricultura. Nós tínhamos um plano de desonerar a agricultura brasileira em dez anos, com cinco que estivemos lá, fomos desonerando, baixando o ICM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias).

Se cada vez mais o setor está tendo que se virar sozinho, como se consegue melhorar então?

Paolinelli – O que está mantendo a economia brasileira é a agricultura. O resto todo foi morro abaixo. Não sei se é um pessimismo, se isso é uma bandeira, se isso é uma questão política, mas como pode a agricultura não ser vista como uma coisa positiva apesar de defender o Brasil?

Em um evento no final de junho, em Porto Alegre/RS, o economista-chefe da Farsul (Federação da Agricultura do Estado), Antônio da Luz, ressaltou que a agricultura brasileira está segurando a economia, mas não vai resistir à falta de infraestrutura e de uma política mais ousada…

Paolinelli – Não vão aguentar, não. E tem mais essa briga entre os Estados Unidos e China (cujos governos desde junho criam sobretaxas para produtos que entram em seus países). Eles começaram a subsidiar lá, mas o tesouro deles não tem limite. Eles podem subsidiar o quanto eles quiserem. Nós temos que ficar atentos a isso.

O alerta vale também para o custo da produção no Brasil. Isso?  

Paolinelli – O custo é muito alto. O transporte é uma loucura, o crédito está muito caro, não dá para financiar a agricultura. Olha, quando nós estávamos no governo, a economia era 25 vezes menor do que hoje, Tinhamos que ter 25 vezes o valor do crédito para a agricultura poder fazer o que ela pode fazer. Até 1965/1966, o governo investia em média 9% do orçamento em infraestrutura. Hoje, você está vendo aí que a coisa degringolou. Sabe quanto o governo está gastando agora? Só 0,9% do PIB em infraestrutura. A iniciativa privada está botando mais 0,9% ou 0,8%.

As malhas ferroviária e hidroviária seriam uma solução? Já que, por exemplo, os Estados Unidos têm uma malha hidroviária bem explorada, mas que não é tão grande quanto a do Brasil…

Paolinelli – Temos muito mais condições. Você sabe que ficou 13 anos parado, em uma primeira instância, um projeto proibindo fazer o RIMA (licenciamento ambiental) do Araguaia ao Tocantins? Parece brincadeira. Hoje, qualquer especialista em logística, especialmente aquaviária, fala que o Tocantins e o Araguaia são para o Brasil o que foi o Mississipi na década de 1930 para os Estados Unidos. Depois de brigar muito, fizemos a eclusa de Tucuruí, Não se resolve o debate com os ecologistas, (para definir) se estoura aquelas pedreiras na Ilha do Bananal ou se faz outra represa. Vai ficar a vida inteira desse jeito.

É comum hoje, em debates, comparar a agricultura daqui com a da Europa, quanto a proibições e modelos. Mas lá não tem o viés político?

Paolinelli – Eles proíbem plantar transgênicos lá, mas precisam do nosso transgênico e compram nosso transgênico. É tudo balela, é tudo conversa. Você não viu a história do frango agora (a Europa aumentou o rigor na exportação por causa do suposto risco da bactéria). Por quê? – Vocês não estão pagando a taxa. Quanto é a taxa, 1.100 euros? Então, se eu pagar a taxa, não tem salmonela? Então, está bem. 

Falando do milho, nós temos uma safrinha que virou safrona. Com isso, temos a vantagem de um produto chegando fresco no mercado internacional?

Paolinelli – Ele está tendo a preferência, sim. Só que estamos perdendo mercado porque estamos produzindo pouco. A maior besteira que você faz quando está disputando mercado internacional é perder mercado. Precisa ter qualidade, preço e constância de oferta, senão, você não vai ao mercado, não.

Então o problema é fôlego para suprir a demanda.

Paolinelli – É isso mesmo. Tinham que ter estimulado. Colocaram no ano passado um crédito muito mais caro que a própria Selic. Mantiveram isso com pouco dinheiro. O agricultor teve apertos e acabou não plantando aquilo que era suficiente.

A sociedade visualiza o milho, mas não percebe sua importância na produção de proteína.

Paolinelli – Na carne. Essa proteína nobre é 70% de milho e 30% de soja (na ração para os animais).

E perspectivas, presidente?

Paolinelli – Eu tenho muita esperança. Agora, se não houver uma gestão econômica melhor no Brasil, nós vamos sofrer muito. O País está cansado de safadeza e de ladroagem, etc, etc. Eu acho que isso tende a reduzir agora por diante. O eleitor apanhou demais e viu que errou. Agora, ele vai tomar jeito e procurar trabalhar melhor.

Sobre as críticas ao modelo de agricultura, principalmente por políticos de esquerda, que falam que é preciso mudar…

Paolinelli – O que se tem que trabalhar de fato é capacitar o agricultor, com educação e tecnologia. Caso contrário, ele não sairá da enxada. Não vai progredir, não tem como.

Apesar disso, o Brasil se torna campeão também em preservação.

Paolinelli – Hoje o mundo reconhece, depois que a Nasa confirmou* o que a Embrapa já havia dito. Precisa a Nasa falar, com diferença quase zero. E nós identificamos o que foi diferente. O erro foi da Nasa (+ 0,2%). Ela não conseguiu identificar bem os bananais, achando que era floresta, e também uma área de cana. Mas isso tudo acontece.

(*) O estudo da agência espacial norte-americana confirmou em janeiro o estudo apresentado em novembro de 2017 pela Embrapa, de que a agricultura ocupa cerca de 7% do território do Brasil e a vegetação nativa está preservada em 66% de seu território.

AVIAÇÃO: Em abril deste ano, o presidente da Abramilho conversou com o dirigente do Ibravag, Júlio Kämpf, em Brasília

Qual importância da avião agrícola no milho?

Paolinelli – Nas grandes áreas é fundamental. O milho depende, sim. Nós somos um pais tropical, as pragas surgem. Essa helicoverpa (Helicoverpa armigera, uma lagarta extremamente voraz), por exemplo, não existia (foi identificada no Brasil em 2013). Você viu que surgiu na África e acabou com o milho deles. Eles não tinham instrumentos para combater (como a aviação agrícola). Tudo isso tem que manter estrategicamente.

O mundo respeita o Brasil como mercado?

Paolinelli – Respeitam sim. Sabem que hoje nós somos a garantia para evitar uma fome mundial, que vai chegar mais cedo. Falavam em 2050, mas a previsão é que em 2030, se o Brasil não disparar a produção aqui, vai ter problema. Então tem todas essas complicações.

E rumos…?

Paolinelli – Cada país tem que ter seu rumo. Nós estamos certos que esse nosso (Instituto) Fórum do Futuro, vai ajudar muito. É um grupo de velhinhos (risos) que estão trabalhando com entusiasmo, sem ganharem nada, fazendo o que é certo. Estamos mostrando os erros que estamos cometendo e mostrando estratégia que não estão sendo seguidas.

Quem são os velhinhos, presidente?

Paolinelli -Ah! Um grupo de 11 velhinhos. São ex-ministros: eu, o Roberto (Rodrigues/Agricultura); perdemos um, o Eliezer Batista (Minas e Energia, falecido em junho deste ano), o Botafogo (José Botafogo Gonçalves/Indústria e Comércio e Turismo), o Paulo Haddad (Fazenda e depois Planejamento), é uma turma muito boa. Tem ainda o (Paulo de Tarso) Flecha de Lima (ex-embaixador). Nós fizemos isso entusiasticamente. Cada um contribui com seu esforço certos de que se está fazendo alguma coisa pelo País. O Ronaldo Sardenberg, que foi Ministro da Ciência e Tecnologia, também participa muito.

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