Júlio Augusto Kämpf
Presidente do Ibravag
Ainda estamos vivendo o rescaldo das fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul entre o final de abril e o início de maio. Conforme balanço da Defesa Civil do Estado, atualizado no dia 8 de julho, 478 dos 497 municípios gaúchos sofreram as consequências das enchentes. Uma tragédia de proporções gigantescas, na qual as empresas de aviação agrícola ajudaram a transportar alimentos, medicamentos e outros itens essenciais para os mais necessitados.
Agora, com a reconstrução em andamento, no momento em que as estratégias e melhorias nos protocolos estão sendo repensadas, é importante incluir a aviação agrícola, para fazer frente a situações que podem se repetir. Somos uma aviação acostumada a agir na emergência, seja na lavoura ou em situações extremas, como calamidades e epidemias. Aliás, nascemos assim, em 1947, na urgência dos ataques de gafanhotos, quando nenhum outro meio mostrou a eficiência necessária contra os insetos que assolaram o campo e a cidade. Gafanhotos que, em 2020, resvalaram em nossas fronteiras novamente, colocando a aviação agrícola em alerta, momento em que um protocolo de combate à praga na esfera federal foi construído.
E o que dizer, então, do combate às arboviroses. Em outros países, desde os anos 1940, a aviação agrícola é reconhecida por voar com segurança e pela eficácia no controle de vetores. O Brasil ainda carece de protocolos, embora já exista legislação que contemple o uso das aeronaves em caso de epidemia. O relatório do Ministério da Saúde, atualizado em 2 de julho, aponta mais de 6,2 milhões de casos de dengue, um crescimento de 377% em relação aos 12 meses de 2023 e até o momento os aviões ainda não foram adicionados ao processo.
Não esqueçamos também do combate a incêndios florestais, que com protocolo já firmado perante o governo federal, pode contar com profissionais aeroagrícolas, que estão costumados a lidar com emergências. Podemos ir adiante, pensando em uma seca prolongada, como costumeiramente vemos nos noticiários. A aviação agrícola já se mostrou capaz de fazer a nucleação de nuvens – literalmente, fazer chover. Na Tailândia, por exemplo, uma das missões do Departamento de Aviação Agrícola é semear nuvens sobre as regiões agrícolas, para evitar a quebra de produção no período de seca. Um protocolo semelhante também poderia ser elaborado no Brasil.
São décadas de ciclos que se repetem e que tendem a se tornar cada vez mais frequentes. Urge um debate sério e amplo com governos e sociedade civil sobre políticas públicas envolvendo a aviação agrícola nos protocolos de calamidades, como enchentes, nuvens de gafanhotos, combate a mosquitos e combate a incêndios, e até mesmo no combate à seca.
Chega de preconceitos. O Ibravag está apto e disposto a colaborar nestas exigências da sociedade, com produção e transferência de conhecimento, por meio de pesquisas, cursos de capacitação, treinamentos e palestras. Como Instituto, estamos empenhados em fazer com que o setor aeroagrícola mantenha-se em evolução constante, não só com tecnologia de ponta embarcada nas aeronaves que permitem operações cada vez mais efetivas, mas também em gestão administrativa e de processos. Inclusive, desenvolvemos o Programa Boas Práticas Aeroagrícolas (BPA) do Brasil em parceria com o Sebrae, com foco em melhorar a performance das empresas do setor.