O Brasil está terminando 2020 com dez integrantes no seleto grupo de mulheres habilitadas como pilotos agrícolas no País. Isso depois que as duas mais novas profissionais se formaram no último trimestre do ano, em escolas do Rio Grande do Sul. A nona piloto da lista é a gaúcha Karen Medeiros Michel, 27, de São Sepé. Ela se formou em 31 de outubro, na Aeroagrícola Santos Dumont, em Cachoeira do Sul. Já a mais recente é Lillian Gabriella Rodrigues Leal e Santos, de Peixoto de Azevedo, no Mato Grosso – que se formou em novembro.
Com 28 anos de idade (completados durante o curso de 45 dias), Lillian também se tornou a primeira piloto a ter outra mulher como instrutora de voo agrícola. E não por acaso: ela conta que escolheu Carazinho justamente para ter aula com a profissional que já admirava há pelo menos cinco anos. No caso, Joelize Friedrichs, 31 anos, piloto agrícola desde 2012 e, desde o ano passado, também empresária aeroagrícola.
A mato-grossense completou o curso de piloto privado em seu Estado, em 2013. Formou-se piloto comercial no interior paulista e daí batalhou para completar as 370 horas de voo necessárias para entrar no Curso de Piloto Agrícola (Cavag). Conseguido o pré-requisito, juntou dinheiro para ir ao Rio Grande do Sul completar a formação.
FOCO
Filha de um mecânico aeronáutico, Karen cresceu no meio da aviação e circulou com a família pelo Sul e pelos Estados de Goiás e Mato Grosso. O ambiente em que vivia despertou desde cedo o gosto pela aviação e a vontade de ser piloto agrícola. “Nunca quis outra coisa. O foco foi sempre a agrícola”, ressalta. A conquista do sonho da sepense demorou sete anos, desde o início do curso de piloto privado (PP), feito em Santa Cruz do Sul.
Na mesma cidade, ela conclui o curso de piloto comercial e ficou parada por um ano (tempo em que teve a filha Heloisa, hoje com três anos). Em Sinop, no Mato Grosso, Karen fez o curso de instrutora de voo e a partir daí completou as horas que faltavam para o curso agrícola.
Aliás, estratégia que está sendo adotada também pela possível futura 11ª piloto agrícola brasileira. No Aeroclube de Carazinho, a catarinense Júlia Ferreira Melo está encerrando o curso de piloto comercial. A meta: entrar para o Cavag no ano que vem. Mas antes, conseguir também a licença de instrutora e, dando aulas, completar os requisitos de horas para o curso de piloto agrícola.
Pioneiras voaram na década de 1940
A primeira piloto agrícola brasileira foi a paulista Ada Rogato. Em 1948 (apenas um ano após o primeiro voo agrícola no Brasil) ela já voava no trato de lavouras de café em São Paulo. Uma das mais intrépidas personagens do País, ela foi a primeira (entre homens e mulheres) que atravessou a Floresta Amazônica em um pequeno avião, sem rádio e só com uma bússola. Tornou-se também a primeira mulher a pilotar sozinha até a Terra do Fogo e a primeira brasileira a atra- vessar a Cordilheira dos Andes pilotando (o que repetiu mais 10 vezes). Ada faleceu em 1986, aos 76 anos.
Já a pioneira do setor no mundo foi a uruguaia Mirta Vanni Barbot. Ela teve sua primeira operação aeroagrícola em 1947, combatendo gafanhotos em seu país. Mais do que isso, Mirta coordenou e estruturou o serviço aeroagrícola do Uruguai. Aos 96 anos de idade, vive em Montevidéu e foi entrevistada para a edição nº 2 da revista Aviação Agrícola, em dezembro de 2019 (confira no site da revista). Na ocasião, ela também recebeu uma placa em homenagem do Sindag e do Ibravag pela sua trajetória.
Veja a fala das pilotos no vídeo: