Após quatro safras amargando preços abaixo do custo de produção, o arroz atingiu neste ano patamar de comercialização recorde. De acordo com relatórios do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), a saca de 50 quilos de arroz, que estava em R$ 45,15 no ano passado, chegou a R$ 104,17 no dia 8 de setembro. No dia seguinte, os produtores de arroz foram surpreendidos com a notícia de que a Câmara de Comércio Exterior (Camex) zerava a Tarifa Externa Comum (TEC) para importação do grão de países de fora do Mercosul. “Não deixa de ser uma notícia ruim. Mas nós não acreditamos que isso vá alterar o mercado”, diz o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Azevedo Velho.
Orizicultor há 32 anos, Velho dirige a maior entidade do setor, no Estado que responde por mais de 70% do arroz produzido no País. Ele assumiu o comando da Federarroz pelo triênio 2019/2022 se deparando, neste ano, com o cenário atípico da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Uma conjuntura internacional que resultou no aumento do consumo e redução da oferta do cereal. Que, aliado ao câmbio, fez com que os preços do arroz subissem.
Mas, embora a cotação acima da média verificada nos últimos anos tenha dado um fôlego aos arrozeiros, ainda não resolveu os problemas de endividamento e de financiamento da próxima safra. Daí, articular crédito e renegociação de dívidas estão entre as prioridades da atual gestão da única entidade setorial gaúcha com assento na Câmara Setorial de Crédito, Seguro e Comercialização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Fórum onde, como o próprio nome diz, os debates abrangem também o seguro de safra. Setor onde, segundo o presidente da Federarroz, já se evoluiu muito. Mas que ainda há muito o que ser ajustado às necessidades dos produtores.
Velho conhece bem os problemas de dentro e fora da porteira. Seu avô começou a plantar arroz no município gaúcho de Mostardas em 1940. Seguido por seu pai e por ele, que, ainda muito jovem, resolveu que trabalharia na terra. Há sete anos, introduziu o plantio de soja, fazendo rodízio com o arroz, como forma de melhorar a fertilidade do solo. O dirigente atua ainda na pecuária e, no período da entressafra, planta aveia, azevém e trevo persa para alimentar o gado.
Além das atividades no campo e do comando da Federarroz, Velho dedica tempo à Associação dos Arrozeiros de Mostardas e Tavares. E ainda atua como conselheiro do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), por Mostardas. Ele lembra que seu Estado se destaca pelas boas práticas no campo. Tanto que o arroz, conforme estudo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é livre de resíduos.
Falando em cadeia produtiva sustentável, o presidente da Federarroz ressalta que a aviação agrícola assume importância fundamental. Além de somente as aeronaves serem capazes de pulverizar as áreas inundadas, onde os equipamentos terrestres atolam, as aeroagrícolas possuem normas rígidas de aplicação de defensivos para evitar danos ao ambiente natural. Para Alexandre Velho, característica que será crucial no pós-pandemia. Ou seja: o novo normal está chegando com um consumidor muito mais tento atento à procedência e sanidade do alimento consumido.
Há quanto tempo o senhor atua na agricultura?
Alexandre Velho – Eu sou produtor de arroz há 32 anos e de soja há 7 anos. A família planta arroz desde 1940. Meu avô começou tudo. Depois, meu pai, eu e agora meu irmão mais novo, todos no agronegócio. Eu sempre gostei da atividade rural e resolvi me dedicar às atividades no campo desde cedo. Primeiro com o arroz. Depois, quando foi desenvolvido o sistema de produção de soja nas áreas de várzea, passamos a produzir o grão em 50% das terras. Alternando a cada ano as áreas entre as duas culturas. O que aumenta muito a fertilidade do solo e, consequentemente, a produtividade. O percentual destinado à rotação de culturas depende de cada fazenda. Hoje, no Rio Grande do Sul, cerca de 30% da área total do arroz está sendo ocupada pela soja.
O que o levou à presidência da Federarroz?
Alexandre Velho – Eu gosto da política de classe. Gosto de trabalhar na defesa do setor. Como tenho facilidade de relacionamento e de comunicação, comecei refundando a Associação dos Arrozeiros de Mostardas e Tavares, onde depois de ser vice-presidente, fui eleito presidente. Durante a Abertura Oficial da Colheita do Arroz (de 2014), que ocorreu em Mostardas, conheci o então presidente da Federarroz, Henrique Dornelles. Em 2016, ele se candidatou à reeleição e me convidou para ser seu vice-presidente. E ocorreu como na Associação dos Arrozeiros de Mostardas e Tavares. Depois de um mandato como vice, no ano passado, assumi a presidência da entidade para o triênio 2019/2022. É importante dizer: a Federarroz é a única entidade gaúcha a participar da Câmara Setorial de Crédito, Seguro e Comercialização do Mapa. Uma Câmara muito importante que reúne representantes de instituições financeiras, como o Banco Central e o Banco do Brasil, entidades governamentais e de classe. O fórum discute importantes demandas do agro. Inclusive seguros, tema que estudei muito. Trata-se de algo importante para o agricultor, mas ainda ineficiente nos moldes atuais. Ainda há muito a ser melhorado, como a garantia e aumento da subvenção; aumento do percentual indenizado; seguro por talhão afetado (não área total, como é hoje) e nível de produtividade adequado a cada produtor.
Depois de um resultado positivo na safra 2019/20, com a produção gaúcha (que responde por cerca de 70% da nacional) batendo a expectativa e chegando a aproximadamente de 8 milhões de toneladas. Quais as expectativas de produção para 2020/21?
Alexandre Velho – A expectativa para a safra 2020/2021 é positiva. Devemos aumentar em 3% a área cultivada para atender a demanda resultante do aumento do consumo de arroz verificado neste último ano. No dia 9 de setembro, a Câmara de Comércio Exterior (Camex), a pedido do Mapa, retirou a TEC de até 12% sobre o arroz importado de países fora do Mercosul. A justificativa foi impedir o desabastecimento, que faria os preços na gôndola do supermercado disparem, impactando diretamente no custo da cesta básica.
O que representa essa medida para os produtores de arroz, que estavam ganhando um fôlego pela primeira vez depois de quatro ou cinco safras no vermelho e renegociando dívidas?
Alexandre Velho – O anúncio da retirada da TEC pegou o setor produtivo de surpresa. Não deixa de ser uma notícia ruim, mas não acreditamos que vá alterar o mercado. Conseguimos estabelecer a data limite de 31 de dezembro para a entrada no País desse arroz importado. O que é importante, já que a partir de janeiro tem a safra de Santa Catarina e, em fevereiro, a safra gaúcha entrando. Também não acredito em uma grande quantidade de arroz vindo de fora, embora em novembro tenhamos produto dos Estados Unidos pronto para chegar no Brasil. Estávamos garantidos quanto ao abastecimento, segundo os números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas algo aconteceu e acendeu a luz vermelha do governo, que ficou com medo que faltasse produto na prateleira dos supermercados no final do ano. Não gostamos da medida, mas acatamos.
No final de agosto, quando foi anunciada a possibilidade de se zerar a TEC do arroz, a indústria dizia que já tinha compras alinhavadas da Guiana, Estados Unidos e Índia. Esse arroz tem a mesma qualidade do produto brasileiro em termos nutricionais e sanidade alimentar?
Alexandre Velho – Os Estados Unidos estão começando a colher e têm compromissos com países da América Central, especialmente com o México. Com isso, os norte-americanos só conseguem enviar arroz para o Brasil no final de novembro. Os Estados Unidos e a Índia cultivam, na maior parte das suas lavouras, o arroz híbrido, que não tem (nem perto) a qualidade do arroz brasileiro. A Índia consegue ter um arroz de qualidade inferior ao dos Estados Unidos. Hoje, mesmo com a retirada da TEC, para os dois países colocarem seu arroz no Brasil fica mais caro do que o cereal daqui.
Então, por que deixar de valorizar nosso produto para pagar mais caro por um produto inferior? Quais as orientações da Federarroz a seus associados para manter o mercado estável?
Alexandre Velho – A Federarroz está orientando, já há um bom tempo, os produtores para que mantenham a oferta regular de produto no mercado. Não temos interesse em especulação ou em provocar, de forma alguma, uma explosão nos preços. Preferimos uma alta sustentável em patamares aceitáveis pelo mercado. A orientação é mostrar que temos consciência da situação. Segundo lideranças da indústria, as beneficiadoras de arroz conseguem absorver o valor de saca a 80 reais ou pouco mais.
Quais as chances do preço do arroz passar muito desse patamar?
Alexandre Velho – Nós temos no varejo vários tipos de arroz. Há arroz a 90 reais o fardo, arroz a 100 reais e até a 130 reais o fardo. O arroz mais caro, que chega custando 25 reais cada cinco quilos, representa somente 3% ou 4% do mercado. Quando falamos em arroz, vamos falar em preço médio. O preço médio da saca hoje está entre 100 e 105 reais. O que dá um preço de 15 a 20 reais o fardo de cinco quilos. Há um vídeo (repercutindo na Internet) com uma dona de casa reclamando do preço de 30 reais por cinco quilos de arroz no supermercado. No entanto, essa mesma dona de casa também fala que cinco quilos de arroz tipo 1 custa 17 reais. Isso serve para ilustrar que há várias marcas: inclusive as mais famosas e mais caras. Mas isso não representa a média. Repetindo, esse arroz de 25 a 30 reais cada cinco quilos não representa mais que 3% a 4% do mercado. O arroz continua sendo um produto muito acessível. E eu provo: o arroz estava entre três e 3,50 reais o quilo, hoje custa entre quatro e 4,50 reais o quilo. Uma família de quatro pessoas que consome arroz todos os dias da semana não gasta mais de que 25 reais por mês com o produto. Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o arroz significa somente de 2% a 3% do custo da cesta básica. Se tu fores no supermercado e comprar um refrigerante, tu gastas no mínimo cinco reais. Com esse valor, tu compras o melhor arroz. E com apenas um quilo, uma pessoa come arroz por dez dias. Fica claro, então, que a sociedade tem que se dar conta que nós temos um produto de excelente qualidade, livre de resíduos atestado pela Anvisa.
O aumento previsto da área plantada, por si só, já não vai reduzir o preço da saca de arroz da próxima safra para os produtores?
Alexandre Velho – Acreditamos que não vai impactar nos preços praticados no mercado por diferentes fatores. Primeiro, devido à diminuição da área plantada, de 1,17 milhão de hectares para 930 mil hectares. Ou seja, menos 240 mil hectares em cinco anos. O segundo fator se refere à elevação do dólar, que estava bastante desvalorizado nas últimas safras. O terceiro fator tem a ver com a conquista de novos mercados pelo Brasil. Na safra 2019/2020, foram exportados para o México 60 mil toneladas de arroz. E há o quarto fator, que remete à redução da exportação dos grandes produtores mundiais de arroz, como China e Índia, neste ano, em função da crise sanitária.
A redução de área plantada na última safra fez com que os produtores alcançassem melhores preços pelo produto. Chegou a aliviar a questão do endividamento?
Alexandre Velho – O aumento do preço da saca não aliviou o endividamento dos produtores. Na verdade, a safra 2019/2020 foi a primeira depois de quatro ou cinco anos agrícolas que se conseguiu cobrir os custos do plantio. O preço está remunerando agora, porém maioria dos produtores vendeu na safra a 45 reais. Foi vendendo ao longo do ano para quitar seus compromissos, e o arroz foi subindo, mas uma pequena parte conseguiu preços acima de 80 reais. Então, a maioria dos produtores fez uma média em torno de 50 a 60 reais a saca.
Ao assumir a Federarroz, o senhor citou entre suas bandeiras a busca por políticas públicas eficiente e melhores condições para o crédito oficial. O produtor está conseguindo ter mais “bala na agulha” para negociar?
Alexandre Velho – Não. O endividamento do produtor de arroz, principalmente na metade sul do Estado, é crítico. Os orizicultores não têm conseguido cumprir o pagamento da dívida conforme os contratos firmados. Esse endividamento acaba comprometendo a continuidade da produção. Estamos pedindo a renegociação da dívida, com uma taxa de juros ajustada à realidade da agricultura, tanto familiar quanto empresarial. Vale lembrar que, hoje, somente 30% dos orizicultores têm acesso a linhas de crédito. Aí, você vai me perguntar: “mas se só 30% dos produtores de arroz têm acesso aos financiamentos bancários, onde os restantes 70% conseguem recursos para financiar a safra?” Os 70% que não conseguem crédito nos bancos buscam recursos nas empresas de insumos e de beneficiamento do arroz. Isso faz com que o preço de seu produto fique mais baixo, gerando um ciclo vicioso.
Como está a expectativa quanto ao mercado interno? Sabe-se que o arroz faz parte da dieta básica do brasileiro, mas há trabalhos no sentido de aumentar a gama de produtos à base do grão…
Alexandre Velho – A nossa expectativa é boa. Aumentou o consumo de arroz no mundo com a pandemia e o produto está na base da alimentação tradicional do brasileiro. Diferente dos americanos, nós comemos comida de verdade. Quem se alimenta de arroz, feijão, salada e uma carne está bem nutrido e evita a obesidade. Isso, sem contar que é um alimento barato, mesmo com o aumento do grão, inclusive na gôndola do supermercado. Estudos indicam que uma pessoa consome em média 150 gramas de arroz por refeição. Nessa média, em um mês, terá desembolsado em torno de 6 reais com esse alimento. Mas temos interesse, sim, em colocar no mercado mais produtos derivados do arroz. No momento, estamos dando grande atenção à farinha de arroz, que já vem sendo usada como substituta da farinha de trigo em receita de pães, bolos, bolachas. Além de ser rica em fibras, é livre do glúten (fração proteica do trigo, aveia, centeio), adaptando-se bem à dieta dos celíacos (pessoas intolerantes ao glúten).
Também temos acompanhado boas notícias no ganho de mercado, por exemplo, com as exportações para o México. Não só pela chegada do arroz brasileiro antes da entrada do produto norte-americano (que tem colheita posterior), mas pelo fato dos mexicanos terem se surpreendido positivamente com a qualidade do produto daqui. É uma estratégia que se aplica a outros mercados?
Alexandre Velho – É verdade. Os mexicanos estão gostando muito do nosso arroz. Ele é um grão com maior qualidade nutricional do que o proveniente dos Estados Unidos (seu maior fornecedor), que planta arroz híbrido. Falei com a adido (comercial) do México (na embaixada do país no Brasil), que garantiu que estão gostando muito do nosso produto. Até agora, na safra 2019/2020, embarcamos 60 mil toneladas de arroz para o país. É um mercado que nos interessa muito, já que os mexicanos importam cerca de 80% do arroz que consomem. Além disso, como nosso principal mercado é a América Central, não podemos ficar nas mãos de países com grande instabilidade política, como a Venezuela e Cuba (dois importadores do produto brasileiro).
Além da Venezuela e Cuba, para onde vai o arroz brasileiro hoje e quais são as novas fronteiras que se está buscando? Alexandre Velho – O grande país que miramos é o México. Foram dois anos de negociação até o primeiro embarque. Mas também estamos para entrar no mercado do Panamá e negociando nossa entrada no Oriente Médio, para abastecer Iraque e Irã. Até a Rússia está nos contatando. Ainda é nosso desejo atender a Costa Rica. Como falei antes, o principal mercado brasileiro é a América Central. Hoje, vendemos principalmente ao Peru (para onde o Brasil envia 100 mil toneladas/ ano), além da Venezuela e Cuba, como já havia dito.
Em termos de preço, esses bons ventos são uma tendência duradoura? Não há riscos, por exemplo, de uma variação cambial vir a prejudicar as exportações?
Alexandre Velho – Não tememos a variação cambial, pois ao mesmo tempo que estamos buscando novos mercados, expandindo a exportação, também estamos aumentando a nossa participação no mercado interno. Hoje, o Brasil produz entre 11 a 12 milhões de toneladas. Isso seria suficiente para atender a demanda interna. No entanto, exportamos 1 milhão de toneladas, em média. Isso faz com que o Brasil importe arroz do Paraguai.
Como estão nossos concorrentes? Quais as expectativas no Mercosul e no mercado mundial?
Alexandre Velho – O Mercosul está em busca de outros mercados para não depender somente do Brasil. O mercado mundial vem aumentando a demanda por arroz de qualidade.
Em termos de infraestrutura, tivemos melhorias nas estradas, porto, armazéns?
Alexandre Velho – O Porto de Rio Grande está sendo melhorado, com a Cesa (Companhia Estadual de Silos e Armazéns do Rio Grande do Sul) passando para a iniciativa privada. Além de melhorias no porto, precisamos de estradas em condições para escoar a produção.
Quanto ao Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), trata-se de um importante parceiro histórico dos orizicultores. Quais foram as contribuições recentes do Instituto que poderiam ser citadas? Há alguma demanda sobre o Irga junto ao Estado (para seu fortalecimento)?
Alexandre Velho – O Irga é fundamental para a produção do arroz. É o suporte técnico para elevar a qualidade do arroz produzido no Estado, por meio de pesquisas. É uma autarquia muito forte, que é mantida pelo arrozeiro. Os produtores recolhem o CDO (Taxa de Cooperação e Defesa da Orizicultura), fazendo com que a autarquia tenha independência financeira. A instituição desenvolve novas variedades de sementes e pesquisa manejos adequados para a cultura. Por outro lado, também precisa se modernizar, garantir melhor remuneração a seu quadro de funcionários e ter um departamento comercial mais atuante.
Como é a relação com a Embrapa?
Alexandre Velho – A Embrapa precisa ter uma participação maior no desenvolvimento de variedades para o orizicultor. Acredito que deva fazer convênios com o Irga para ampliar o leque de pesquisas para aumentar a produtividade da lavoura de arroz.
No quesito qualidade, um aspecto fundamental é a sanidade do arroz brasileiro, altamente comprovada tanto no mercado interno quanto no externo. Como isso vem sendo aprimorado?
Alexandre Velho – Nós saímos na frente quando se fala em segurança alimentar. O arroz gaúcho é reconhecido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) como livre de resíduos. Nosso arroz está dentro das normas sanitárias exigidas para evitar danos às pessoas que o consomem, bem como ao meio ambiente. Esta vigilância está presente no manejo das lavouras, usando produtos indicados para o trato, conforme as especificações técnicas de aplicação.
É possível dizer que a aviação agrícola tem papel fundamental nesse aspecto (sanidade, pela sua eficiência e segurança na aplicação aérea de insumos)?
Alexandre Velho – As aplicações aéreas são fundamentais nas lavouras de arroz. Como o cultivo é feito em terreno pantanoso, o acesso por equipamentos terrestre é dificultado. Além disso, o avião permite que o defensivo agrícola seja aplicado no timing perfeito: no melhor horário e condições climáticas, para evitar deriva e possíveis danos ao meio ambiente. É importante ressaltar que ninguém tem mais interesse que o produtor rural de preservar a natureza. Nós vivemos da natureza, precisamos dela para ter uma safra boa.
Há espaço para os empresários aeroagrícolas ampliarem atendimento, por exemplo, pela terceirização do trato das lavouras? O que é preciso?
Alexandre Velho – Acredito que sim. A aviação agrícola traz uma tecnologia de aplicação mais eficiente, além de evitar a perda de plantas por amassamento. Cada vez mais a agricultura precisa de tecnologia de ponta para garantir produtividade e reduzir o impacto ambiental da atividade, o que torna as operadoras aeroagrícolas parceiras fundamentais também na orizicultura.
Quanto ao espaço para drones, o senhor percebe campo para os operadores incluírem essa ferramenta em suas frotas? Levando em conta também a tendência de agricultura 4.0…
Alexandre Velho – O drone é algo ainda muito novo e deve entrar em pequenas áreas da lavoura para aplicações específicas. Acredito que deva ser usado como complemento à aviação agrícola.
O senhor acha que o trabalho de comunicação feito pelas entidades do agro (como a Federarroz e o Sindag) para eliminar mitos quanto à segurança da produção agrícola têm surtido efeito e onde é preciso melhorar? Considerando o fato de que a própria pandemia do novo coronavírus fez as pessoas perceberem a importância da segurança alimentar…
Alexandre Velho – Nós temos obrigação, como entidades responsáveis que somos, de divulgar informações sobre o manejo das nossas lavouras, bem como do processo de aplicações de defensivos por meio de pulverizações aéreas. Precisamos mostrar à sociedade que estamos atentos à preservação do meio ambiente e seus ecossistemas, buscando formas de tratar as nossas lavouras que garantam a sustentabilidade ambiental.
Sobre o tema da próxima Abertura Oficial da Colheita do Arroz no RS – Os novos rumos do sistema de produção, o que se pode esperar da programação? Com relação aos debates, por exemplo, teremos o balanço (ou consolidação) de uma mudança de fase na cultura? Isso levando em conta que o evento é referência também para outros Estados e até outros países…
Alexandre Velho – A próxima Abertura Oficial da Colheita do Arroz, como o próprio tema sugere, vai falar sobre onde pretendemos chegar, quais são esses novos rumos, quais caminhos nos levam até ele, como vamos produzir mais em menos área. Vamos abordar como intensificar o sistema de produção, buscando novas alternativas de grãos para a metade sul do Estado. A rotação da soja e os inegáveis ganhos para a cultura do arroz, na sequência, irão continuar. A rotação de culturas exige profissionalismo e gestão eficiente. Nestes novos rumos, certamente, a pecuária virá cada vez mais forte complementando um sistema que trará mais segurança e rentabilidade para o produtor rural.