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Aviação agrícola decola em missão humanitária

Publicado em: 11/07/24, 
às 18:34
, por IBRAVAG

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Às 10 horas, eu fiz o primeiro voo de reconhecimento do sistema e programação para levar mantimentos aos municípios que estavam sem acesso por terra.” A frase do piloto agrícola Eduardo Hentschke Schroeder refere-se à manhã de segunda-feira, 6 de maio, quando saiu do hangar da Terra Aviação Agrícola, em Cachoeira do Sul/RS, em direção a Santa Cruz do Sul/RS, de onde retornou com 450 quilos de suprimentos, entre cestas básicas, água e produtos de limpeza. Assim, a aviação agrícola começava o transporte de doações às vítimas das chuvas intensas no Rio Grande do Sul. Situação que começou  com o primeiro temporal em 27 de abril e foi se intensificando na primeira quinzena de maio, chegando a afetar mais de 90% dos municípios.

A missão humanitária coordenada pelo Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag), com o apoio do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), frente à tragédia provocada pelo evento climático extremo, reuniu quatro aeroagrícolas, que operaram com combustível próprio e doado por empresas e entidades parceiras. Além da Terra, que colocou dois aviões; a DP Aviação, disponibilizou três aeronaves; a Sepal Aviação Agrícola, três e a Nitz Aviação Agrícola, três. Onze pilotos também se apresentaram como voluntários.

Uma ação com direcionamento da  Defesa Civil do Estado, que colocou pessoal dentro do hangar da Terra Aviação Agrícola, para coordenar a distribuição dos donativos buscados pelas aeronaves no Vale do Rio Pardo. Inicialmente, os suprimentos eram destinados aos municípios de Candelária, Serro Branco, Novo Cabrais e Paraíso do Sul. Depois, chegou o pedido de ajuda de dois distritos de Cachoeira do Sul – Pequiri e Capané –, que estavam ilhados, com acesso somente por avião. Mais tarde, os pilotos foram encaminhados também para Doutor Ricardo, que fica na Serra gaúcha. Eldorado e Charqueadas também estavam no roteiro.

PROTOCOLOS

O presidente do Ibravag, Júlio Augusto Kämpf, acompanhou de perto toda a movimentação, auxiliando no processo de direcionamento dos aviões. “Podíamos ter feito muito mais”, lamentou o dirigente da entidade setorial. Para ele, é preciso ter protocolos que coloquem a aviação agrícola também nas políticas públicas voltadas à defesa civil. Cita como exemplo, o combate a incêndios com aeronaves, que há décadas já tem um protocolo operacional.

“A Defesa Civil recebeu como novidade essa ação da aviação agrícola”, pontuou Kämpf. E lembrou que o setor pode auxiliar diretamente as populações, como no combate ao mosquito vetor da dengue. Protocolo este, que o Ibravag e Sindag vêm pleiteando há vários anos.

Dezenas de operadoras ficaram em stand-by

A ação que foi rapidamente articulada, teve o conselheiro do Ibravag Francisco Dias da Silva, o Kiko, sócio da KL Aviação Agrícola, como elo entre a entidade aeroagrícola e a Defesa Civil. O pedido para montar a operação com as aeronaves agrícolas partiu do secretário do Desenvolvimento Econômico (Sedec) do Rio Grande do Sul, Ernani Polo. Com o sinal verde, o setor foi direcionado para o QG de Santa Cruz do Sul, que era coordenado pelo vice-governador, Gabriel Souza.

Com a ajuda humanitária por parte do setor aeroagrícola autorizada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), foram chamadas as empresas geograficamente mais próximas de Santa Cruz do Sul – Cachoeira do Sul, São Sepé e Pantano Grande. “Mas tinha dezenas de outras operadoras em stand-by para ajudar. Foi uma mobilização grande”, reforça Dias da Silva.

“A ideia era ativar as operadoras aeroagrícolas de todo o Estado, mas logo começaram a arrumar as estradas e não fomos mais demandados”, conta o conselheiro do Ibravag. O empresário destaca ainda a contribuição de duas operadoras – a KNA/Nativa Aviação Agrícola, de Wilson Paulo Klauck e Wilson Paulo Klauck Junior (Santo Augusto), e a Aereals Aviação Agrícola, de Gelson Luiz Klauck e Edson Antonio Klauck (Ijuí). Elas não participaram da ação do Ibravag, mas seus diretores colocaram três aviões executivos para levar donativos do Noroeste do Estado para a Grande Porto Alegre. Inclusive, ajudaram a transportar socorristas.

Mobilização para mais de 80 voos e mais de 30 toneladas transportadas

MEMÓRIA
 Neves em uma das muitas missões esperando o avião ser descarregado

A mobilização estendeu-se aos parceiros da aviação agrícola. Para manter a operação, o Sindag e o Ibravag iniciaram a campanha Aviação Agrícola pelo Rio Grande do Sul – SOS 2024, para arrecadação de recursos destinada a  compra de combustível para as aeronaves envolvidas nas operações, que realizaram mais de 80 voos transportando mais de 30 toneladas de mantimentos.

E a ajuda chegou. A FS, produtora de etanol de milho, doou 39 mil litros de combustível para a operação. A Associação Nacional de Empresas Privadas Aeroagrícolas do Uruguai (Anepa) e a Federação Argentina de Câmaras Aeroagrícolas (Fearca) disponibilizaram 10 mil litros de combustível para serem usados nas operações.

Os presidentes das entidades dos países vizinhos, Walter Malfato (Fearca) e Lionel Rossi (Anepa), ainda assinaram uma Nota de Colaboração ao Ibravag e ao Sindag, pelas operações aéreas destinadas a levar mantimentos às cidades inundadas. Segue parte do texto: “Com a determinação de permanecermos atentos e ocupados em reforçar as tarefas de solidariedade que estão sendo desenvolvidas diante dessa catástrofe e de suas eventuais consequências (…), enfatizando mais uma vez a importância e a relevância da aviação agrícola em nossa região, ratificando nosso compromisso de abordar situações para as quais somos solicitados.

A União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) também ofereceu combustível aos operadores, porém, não chegou a ser consumido. Assim, foi devolvido à entidade.

MOVIMENTAÇÃO 
Hangar da Terra foi a base da operação, recebendo produtos captados em Santa Cruz do Sul e fazendo a distribuição para as comunidades necessitadas

Atender o hospital de Cachoeira do Sul estava entre as missões

A DP Aviação, com sede em Cachoeira do Sul, atuou em três frentes. Antes de ter início a missão humanitária do Ibravag, a operadora já estava participando do projeto Asas da Solidariedade, que tem sede em Santa Catarina. A força-tarefa formada por empresários e agricultores de todo o Brasil, reuniu aviões executivos e helicópteros, que traziam donativos para o Rio Grande do Sul, inclusive fazendo entregas e auxiliando em resgates. A DP também abraçou o Hospital de Caridade e Beneficência (HCB), de Cachoeira do Sul, levando medicamentos e transportando pessoas em uma aeronave pequena da empresa.

“Nós conseguimos, inclusive, articular, por meio da Base Aérea de Santa Maria, que a Força Aérea fizesse o transporte de oxigênio, para o hospital”, pontua o diretor da DP Aviação, Rodrigo Almansa. O produto altamente inflamável não podia ser transportado pelos aviões agrícolas. No entanto, explicou o empresário, como o Caridade  é referência em tratamento oncológico e hemodiálise, sendo muito procurado pelos moradores dos municípios do entorno, era extremamente importante levar o oxigênio, que estava acabando.

EQUILÍBRIO

Para todas as suas operações, a DP colocou três aeronaves – dois Cessna (um AgTruck e um AgWagon) e um RV-6 (avião pequeno de dois lugares mais bagageiro). No comando dos aviões, estavam os pilotos agrícolas Ricardo Pires Neves, Felipe Almeida e Rogério Possebon. Desta vez, eles decolariam e pousariam com o hopper cheio. “Essa dinâmica foge do dia a dia na lavoura”, assinala Almansa, lembrando que essas aeronaves têm como ponto de equilíbrio decolar com peso e pousar vazias.

Independente da necessidade de buscar um novo equilíbrio para os aviões, a missão foi cumprida com sucesso, mas ficou na memória um Estado devastado pelas águas. “Nunca vi nada igual. No Vale do Taquari, parece que as cidades foram varridas”, relembra o comandante Neves, que ano que vem completa 30 safras. Além das viagens com aeronaves agrícolas, para captação de suprimentos, inclusive, medicamentos, dentro da missão do Ibravag, fez três voos a Porto Alegre no RV-6, com o bagageiro cheio de encomendas do hospital.

Solidariedade moveu voluntários

OPERAÇÃO 
Aeroagrícola de São Sepé voou 25 horas para transportar suprimentos.
Foto: Sepal Aviação Agrícola

Com sede em Pantano Grande, a Nitz Aviação Agrícola também atendeu ao pedido do Ibravag e foi para a linha de frente ajudar a abastecer os municípios de Eldorado do Sul, um dos mais atingidos pela chuva, e Charqueadas, que também estava sem acesso por terra. Sócio da empresa e piloto agrícola, Batista Coelho Longarai, conta que colocou três aeronaves – dois Cessna AgTruck e um Ipanema à disposição da missão humanitária. Os pilotos – Gustavo Plautz de Matos, Jonatas Sales E Maurício Conze – também se integraram à operação voluntária.

Outra aeroagrícola que também prestou assistência às vítimas das chuvas fortes foi a Sepal Aviação Agrícola. A empresa com sede em São Sepé, conseguiu o apoio de três pilotos agrícolas Uillian Dias Martins, Matheus Tolotti e Flademir Pistoia dos Santos (Alemão Sepal), que se prontificaram a ajudar na missão humanitária coordenada pelo Ibravag. Assim, colocou a voar três Cessna AgTruck. No total, a Sepal computou 25 horas de voo, embora tenha começado com um avião e aumentando para dois e depois para três no decorrer da operação.

O diretor da Sepal, Mário Rodolfo Textor, conta que colocar as aeronaves a voar foi uma questão de solidariedade. “Esse pessoal todo ilhado, sem acesso a remédios e a alimentação, sem conseguir suprir as necessidades básicas, era muita água, era muito triste”, pontuou o empresário. E a forma de ajudar foi liberar os aviões, que têm operação fácil, podendo pousar e decolar em qualquer estrada, até em campo. “Aí surgiu essa ideia, junto com o pessoal do Ibravag”, esclarece.

“Carregamos de tudo”

PREPARO
 Aviões agrícolas transportaram desde alimentos, água, passando por produtos de limpeza até medicamentos.
Foto: Castor Becker Júnior/C5 NewsPress

O piloto agrícola Eduardo Hentschke Schroeder, sócio da Terra Aviação Agrícola, foi um dos que voou na captação e entrega de suprimentos. Para a demanda, a aeroagrícola voou com dois Cessna AgTruck e três pilotos. Além do comandante, participou da operação Caio Henrique Kämpf. “Carregamos de tudo. Desde alimentos, água, fralda, medicamentos, até material para quimioterapia e hemodiálise”, conta o comandante. Segundo ele, chegou a fazer seis voos cheios de material de hemodiálise para o Hospital de Cachoeira do Sul.

Schroeder lembra que inclusive sangue foi transportado nas aeronaves dentro de um isopor. Essa entrega chegou na base da Terra de helicóptero, vindo de Santa Maria, com destino a Porto Alegre. De Cachoeira do Sul, o pessoal da DP Aviação levou até Santa Cruz do Sul e do Posto Avançado seguiu em helicóptero para a capital do Estado. Com 42 anos, o piloto diz que nunca viu algo igual. “Quando chegávamos em algum lugar, era muito triste ver o desespero no semblante das pessoas, e ao mesmo tempo se mostrarem tão agradecidas por receberem os donativos”, destaca o comandante.

HQ para eternizar ação dos pilotos no RS

HOMENAGEM
 Crescenti faz um alerta sobre o cansaço e pede que um piloto cuide do outro.
Imagem: Galeria Crescenti

Os pilotos foram os grandes heróis que chegavam onde ninguém mais conseguia. Agrícolas ou não, os comandantes tiveram contato direto com as comunidades sofridas, e a disposição em ajudar não passou despercebida pelo quadrinista Fernando Crescenti, que conhece de perto a tarefa de conduzir um avião em segurança. E valeu até uma história em quadrinhos (HQ) alertando os pilotos que estavam em missão no Sul do Brasil para que cuidassem um do outro.

Trinta anos como piloto comercial e atualmente piloto executivo, Crescenti faz HQ desde criança, mas começou a desenhar profissionalmente há mais de dez, para abastecer a Galeria Crescenti. Fã dos grandes quadrinistas dos anos 1990, destaca Laerte, Glauco e o Angeli. “Eles foram os grandes influenciadores da minha produção”, revela. Um trabalho que já foi publicado em vários jornais do Brasil e em alguns da Alemanha. Histórias que podem ser apreciadas também em livro. Em agosto, ele lança a sua quarta publicação, chamada Diário de Bordo 3 – Com as fantásticas dicas do comandante Badanha!

Parceiros contribuíram com donativos

ENTREGA
Empresa de Mato Grosso do Sul arrecadou roupas, alimentos entre outros produtos para enviar para as vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul

Outras empresas ligadas à aviação agrícola também contribuíram enviando doações para o Rio Grande do Sul. Um exemplo foi a Mossmann Assessoria e Consultoria Aeroagrícola, com sede no Mato Grosso do Sul, que mobilizou seus parceiros para a arrecadação de roupas e alimentos, inclusive ração animal e produtos de higiene pessoal. Entre as pessoas que contribuíram estavam clientes, empresas, o CTG Dourados, motoclubes da cidade e até a Prefeitura de Antônio João, município da microrregião de Dourados.A entrega foi direcionada ao município de São Sebastião do Caí.

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