Abertura

Aeroagrícolas aparecem como alternativa para aliviar custos no agro

Pulverização aérea avança como alternativa para reduzir despesas, garantir eficiência e atender às exigências operacionais e ambientais da safra 2025/2026

Publicado em: 18/12/25, 
às 15:27, 
por IBRAVAG

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Orçamento limitado, juros altos, incertezas no cenário macroeconômico global são alguns dos desafios que devem permear a safra 2025/2026. “O momento é de fazer contas em busca de ferramentas que auxiliem na redução dos custos de produção”, pondera o presidente do instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag), Júlio Augusto Kämpf. Tanto que a entidade está promovendo uma campanha para ampliar o uso da ferramenta nas lavouras, incentivando a terceirização do serviço.

Kämpf entende que a tecnologia pode ser uma importante aliada do produtor na hora de fechar a conta com rentabilidade. A terceirização do serviço de pulverização aparece como uma saída para implementar tecnologia de ponta na lavoura sem imobilizar capital. O piloto agrícola e empresário Caio Balzan destaca que a contratação de serviços  de pulverização aérea é  “fundamental” para o produtor que busca eficiência sem os custos e as responsabilidades inerentes à operação de uma aeronave própria.

Segundo Balzan, o primeiro grande benefício da terceirização é o acesso a conhecimento especializado. “As exigências operacionais, fiscais e de manutenção são enormes. Por desconhecimento, muitos produtores acabam frustrados ao comprar o avião por perceberem a complexidade e o custo do processo”, afirma o operador comercial.

EXIGÊNCIAS

De acordo com a diretora executiva do Mossmann Group, Cléria Regina Mossmann, mestre em Agronegócios, com expertise em gestão da documentação, operadores aeroagrícolas devem prestar informações sobre suas operações a nove órgãos reguladores e/ou fiscalizadores. Nesta lista está Agência Nacional de Aviação Agrícola (Anac) e Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), responsáveis pela normatização da atividade. Além disso, alguns municípios possuem regras próprias para permitir a atividade.

Ainda entram nessa conta a exigência de profissionais habilitados para a operação. Além do piloto agrícola, para operar a ferramenta é necessário engenheiro agrônomo e técnico agrícola, com os cursos, respectivamente, de coordenador (CCAA) e de executor (CEAA), ambos homologados pelo Mapa. Para quem presta serviços com drone precisa comprovar a realização do Curso Aplicação Aeroagrícola Remota (CAAR).

Obrigações que trazem para o serviço aeroagrícola – e até mesmo para os operadores privados (donos de fazenda que possuem aeronave própria) – a transparência tão necessária neste momento em que os olhos do mundo se voltam para a sustentabilidade ambiental e social. “O modelo terceirizado reduz custos fixos, otimiza o uso de capital e assegura alto padrão técnico, ambiental e operacional nas aplicações de insumos”, pontua o diretor-executivo do Ibravag e do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Gabriel Colle.

Órgão / ObrigaçãoOperador Comercial (Operador Aeroagrícola)Operador Privado (fazendas com avião próprio)
Anac: Agência Nacional de Aviação Civil
Ter CDAG atualizado e válido
Designar e cadastrar Gestor Responsável
Ter Certificado de Matrícula (CM) da aeronave (comprova o seu registro no Brasil)
Ter Certificado de Aeronavegabilidade (CA) da aeronave válido
Ter piloto agrícola habilitado (conforme RBAC nº 61)
Registrar as manutenções de equipamentos (tanques, bombas, GPS/DGPS), os relatórios de voo e segurança operacional
Manter informações cadastrais atualizadas junto ao órgão
Seguir o Guia de Boas Práticas para Operações Aeroagrícolas
Disponibilizar aos pilotos e pessoal técnico os manuais de operação e dos equipamentos, publicações técnicas, boletins de serviços e outros, visando a correta condução das atividades
Mapa: Ministério da Agricultura e Pecuária
Manter informações do registro atualizadas, incluindo profissionais envolvidos nas operações
Atender às exigências da IN nº 2/2008
Utilizar equipamentos aprovados para aeronaves agrícolas
Manter arquivados relatórios operacionais de aplicações por no mínimo 2 anos, assim como seus respectivos documentos complementares (receituário agronômico e mapas de aplicação)
Decea: Departamento de Controle do Espaço Aéreo • Comaer: Comando da Aeronáutica
Solicitar autorização de uso do espaço aéreo
Registrar plano de voo para cada operação
Observar restrições de áreas e rotas
Ibama: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis • IN nº 13/2021
Inscrição ativa no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e/ou Utilizadoras de Recursos Ambientais (CTF/APP)
Operações com aeronaves tripuladas devem registrar as atividades:
Operação de Aeródromo
Aplicação de Agrotóxicos e Afins
Documentos emitidos:
Comprovante de Inscrição no CTF/APP
Certificado de Regularidade
Suasa: Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária — Defesa Vegetal Estadual
Registrar a empresa no órgão de defesa vegetal do estado de atuação e nos demais em que operar
Cumprimento das normativas estaduais vigentes na região de operações
Atentar para requisitos adicionais, como, por exemplo, envio de relatórios ou mudança nos distanciamentos mínimos de segurança estipulados. Ex: INDEA-MT
CREA: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia
Registro profissional do agrônomo e emissão de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART)
Emissão da certidão de registro, manutenção das anuidades e informações no registro da empresaSomente quando o operador privado se tratar de uma pessoa jurídica
Nota: o registro do profissional e da empresa devem ser solicitados em todos os Estados em que a empresa opera
CFTA: Conselho Federal dos Técnicos Agrícolas
Registro do profissional mais emissão de Termo de Responsabilidade Técnica (TRT)
Emissão da certidão de registro, quitação, manutenção das anuidades e informações no registroSomente quando o operador privado se tratar de uma pessoa jurídica
Corpo de Bombeiros
Plano de Segurança Contra Incêndio e Pânico (PSCIP) para aprovar as instalações (hangar, pista e pátio de abastecimento) e autorizar o funcionamento. Para pequenas em áreas rurais, o PSCIP pode ser dispensado ou substituído por vistoria simplificada, conforme a legislação estadual e o porte da base.
Segurança e Saúde do Trabalho
PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (NR-7): acompanhamento periódico da saúde dos trabalhadores expostos aos riscos da atividade aeroagrícola
PGR – Programa de Gerenciamento de Riscos
LTCAT – Laudo Técnico das Condições do Ambiente de Trabalho (NR-15) – avalia possíveis agentes nocivos que gerem direito à aposentadoria especial para o trabalhador (INSS – Instituto Nacional do Seguro Social)
Laudos de Insalubridade e Periculosidade – indicam necessidade de pagamentos adicionais e orientam medidas de prevenção
SST – Saúde e Segurança no Trabalho – Informações enviadas mensalmente por meio do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), para fins de fiscalização e benefícios previdenciários

Tecnologia sob demanda: solução estratégica para o agronegócio

INTERESSE
Professora dra. Regina Pagani conta que o tema terceirização no agro ganhou mais destaque a partir de 2017.
Foto: Acervo pessoal

Em um cenário atual marcado por alto custo de crédito e incertezas climáticas, a terceirização no agronegócio emerge como uma solução estratégica para os produtores rurais. A dra. Regina Negri Pagani, professora do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção do Instituto Tecnológico Federal do Paraná (PPGEP/ITFPR), acredita que a contratação de serviços especializados – incluindo aí a aviação agrícola – pode ser um caminho alternativo e eficaz para mitigar riscos e reduzir os custos de produção.

Orientadora da dissertação Terceirização no agronegócio: um panorama da atualidade, da aluna do PPGEP/ITFPR Sabrina Aparecida Pereira, a professora Regina ressalta que a literatura sobre o tema no Brasil ainda é escassa. A pesquisa desenvolvida em 2021 aponta que os estudos sobre a terceirização no campo ganharam mais destaque e interesse acadêmico a partir de 2017, potencialmente motivados pela ampliação das discussões e pesquisas relacionadas à Indústria 4.0 e à agricultura de precisão.

Filha de produtores rurais, Regina compreende que o custo da terceirização de serviços é uma preocupação, mas que, ao longo do tempo, o produtor perceberá que ele não é tão elevado quando comparado aos custos diretos de posse. Para reduzir essa despesa, sugere a adoção de alternativas, como a criação de um sistema cooperativado para cursos, treinamento e melhor compreensão das novas tecnologias, seus usos e seus benefícios.

Além disso, lembra:  “quando eu terceirizo, eu pago para usar a tecnologia no momento em que eu preciso, dispensando custos com uma tecnologia usada esporadicamente”. Assim, o produtor evita despesas como: custo de armazenamento da máquina; custos de manutenção; depreciação; necessidade de contratação de um operador capacitado exclusivo o ano todo.

Complexidade operacional pede profissionais especializados

SEGURANÇA
Caio Balzan alerta para o risco da falta de conhecimento para operar tecnologia de ponta.
Foto: Acervo Serrana Aviação Agrícola

O diretor da Serrana Aviação Agrícola, o piloto agrícola Caio Balzan, entende que a tendência é que a profissionalização e o aumento da complexidade operacional levem cada vez mais fazendas à terceirização. E adverte que, quando se fala em tecnologia de ponta, como a aviação agrícola, os riscos de operar o equipamento sem domínio técnico e sem infraestrutura adequada podem comprometer a segurança da operação.

Os argumentos a favor de os produtores terceirizarem a aplicação aérea começam pelo acesso a profissionais especializado, seguindo pelo uso eficiente da janela climática. Conforme Balzan, a terceirização não deixa o produtor limitado ao seu ativo imobilizado. “Se o clima apertou, ele liga para o operador e pede outra aeronave. Ele não precisa comprometer a qualidade da aplicação para justificar o investimento”, assinala. O mesmo vale para o aumento da demanda.

Outro argumento destacado pelo empresário aeroagrícola diz respeito à manutenção. “O produtor paga apenas pelo serviço. Se houver problema na turbina, se o avião sofrer dano ou se uma peça de US$ 70 mil precisar ser trocada, isso é responsabilidade do operador, não da fazenda”, afirma Balzan.

Embora ainda não haja um percentual exato de economia ao terceirizar o serviço de aplicação, Balzan afirma que o custo oculto do avião parado, somado às despesas fixas e riscos operacionais, torna a aquisição própria uma conta difícil de fechar.

Apesar das vantagens da terceirização e, segundo Balzan, o movimento de contratação permanecer aquecido na área em que atua, o setor enfrenta um problema recorrente: o fechamento do serviço baseado exclusivamente no preço. “O contratante muitas vezes não sabe avaliar se a aplicação foi feita com qualidade. Se conseguirmos ensinar o produtor a fiscalizar o serviço – pré e pós-aplicação, análise de mapas, parâmetros técnicos –, as empresas que trabalham de forma inadequada vão ser obrigadas a se ajustar”, afirma Balzan.

Valorização do serviço especializado na pauta

NEGOCIAÇÃO
Rodrigo de Faria aponta para a necessidade de os operadores saberem vender melhor seus serviços, mostrando seu diferencial.
Foto: Acervo Jusarah Agro Aéreo

Para o diretor da Jusarah Agro Aérea, o piloto agrícola Rodrigo de Faria, o empresário do setor precisa aprender a vender melhor o seu trabalho. Isso é fundamental neste momento em que a escassez de mão de obra está ditando o ritmo do crescimento do mundo, principalmente no setor que mais impulsiona o agro, que é o de serviços. “Contudo, o setor tem um custo elevado de infraestrutura e logística para entregar uma aplicação de qualidade e competente”, reforça o operador.

É justamente toda essa engrenagem, com profissionais especializados cumprindo todas as exigências dos órgãos reguladores – incluindo engenheiro agrônomo, pilotos agrícolas, coordenador de voo e técnico executor –, que será colocada à disposição do contratante para gerar o resultado esperado, ou seja, um tratamento eficaz da planta. Isso sem contar aeronaves com tecnologia de ponta embarcada.

CONFIANÇA

“O DNA da operadora aeroagrícola é fazer aplicações aéreas de insumos na lavoura, e isso é trabalhado durante todo o ano, não somente na safra de determinada cultura, como ocorre nas fazendas”, explica Faria. E essa diferenciação, que traz embutidos salários altos em relação à média brasileira, cursos de atualização contínua e novidades na tecnologia de aplicação, precisa ser considerada na hora do fechamento do contrato.

Por isso, ele entende que é fundamental que operadores saibam negociar, saibam dialogar com o contratante para que ele tenha uma leitura real de onde as empresas desse ramo podem e querem chegar. Para isso, Faria reforça: “É muito importante que o cliente sinta confiança, que somente é transmitida por meio do conhecimento profundo das técnicas e tecnologias associadas à atividade”.

Produtor compara custo/benefício da aplicação aérea

MANEJO
Fazenda usa há sete anos a aviação agrícola no trato da lavoura pela agilidade e por evitar amassamento da plantação.
Foto: Acervo Fazenda Predebon

Preocupado com a alta de custos ano a ano, o produtor rural Gustavo Predebon tem na aviação agrícola uma importante aliada. Há pelo menos sete anos, a Fazenda Predebon, de Quatro Irmãos/RS, contrata o serviço especializado. Conforme o gestor, a ideia é compensar os custos com o aumento da colheita. “A ferramenta evita perdas e mantém o potencial produtivo”, afirma.

Agora, Predebon iniciou um experimento inédito na propriedade: conduzir um talhão de 60 hectares de milho com 100% das aplicações feitas por aviões agrícolas e comparar os resultados com uma área vizinha manejada de forma tradicional — com uso misto de pulverização terrestre e aérea.

O projeto, desenvolvido em parceria com a Aerodinâmica Aviação Agrícola, de Erechim/RS, conta com a supervisão da engenheira agrônoma Daiani Brandler, pela operadora, e do engenheiro agrônomo da fazenda Luciano Remor. “Vamos colocar tudo no papel e ver quanto vai dar de diferença da aviação agrícola para a área onde houve aplicações mistas — terrestres e aéreas”, afirma.

Os resultados só serão conhecidos em abril, quando o milho será colhido. No próximo ano agrícola, o produtor pretende repetir a experiência com soja para gerar dados comparativos. Diferentemente do milho, que, por ser uma cultura alta, a partir de determinado estágio torna indispensável a operação aérea, na soja é possível ter um talhão somente com aplicações aéreas e outro somente com terrestres.

PLANEJAMENTO

O objetivo do experimento com aviação agrícola é simples: preservar a rentabilidade da fazenda produtora de soja e milho no verão; e trigo, aveia e centeio no inverno. “O custo sobe ano após ano e a margem fica cada vez menor”, afirma o produtor. Insumos como ureia, adubos e calcário também pressionam o orçamento. Assim, os resultados servirão como base para o planejamento da safra 2026/2027.

A avaliação completa será feita após a colheita do milho, em abril. “Queremos medir com precisão se a aviação agrícola compensa pelo ganho de tempo, redução de amassamento e possível aumento de produtividade”, explica Predebon. Porém, mesmo antes da coleta dos dados, Predebon, que assumiu a gestão da fazenda há quatro anos, destaca os predicados da aviação agrícola.

A agilidade é um dos fatores que considera muito importante por oportunizar a aplicação na melhor janela climática. “O que eu demoro dois dias para fazer com pulverizador terrestre, o avião faz em três horas, às vezes menos. É muito prático para nós”, afirma Predebon.

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