Orçamento limitado, juros altos, incertezas no cenário macroeconômico global são alguns dos desafios que devem permear a safra 2025/2026. “O momento é de fazer contas em busca de ferramentas que auxiliem na redução dos custos de produção”, pondera o presidente do instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag), Júlio Augusto Kämpf. Tanto que a entidade está promovendo uma campanha para ampliar o uso da ferramenta nas lavouras, incentivando a terceirização do serviço.
Kämpf entende que a tecnologia pode ser uma importante aliada do produtor na hora de fechar a conta com rentabilidade. A terceirização do serviço de pulverização aparece como uma saída para implementar tecnologia de ponta na lavoura sem imobilizar capital. O piloto agrícola e empresário Caio Balzan destaca que a contratação de serviços de pulverização aérea é “fundamental” para o produtor que busca eficiência sem os custos e as responsabilidades inerentes à operação de uma aeronave própria.
Segundo Balzan, o primeiro grande benefício da terceirização é o acesso a conhecimento especializado. “As exigências operacionais, fiscais e de manutenção são enormes. Por desconhecimento, muitos produtores acabam frustrados ao comprar o avião por perceberem a complexidade e o custo do processo”, afirma o operador comercial.
EXIGÊNCIAS
De acordo com a diretora executiva do Mossmann Group, Cléria Regina Mossmann, mestre em Agronegócios, com expertise em gestão da documentação, operadores aeroagrícolas devem prestar informações sobre suas operações a nove órgãos reguladores e/ou fiscalizadores. Nesta lista está Agência Nacional de Aviação Agrícola (Anac) e Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), responsáveis pela normatização da atividade. Além disso, alguns municípios possuem regras próprias para permitir a atividade.
Ainda entram nessa conta a exigência de profissionais habilitados para a operação. Além do piloto agrícola, para operar a ferramenta é necessário engenheiro agrônomo e técnico agrícola, com os cursos, respectivamente, de coordenador (CCAA) e de executor (CEAA), ambos homologados pelo Mapa. Para quem presta serviços com drone precisa comprovar a realização do Curso Aplicação Aeroagrícola Remota (CAAR).
Obrigações que trazem para o serviço aeroagrícola – e até mesmo para os operadores privados (donos de fazenda que possuem aeronave própria) – a transparência tão necessária neste momento em que os olhos do mundo se voltam para a sustentabilidade ambiental e social. “O modelo terceirizado reduz custos fixos, otimiza o uso de capital e assegura alto padrão técnico, ambiental e operacional nas aplicações de insumos”, pontua o diretor-executivo do Ibravag e do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Gabriel Colle.
| Órgão / Obrigação | Operador Comercial (Operador Aeroagrícola) | Operador Privado (fazendas com avião próprio) |
|---|---|---|
| Anac: Agência Nacional de Aviação Civil | ||
| Ter CDAG atualizado e válido | ☒ | |
| Designar e cadastrar Gestor Responsável | ☒ | |
| Ter Certificado de Matrícula (CM) da aeronave (comprova o seu registro no Brasil) | ☒ | ☒ |
| Ter Certificado de Aeronavegabilidade (CA) da aeronave válido | ☒ | ☒ |
| Ter piloto agrícola habilitado (conforme RBAC nº 61) | ☒ | ☒ |
| Registrar as manutenções de equipamentos (tanques, bombas, GPS/DGPS), os relatórios de voo e segurança operacional | ☒ | ☒ |
| Manter informações cadastrais atualizadas junto ao órgão | ☒ | |
| Seguir o Guia de Boas Práticas para Operações Aeroagrícolas | ☒ | ☒ |
| Disponibilizar aos pilotos e pessoal técnico os manuais de operação e dos equipamentos, publicações técnicas, boletins de serviços e outros, visando a correta condução das atividades | ☒ | ☒ |
| Mapa: Ministério da Agricultura e Pecuária | ||
| Manter informações do registro atualizadas, incluindo profissionais envolvidos nas operações | ☒ | ☒ |
| Atender às exigências da IN nº 2/2008 | ☒ | ☒ |
| Utilizar equipamentos aprovados para aeronaves agrícolas | ☒ | ☒ |
| Manter arquivados relatórios operacionais de aplicações por no mínimo 2 anos, assim como seus respectivos documentos complementares (receituário agronômico e mapas de aplicação) | ☒ | ☒ |
| Decea: Departamento de Controle do Espaço Aéreo • Comaer: Comando da Aeronáutica | ||
| Solicitar autorização de uso do espaço aéreo | ☒ | ☒ |
| Registrar plano de voo para cada operação | ☒ | ☒ |
| Observar restrições de áreas e rotas | ☒ | ☒ |
| Ibama: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis • IN nº 13/2021 | ||
| Inscrição ativa no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e/ou Utilizadoras de Recursos Ambientais (CTF/APP) | ☒ | ☒ |
| Operações com aeronaves tripuladas devem registrar as atividades: | ||
| Operação de Aeródromo | ☒ | ☒ |
| Aplicação de Agrotóxicos e Afins | ☒ | ☒ |
| Documentos emitidos: | ||
| Comprovante de Inscrição no CTF/APP | ☒ | ☒ |
| Certificado de Regularidade | ☒ | ☒ |
| Suasa: Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária — Defesa Vegetal Estadual | ||
| Registrar a empresa no órgão de defesa vegetal do estado de atuação e nos demais em que operar | ☒ | |
| Cumprimento das normativas estaduais vigentes na região de operações | ☒ | ☒ |
| Atentar para requisitos adicionais, como, por exemplo, envio de relatórios ou mudança nos distanciamentos mínimos de segurança estipulados. Ex: INDEA-MT | ☒ | ☒ |
| CREA: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia | ||
| Registro profissional do agrônomo e emissão de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) | ☒ | ☒ |
| Emissão da certidão de registro, manutenção das anuidades e informações no registro da empresa | ☒ | Somente quando o operador privado se tratar de uma pessoa jurídica |
| Nota: o registro do profissional e da empresa devem ser solicitados em todos os Estados em que a empresa opera | ||
| CFTA: Conselho Federal dos Técnicos Agrícolas | ||
| Registro do profissional mais emissão de Termo de Responsabilidade Técnica (TRT) | ☒ | ☒ |
| Emissão da certidão de registro, quitação, manutenção das anuidades e informações no registro | ☒ | Somente quando o operador privado se tratar de uma pessoa jurídica |
| Corpo de Bombeiros | ||
| Plano de Segurança Contra Incêndio e Pânico (PSCIP) para aprovar as instalações (hangar, pista e pátio de abastecimento) e autorizar o funcionamento. Para pequenas em áreas rurais, o PSCIP pode ser dispensado ou substituído por vistoria simplificada, conforme a legislação estadual e o porte da base. | ☒ | ☒ |
| Segurança e Saúde do Trabalho | ||
| PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (NR-7): acompanhamento periódico da saúde dos trabalhadores expostos aos riscos da atividade aeroagrícola | ☒ | ☒ |
| PGR – Programa de Gerenciamento de Riscos | ☒ | ☒ |
| LTCAT – Laudo Técnico das Condições do Ambiente de Trabalho (NR-15) – avalia possíveis agentes nocivos que gerem direito à aposentadoria especial para o trabalhador (INSS – Instituto Nacional do Seguro Social) | ☒ | ☒ |
| Laudos de Insalubridade e Periculosidade – indicam necessidade de pagamentos adicionais e orientam medidas de prevenção | ☒ | ☒ |
| SST – Saúde e Segurança no Trabalho – Informações enviadas mensalmente por meio do Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), para fins de fiscalização e benefícios previdenciários | ☒ | ☒ |
Tecnologia sob demanda: solução estratégica para o agronegócio

Professora dra. Regina Pagani conta que o tema terceirização no agro ganhou mais destaque a partir de 2017.
Foto: Acervo pessoal
Em um cenário atual marcado por alto custo de crédito e incertezas climáticas, a terceirização no agronegócio emerge como uma solução estratégica para os produtores rurais. A dra. Regina Negri Pagani, professora do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção do Instituto Tecnológico Federal do Paraná (PPGEP/ITFPR), acredita que a contratação de serviços especializados – incluindo aí a aviação agrícola – pode ser um caminho alternativo e eficaz para mitigar riscos e reduzir os custos de produção.
Orientadora da dissertação Terceirização no agronegócio: um panorama da atualidade, da aluna do PPGEP/ITFPR Sabrina Aparecida Pereira, a professora Regina ressalta que a literatura sobre o tema no Brasil ainda é escassa. A pesquisa desenvolvida em 2021 aponta que os estudos sobre a terceirização no campo ganharam mais destaque e interesse acadêmico a partir de 2017, potencialmente motivados pela ampliação das discussões e pesquisas relacionadas à Indústria 4.0 e à agricultura de precisão.
Filha de produtores rurais, Regina compreende que o custo da terceirização de serviços é uma preocupação, mas que, ao longo do tempo, o produtor perceberá que ele não é tão elevado quando comparado aos custos diretos de posse. Para reduzir essa despesa, sugere a adoção de alternativas, como a criação de um sistema cooperativado para cursos, treinamento e melhor compreensão das novas tecnologias, seus usos e seus benefícios.
Além disso, lembra: “quando eu terceirizo, eu pago para usar a tecnologia no momento em que eu preciso, dispensando custos com uma tecnologia usada esporadicamente”. Assim, o produtor evita despesas como: custo de armazenamento da máquina; custos de manutenção; depreciação; necessidade de contratação de um operador capacitado exclusivo o ano todo.
Complexidade operacional pede profissionais especializados

Caio Balzan alerta para o risco da falta de conhecimento para operar tecnologia de ponta.
Foto: Acervo Serrana Aviação Agrícola
O diretor da Serrana Aviação Agrícola, o piloto agrícola Caio Balzan, entende que a tendência é que a profissionalização e o aumento da complexidade operacional levem cada vez mais fazendas à terceirização. E adverte que, quando se fala em tecnologia de ponta, como a aviação agrícola, os riscos de operar o equipamento sem domínio técnico e sem infraestrutura adequada podem comprometer a segurança da operação.
Os argumentos a favor de os produtores terceirizarem a aplicação aérea começam pelo acesso a profissionais especializado, seguindo pelo uso eficiente da janela climática. Conforme Balzan, a terceirização não deixa o produtor limitado ao seu ativo imobilizado. “Se o clima apertou, ele liga para o operador e pede outra aeronave. Ele não precisa comprometer a qualidade da aplicação para justificar o investimento”, assinala. O mesmo vale para o aumento da demanda.
Outro argumento destacado pelo empresário aeroagrícola diz respeito à manutenção. “O produtor paga apenas pelo serviço. Se houver problema na turbina, se o avião sofrer dano ou se uma peça de US$ 70 mil precisar ser trocada, isso é responsabilidade do operador, não da fazenda”, afirma Balzan.
Embora ainda não haja um percentual exato de economia ao terceirizar o serviço de aplicação, Balzan afirma que o custo oculto do avião parado, somado às despesas fixas e riscos operacionais, torna a aquisição própria uma conta difícil de fechar.
Apesar das vantagens da terceirização e, segundo Balzan, o movimento de contratação permanecer aquecido na área em que atua, o setor enfrenta um problema recorrente: o fechamento do serviço baseado exclusivamente no preço. “O contratante muitas vezes não sabe avaliar se a aplicação foi feita com qualidade. Se conseguirmos ensinar o produtor a fiscalizar o serviço – pré e pós-aplicação, análise de mapas, parâmetros técnicos –, as empresas que trabalham de forma inadequada vão ser obrigadas a se ajustar”, afirma Balzan.
Valorização do serviço especializado na pauta

Rodrigo de Faria aponta para a necessidade de os operadores saberem vender melhor seus serviços, mostrando seu diferencial.
Foto: Acervo Jusarah Agro Aéreo
Para o diretor da Jusarah Agro Aérea, o piloto agrícola Rodrigo de Faria, o empresário do setor precisa aprender a vender melhor o seu trabalho. Isso é fundamental neste momento em que a escassez de mão de obra está ditando o ritmo do crescimento do mundo, principalmente no setor que mais impulsiona o agro, que é o de serviços. “Contudo, o setor tem um custo elevado de infraestrutura e logística para entregar uma aplicação de qualidade e competente”, reforça o operador.
É justamente toda essa engrenagem, com profissionais especializados cumprindo todas as exigências dos órgãos reguladores – incluindo engenheiro agrônomo, pilotos agrícolas, coordenador de voo e técnico executor –, que será colocada à disposição do contratante para gerar o resultado esperado, ou seja, um tratamento eficaz da planta. Isso sem contar aeronaves com tecnologia de ponta embarcada.
CONFIANÇA
“O DNA da operadora aeroagrícola é fazer aplicações aéreas de insumos na lavoura, e isso é trabalhado durante todo o ano, não somente na safra de determinada cultura, como ocorre nas fazendas”, explica Faria. E essa diferenciação, que traz embutidos salários altos em relação à média brasileira, cursos de atualização contínua e novidades na tecnologia de aplicação, precisa ser considerada na hora do fechamento do contrato.
Por isso, ele entende que é fundamental que operadores saibam negociar, saibam dialogar com o contratante para que ele tenha uma leitura real de onde as empresas desse ramo podem e querem chegar. Para isso, Faria reforça: “É muito importante que o cliente sinta confiança, que somente é transmitida por meio do conhecimento profundo das técnicas e tecnologias associadas à atividade”.
Produtor compara custo/benefício da aplicação aérea

Fazenda usa há sete anos a aviação agrícola no trato da lavoura pela agilidade e por evitar amassamento da plantação.
Foto: Acervo Fazenda Predebon
Preocupado com a alta de custos ano a ano, o produtor rural Gustavo Predebon tem na aviação agrícola uma importante aliada. Há pelo menos sete anos, a Fazenda Predebon, de Quatro Irmãos/RS, contrata o serviço especializado. Conforme o gestor, a ideia é compensar os custos com o aumento da colheita. “A ferramenta evita perdas e mantém o potencial produtivo”, afirma.
Agora, Predebon iniciou um experimento inédito na propriedade: conduzir um talhão de 60 hectares de milho com 100% das aplicações feitas por aviões agrícolas e comparar os resultados com uma área vizinha manejada de forma tradicional — com uso misto de pulverização terrestre e aérea.
O projeto, desenvolvido em parceria com a Aerodinâmica Aviação Agrícola, de Erechim/RS, conta com a supervisão da engenheira agrônoma Daiani Brandler, pela operadora, e do engenheiro agrônomo da fazenda Luciano Remor. “Vamos colocar tudo no papel e ver quanto vai dar de diferença da aviação agrícola para a área onde houve aplicações mistas — terrestres e aéreas”, afirma.
Os resultados só serão conhecidos em abril, quando o milho será colhido. No próximo ano agrícola, o produtor pretende repetir a experiência com soja para gerar dados comparativos. Diferentemente do milho, que, por ser uma cultura alta, a partir de determinado estágio torna indispensável a operação aérea, na soja é possível ter um talhão somente com aplicações aéreas e outro somente com terrestres.
PLANEJAMENTO
O objetivo do experimento com aviação agrícola é simples: preservar a rentabilidade da fazenda produtora de soja e milho no verão; e trigo, aveia e centeio no inverno. “O custo sobe ano após ano e a margem fica cada vez menor”, afirma o produtor. Insumos como ureia, adubos e calcário também pressionam o orçamento. Assim, os resultados servirão como base para o planejamento da safra 2026/2027.
A avaliação completa será feita após a colheita do milho, em abril. “Queremos medir com precisão se a aviação agrícola compensa pelo ganho de tempo, redução de amassamento e possível aumento de produtividade”, explica Predebon. Porém, mesmo antes da coleta dos dados, Predebon, que assumiu a gestão da fazenda há quatro anos, destaca os predicados da aviação agrícola.
A agilidade é um dos fatores que considera muito importante por oportunizar a aplicação na melhor janela climática. “O que eu demoro dois dias para fazer com pulverizador terrestre, o avião faz em três horas, às vezes menos. É muito prático para nós”, afirma Predebon.





