Cléria Regina Mossmann
Parceira do Sindag e Ibravag, a empresária é mestranda em Agronegócios, pela (UFGD), e especialista em Gestão, Inovação e Sustentabilidade Aeroagrícola, com expertise em documentação. Inclusive é habilitada pela Anac como Gestora de Segurança Operacional (GSO).
A constante evolução da aviação agrícola representa uma ponte entre a experiência e a inovação, especialmente quando voltamos o olhar para a agricultura de precisão, mas sem esquecer dos pilares deixados pela Revolução Verde. Esse fascinante percurso histórico revela como a tradição do setor permitiu a renovação de sua própria capacidade, enquanto auxiliava os agricultores a garantir a segurança alimentar do mundo. Para conhecer um pouco dessa narrativa, convidamos você, leitor, a nos acompanhar neste artigo e fazer esta travessia entre o passado e o futuro da aviação agrícola.
A utilização de aviões para pulverização começou décadas antes da Revolução Verde, porém foi com seu advento que as implementações tecnológicas ganharam força no campo transformando por completo a forma de se fazer agricultura.
No período pós-Segunda Guerra, houve uma série de iniciativas públicas e privadas que visavam a aumentar a produção agrícola através da implementação de novas tecnologias agrárias. A Fundação Rockfeller, uma das principais entidades do movimento, incentivou inúmeras pesquisas e políticas que remodelaram a agricultura.
Esse contexto criou inovações como sementes e mudas híbridas, novos maquinários e desenvolvimento de fertilizantes e defensivos químicos. Porém, o ponto crucial na Revolução Verde foi ampliar o acesso a essas práticas e descobertas, de forma que uma parte considerável dos agricultores ao redor do mundo conseguiam contar com as tecnologias emergentes de então.
Um dos pontos centrais da Revolução Verde foi a utilização de maquinário mecânico nas lavouras. O uso de tratores tornou-se a regra e com ele a implantação de outros sistemas como de colheitadeiras, arados, roçadeiras etc. Nesse momento, a aviação agrícola não poderia ficar de fora, pois se de um lado havia a chamada mecanização do campo, do outro existia a necessidade de se cultivar áreas cada vez mais extensas. Isso significava que era preciso encontrar uma tecnologia capaz de aplicar defensivos e fertilizantes em grandes áreas de lavoura, fazer povoamento de rios e lagos e combater pragas agrícolas a custos reduzidos e de maneira rápida.
REVOLUÇÃO VERDE
Felizmente, a atividade aeroagrícola já tinha feito experiências suficientes para ser reconhecida como uma tecnologia de ponta, capaz de suprir aquelas necessidades. O setor recebe grande atenção, tornando-se alvo de investimentos tanto para o aprimoramento técnico quanto de pessoal.
No Brasil, a jornada do setor aeroagrícola inicia-se em 1947 e é fortemente impulsionado nas décadas seguintes com a criação da Patrulha Aérea Fitossanitária que contava com cerca de 30 aeronaves entre aviões e helicópteros e atuou no combate à broca do café salvando inúmeras lavouras da praga. Assim, estava concluída a Revolução Verde e, com ela, estava patente o protagonismo da aviação agrícola na nova forma de produção no campo que passaria a assegurar o suprimento de alimentos para o mundo.
Entretanto, a intensa e extensa utilização daquelas práticas, embora necessárias, trouxe inúmeros desafios para a agricultura e para a sociedade. Atualmente, eles são bastante discutidos e conhecidos. Como, por exemplo, os impactos ambientais incluindo desmatamento, queimadas, degradação dos habitats naturais, risco de extinção para espécies animais e vegetais, e outros ainda de ordem social como a diminuição da qualidade de vida no campo e nas cidades.
Ponto importante é que esses problemas continuam atrelados à mesma perspectiva que deu início à Revolução Verde, ou seja, à necessidade de alimentar uma população mundial que cresce de forma exponencial. Apesar dos problemas ambientais e sociais serem tão importantes, a segurança alimentar das populações não pode ser ignorada. Resumindo: como alimentar o mundo de forma sustentável?
É aqui que vemos como as bases da própria Revolução Verde e o protagonismo da aviação agrícola vem permitindo que se abra um novo leque de respostas para a pergunta acima. Enquanto a Revolução Verde demonstrou a necessidade de constantes pesquisas científicas e desenvolvimento de novas tecnologias com foco na maior eficiência agrícola, o setor aeroagrícola, dentro de suas atribuições, vem implementando, inovando e contornando os desafios da produção no campo.
AGRICULTURA DE PRECISÃO
Assim, a aviação agrícola adentra a agricultura de precisão. Esse novo conjunto de práticas e métodos agrícolas integra diversas tecnologias com o objetivo de maximizar a produção ao mesmo tempo que diminui custos e perdas. Isso a tornou, nos últimos anos, uma das principais apostas da sociedade rumo a uma agricultura mais sustentável.
Um dos pontos mais importantes da agricultura de precisão é a coleta e obtenção de informações que após tratadas fornecem uma visão detalhada das propriedades e cultivos, possibilitando decisões e planejamentos estratégicos, bem como mitigação de riscos. Outro destaque são as ações precisas para sanar ou evitar eventuais problemas, feitas de forma altamente localizada e específica.
Assim, a aviação agrícola está presente nesse novo modo de fazer agricultura de duas formas. Ela se torna indispensável na coleta de dados, pois através do voo sobre propriedades consegue captar inúmeras informações por meio de equipagens como câmeras e sensores. Por outro lado, ela também é essencial quando há a necessidade de se realizar alguma aplicação em lugar específico da lavoura evitando excesso de uso de produtos fitossanitários.
À medida que enfrentamos desafios mais complexos em nosso sistema alimentar e a preservação do meio ambiente se torna mais indispensável, a aviação agrícola surge como uma luz orientadora, oferecendo soluções sustentáveis para a agricultura. É através dessa convergência entre tradição, tecnologia e sustentabilidade que podemos vislumbrar um futuro onde a agricultura não apenas alimenta o mundo, mas também protege e preserva nosso planeta para as gerações futuras.