foto1-Aerotex - Beto Textor1

Aviação agrícola bate recorde no combate a incêndio

Levantamento do Sindag apurou 118 aviões e 40,1 milhões de litros de água contra as chamas

Publicado em: 09/01/25, 
às 12:24
, por IBRAVAG

COMPARTILHE:

WhatsApp
Telegram
X
Facebook
LinkedIn
Pinterest
[esi INSERT_ELEMENTOR id="1794" cache="private" ttl="0"]

A aviação agrícola brasileira lançou nada menos do que 40,1 milhões de litros de água contra focos de incêndios em 2024, em operações de combate aéreo às chamas em 11 Estados do País, entre julho e outubro. Os números fazem parte do levantamento feito pelo Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) sobre as operações de 22 empresas aeroagrícolas que combatem chamas nesta temporada. Para isso, foram considerados dados de um questionário distribuído pelo Sindag às suas associadas, bem como informações levantadas junto ao  Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e órgãos ambientais e de Defesa Civil de Estados que contrataram as empresas para operações contra as chamas.

Segundo o balanço do Sindag, as operações aéreas contra chamas envolveram 118 aviões, que somaram 10,7 mil horas de voo na proteção de biomas e lavouras, em apoio a brigadistas em solo. Para isso, foram mais de 16,6 mil manobras de lançamento de água (pura ou com retardante de chamas), realizadas por 171 pilotos (que se revezaram na operação das aeronaves) e com 140 profissionais no suporte nas bases operacionais – no abastecimento (de água e combustível) das aeronaves e outras tarefas nas operações.   

Os números são muito superiores aos das operações de 2021, ano em que o Sindag teve seu último balanço de combate a incêndios. Na época, as operações em todo o País haviam somado 10,9 mil lançamentos de água, totalizando 19,5 milhões de litros em 4 mil horas em voos contra incêndios.

INDICADORES

O próprio cenário das chamas registrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Aeroespaciais (Inpe) também confirma essa crescente. Segundo o Programa Queimadas do órgão, 2021 teve o registro de 5.469 focos de incêndios em todo o País. Com 2024 já somando 8.674 focos. Isso enquanto os dois anos do meio (2022 e 2023) registraram, respectivamente, 1599 e 1666 focos de incêndios em todo o País. Para completar, o último mês de agosto registrou 3.612 focos no País. Foi o maior índice entre todos os meses registrados na série histórica do Inpe desde 1998.

O ano já havia tido sua intensidade sinalizada no levantamento preliminar realizado pelo Sindag no final de agosto, que apontou 15,8 milhões de litros de água contra focos de incêndios no Pantanal (MT e MS), São Paulo e Goiás. Em operações que até ali já haviam envolvido aeronaves atuando para órgãos oficiais e produtores rurais. Daquele total, a maior parte das operações haviam sido contra incêndios no Pantanal (no MT e MS). Neste caso, no apoio aos mais de 200 brigadistas e bombeiros que fazem o combate em solo.

Na ocasião, o trabalho também já era intenso para as brigadas de incêndio montadas pelas empresas aeroagrícolas que todos os anos atendem produtores rurais em Goiás. Os próprios agricultores e usinas já aprenderam que o uso da aviação ganha eficiência no apoio ao pessoal em solo quando o pedido de socorro é feito logo que o foco é detectado.

Além disso, pela primeira vez, o Estado de Rondônia apostou na contratação de uma empresa aeroagrícola para manter uma brigada aérea de combate a incêndios. Foram 47 dias de operações, com duas aeronaves somando cerca de 4 milhões de litros lançados contra as chamas no Estado. A empresa atuou em conjunto com os governos estadual (bombeiros) e federal (ICMBio), e mantendo o regime de plantão com duas aeronaves.

Operações coordenadas com pessoal de solo

Nas operações aéreas contra chamas, cerca de 90% do trabalho é feito em parceria com brigadistas em solo. Com o líder da equipe em terra solicitando apoio aéreo e coordenando com o piloto como é feito o lançamento. Em grandes incêndios, a função do avião normalmente é reduzir o fogo para que os brigadistas possam chegar aos focos em segurança. Isso porque é pessoal em terra que elimina totalmente as chamas e ainda faz o “trabalho cirúrgico” contra braseiros –  que, se não extintos, podem reacender a linha de incêndio.

Aviões agrícolas operam sozinhos quando os focos estão em áreas de difícil acesso, como encostas ou terrenos acidentados. Quando há urgência de fazer um corredor de fuga para a fauna cercada pelas chamas ou quando não há equipe perto e é preciso segurar ou tentar eliminar a linha de fogo com mais lançamentos de água.

PRERROGATIVA

Esse modelo de operação com aviões e brigadistas é adotado internacionalmente. Há mais de três décadas é empregado em reservas naturais brasileiras e, mais tarde, passou a ser usado também em lavouras (junto com brigadistas de fazendas e usinas). Lembrando que a aviação agrícola opera em reservas federais em parceria com equipes do ICMBio desde a criação do órgão, em 2007.

Antes disso, já operava desde os anos 1990 com as equipes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e (nos Estados) com bombeiros. Para completar, desde os anos 1960, o combate a incêndios em campos e florestas está entre as prerrogativas do setor aeroagrícola. Em 2022, o País ganhou uma Lei Federal incluindo os aviões agrícolas na políticas de governo para o combate aos incêndios florestais.

PUBLICIDADE
Governo do Estado de Rondônia incluiu os aviões agrícolas na política de combate aos incêndios florestais

Operações desafiadoras em defesa da biodiversidade

PLANTÃO
Aeroterra disponibilizou dez aeronaves para operações pelo ICMBio

“É desafiador. Em função da proximidade do fogo, a aeronave sofre com a turbulência, e a fumaça dificulta a visibilidade. Isso aumenta a tensão, porque normalmente voamos em ala  – isto é: duas aeronaves no mínimo. Além disso, há helicópteros, que fazem o transporte de brigadistas, dando apoio às operações. Tudo isso acontecendo ao mesmo tempo.”

O depoimento é do piloto-chefe da Aeroterra Aviação Agrícola, Leandro Kemmerich, um dos tantos personagens que foram para a linha de frente ajudar a extinguir as chamas que ardiam sobre várias regiões do Brasil. 

A temporada de incêndios geralmente ocorre entre julho e novembro, mas neste ano iniciou-se mais cedo. As primeiras quatro aeronaves da Aeroterra, foram acionadas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), já na segunda quinzena de junho, época que o fogo já se alastrava no Pantanal Mato-grossense.

Kemmerich conta que as aeronaves já são preparadas para combate a incêndio logo após a safra. Há regiões que historicamente sofrem com o fogo. E, por prevenção, os órgãos acionam a empresa para ficar de plantão antecipando-se aos incêndios. “Há casos que a gente chega já com um cenário bem desafiador, com o fogo de grande proporção”, comenta o piloto, que tem 42 anos de idade, há 18 anos voando agrícola e desde 2015, combate a incêndios.

Para se ter uma ideia, a Aeroterra, além de atender o Pantanal, nos Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, também deslocou aeronaves para o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (Mato Grosso), Parque Nacional de Brasília (Distrito Federal) e Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (Goiás). Além do Centro-Oeste, atendeu o Parque Nacional da Chapada Diamantina (Bahia) e a Floresta Nacional de Carajás (Pará).  “São vários locais, mas todos parques protegidos por algum órgão público ou iniciativa privada”, assinala Kemmerich.

Aeroterra foi uma força contra os focos de fogo

Nesta temporada, a Aeroterra Aviação Agrícola  operou com 22 aeronaves próprias e mais outras aeronaves em parceria, todas equipadas com comportas longitudinais próprias para o combate a incêndios. A Aeroterra voou para o Governo Federal, através do ICMBio – Fundação Chico Mendes, Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBMBA) e para o Instituto Estadual Florestal (IEF) de Minas Gerais, através da Vale do Rio Doce. Ainda atuou em Carajás, no Pará, também pela Vale do Rio Doce. O diretor administrativo da Aeroterra, Salmom Batista de Rezende, relata que no total foram dez aeronaves solicitadas pelo ICMBio e o restante para os outros órgãos.

Nessa operação, além do oferecimento das aeronaves, foi empregado caminhões pipas, reservatórios de água  (piscinas) e caminhões de combustível, envolvendo  em torno de 80 colaboradores. O diretor administrativo da Aeroterra comenta que  2024 foi atípico em relação às outras temporadas.

Uma temporada de muito serviço

CENÁRIO
Baixa visibilidade e turbulência durante operações de combate a incêndio

Além dos parques nacionais e estaduais, o fogo também invadiu áreas privadas. O comandante Adilson Ursulino, sócio-diretor da Aplitec Aero Agrícola, com sede em Ribeirão Preto/SP, disse que, de toda a empresa, só ele voou mais que o dobro em relação ao ano passado em missões de combate a incêndio. A operadora aeroagrícola chegou a colocar seis aeronaves – um Thrush 510, um Ipanema EMB-202 e quatro Cessna –, para auxiliar as equipes de solo a conterem as chamas que se alastravam.

Neste ano, além dos clientes que atende regularmente no trato das lavouras, como usinas de cana-de-açúcar, foi contratado por um resort no município de Brotas, pelo segundo consecutivo, e mais um reflorestamento de eucalipto, atendendo uma aeroagrícola parceira. “Pegamos serviços na nossa região, num raio de até 500 quilômetros da base de Ribeirão Preto/SP, conta o Ursulino.

O piloto de 41 anos, que voa agrícola desde os 21 anos de idade, lembra que o combate a incêndio é um trabalho coordenado com os brigadistas e bombeiros que ficam em solo. “O avião nada mais é que um apoio a esse pessoal”, comenta. Por isso, são eles que determinam como querem o lançamento e as coordenadas do foco a ser atingido.

Diferente do dia a dia das pulverizações, Ursulino acredita que o voo de combate a incêndio é um pouco mais perigoso. “Geralmente, você enfrenta muita turbulência, devido aos ventos muito fortes, e muita fumaça, deixando o piloto com pouca visibilidade.” No entanto, confessa que gosta desse tipo de operação bem dinâmica.

Com um currículo extenso nesse segmento, Ursulino já atuou contra as chamas para o ICMBio e chegou a voar no El Chaco, no Paraguai, enquanto trabalhava para a Serrana Aviação Agrícola, de São Gabriel do Oeste/MS, onde começou a trabalhar no combate a incêndio. Tanto que a ideia para o próximo ano é agregar um Air Tractor – AT-402 à frota, passando a contar com duas aeronaves maiores para atender a demanda da temporada de incêndios. Para isso, está firmando uma parceria com outra empresa da região onde atua.

Combate com fins sociais

ASSUSTADOR
Fogo atingiu palhada e milho por colher, cana-de-açúcar, reservas legais e campos

“Esse ano foi terrível, pegou fogo para todo lado.” A frase é do diretor da Aerotex Aviação Agrícola, Rui Alberto Textor, que há sete anos mantém uma brigada aérea de combate a incêndio para atender produtores rurais da região em que atua. Como a brigada não visa ao lucro e prioriza a segurança, a exemplo dos anos anteriores, parte dos valores arrecadados com as operações será destinada a instituições de caridade.

A iniciativa colaborativa, que tem o propósito de proteger as lavouras e minimizar os danos causados por incêndios, operando com um modelo de custos compartilhados entre os produtores rurais, está dividida em duas brigada. A de Rio Verde/GO, sede da aeroagrícola, é organizada em parceria com o Sindicato Rural e produtores da região. Já em Quirinópolis/GO tem outra brigada que é coordenada totalmente pela iniciativa privada – usinas de cana-de-açúcar e produtores.

Nos dois casos, são os usuários que pagam o plantão dos pilotos e pessoal de solo. Enquanto, quem aciona o serviço paga os custos operacionais da hora voada. “Normalmente, os vizinhos ajudam a pagar porque muitas vezes são os maiores beneficiados em função de não pegar fogo na lavoura deles”, pontua Textor. Segundo o empresário, nas áreas que pega fogo na palhada se colhe até dez sacas a menos de soja.

Neste 2024, as operações iniciaram-se em junho com os aviões preparados para decolar e combater o fogo assim que acionados. Durante a temporada, a Aerotex chegou a disponibilizar 14 aeronaves, com uma equipe de 20 pilotos mais 24 pessoas de solo. Todos os funcionários são da aeroagrícola.

Conforme Textor, os chamados envolveram desde fogo em lavoura de milho em pé, no início da temporada, depois na palhada, áreas de cana-de-açúcar, reservas legais e campos. “Foi uma gama bem grande de áreas atingidas pelo fogo, que ajudamos a combater”, observa o empresário.

Capacitação em combate a incêndio gera maior segurança e efetividade

CAPACITAÇÃO
Com expertise em combate a incêndio, Pachu oferece curso de capacitação na área

Além de atuar no combate a incêndios, a Pachu Aviação Agrícola em parceria com a Fundação Astronauta Marcos Pontes oferece o Curso Brasileiro de Capacitação de Pilotos Agrícolas em Combate Aéreo ao Incêndio em Campos e Florestas. Embora todos os pilotos agrícolas possam auxiliar no controle das chamas, a qualificação proporcionará maior entendimento sobre o fogo.

“O aluno recebe noções práticas sobre qual a melhor maneira de atuar de acordo com a direção do vento, como a chama está se comportando. Ele vai ter um aprendizado semelhante ao dos próprios bombeiros de solo”, pontua o administrador da aeroagrícola, Vanderson Cristofolo. Todo esse treinamento e trabalho é acompanhado pela instrutora e especialista em Aviação Agrícola e de Aviação de Combate a Incêndios em Campos e Florestas, Mônica Sarmento, referência no segmento.

No entanto, deixa claro que esse treinamento não é formação em combate a incêndio. “Ele receberá um diploma porque ele adquiriu conhecimentos, que vão lhe dar maior segurança dentro da aeronave e mais efetividade diante de um incêndio de grandes proporções”, sinaliza Cristofolo. Para isso, entre os temas abordados, está também a questão envolvendo outras aeronaves na ação, bem como o corpo de bombeiros em solo.

Conforme o gestor, trata-se de uma ação integrada de inovação tecnológica, habilidade e coordenação de todos os envolvidos. Cita como exemplo, os aviões da Pachu que são preparados com comporta de combate a incêndio no lugar da de alijamento. A prática ocorre no AT-504, duplo comando, tendo o comandante Marcelo Amaral, o China, sócio-administrador da Pachu, como instrutor.

A operação ocorre sobre uma plantação, onde são colocadas bandeiras com cores diferentes para simular um foco de incêndio. A avaliação compreende altura de voo, velocidade e se o lançamento foi no lugar correto. Cada lançamento é avaliado em campo pela Instrutora Mônica, e, após a prática, é feito um retorno para sala de aula, com bate-papo para os apontamentos de melhoria e detalhes sobre a melhor qualidade de lançamento.

COMPARTILHE:

WhatsApp
Telegram
X
Facebook
LinkedIn

Este website utiliza cookies para fornecer a melhor experiência aos seus visitantes.