Abertura-Especial

Safra 2025/2026 exige preparo estratégico de aeroagrícolas

Cenário global de incertezas e retração de área plantada de cultivo tradicional acende alerta de operadores

Publicado em: 15/10/25, 
às 13:31, 
por IBRAVAG

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O ano agrícola 2025/2026 começou em meio a inseguranças provocadas pelas tensões comerciais globais. E o setor aeroagrícola brasileiro está atento à movimentação do cenário internacional. As recentes taxações impostas pelos Estados Unidos a países como o Canadá, fornecedores de motores para aeronaves Air Tractor, acendem o alerta.

Até final de setembro, os motores não foram diretamente taxados, mas a possibilidade preocupa. “O impacto seria grande, inclusive em peças, óleo e aeronaves, dependendo da aplicação da chamada lei da reciprocidade”, observa o economista e PhD em administração Cláudio Júnior Oliveira Gomes, diretor operacional do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag).

Diante desse risco, a entidade setorial já mapeou e entregou ao Ministério da Agricultura os códigos de todos os produtos essenciais à atividade, em busca de isenção tarifária. O objetivo é preservar a competitividade das empresas e garantir a evolução tecnológica. “É fundamental assegurar que aviões, drones e helicópteros — ambos indispensáveis e complementares — continuem avançando tecnicamente e mantendo a eficiência no campo”, conclui.

DIVERSIFICAÇÃO

Se por um lado o cenário internacional preocupa, o setor vive um processo de diversificação tecnológica e, de acordo com Júnior Oliveira, ainda há um enorme espaço de crescimento. “Atualmente, apenas 25% a 30% das aplicações agrícolas no Brasil são feitas por via aérea”, pontua o especialista. Somado a isso, as aeronaves agrícolas são fundamentais no atendimento de grandes extensões e culturas de maior escala. Os drones também vêm ganhando espaço em propriedades menores e em aplicações pontuais.

O exemplo do Mato Grosso reforça esse cenário: o Estado concentra 749 aeronaves agrícolas, o maior número do País, justamente por atender grandes áreas de soja e milho. No caso do milho, há fases da lavoura em que apenas a aplicação aérea é viável, ampliando o espaço de mercado.

Aliado a isso, conforme o boletim Perspectivas para a Agropecuária da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apresentado em 18 de setembro em conjunto com o Banco do Brasil, a área cultivada deve aumentar nesta safra que está se iniciando. A expectativa é que cresça 3,1% em relação ao período 2024/2025, mesmo com a retração do plantio de arroz em 5,6%. O boletim projeta a ampliação da área semeada de soja em 3,7%, o milho no total e o algodão em 3,5%.

SUPERAR PERDAS

OPORTUNIDADE
Júnior Oliveira destaca que mesmo diante da retração de área plantada de um cultivo tradicional, há espaço para reposicionamento de aeroagrícolas

Conforme Júnior Oliveira, os operadores aeroagrícolas vão precisar ter preparo estratégico para compensar – até mesmo superar – as perdas decorrentes da diminuição da área de arroz diante da tendência de avanço da soja e do milho. Um cenário que atinge especialmente operadores do Rio Grande do Sul, maior produtor do cereal no Brasil.

Conforme dados do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), 70% da produção nacional do cereal está concentrada em solo gaúcho e responde por boa parte das aplicações aéreas. Levantamento do Instituto Prohuma de Estudos Científicos mostra que cerca de 71% da cultura do arroz no Estado recebe atendimento via aplicação aérea.

“Assim, uma redução da área impacta imediatamente a demanda por serviços”, pontua Júnior Oliveira. Porém, entende que, mesmo com retração em um cultivo tradicional, abre-se espaço para reposicionamento das empresas e manutenção da presença do setor em diferentes perfis de lavoura.

Legenda: (1) Produção de caroço de algodão; (2) Exclui a produção de algodão em pluma
Fonte: Conab. Nota: Estimativa em setembro/2025.
*Outros: Amendoim, Gergelim, Girassol, Mamona, Sorgo e Culturas de Inverno

Redução da área semeada de arroz para ajustar oferta à demanda

A conjuntura marcada pela combinação de uma produção recorde, aumento das importações e queda dos preços têm deixado os produtores de arroz apreensivos. O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul  (Federarroz), Denis Dias Nunes, aponta que o momento é delicado e tem forçado o planejamento de estratégias para mitigar riscos e tentar recuperar a competitividade do cereal. Para isso, um dos caminhos é buscar novos mercados no exterior e redução da área semeada do cereal.

A movimentação nesse sentido está posta no boletim Perspectiva Agropecuária – Safra 2025/2026 da Conab, divulgado em setembro, que aponta para uma retração da área cultivada em 5,6%. Também está prevista a redução da produtividade, com a colheita ficando na casa de 11,5 milhões de toneladas, menos 10,1% em relação a do ciclo que se encerrou em 31 de julho.

Os números do Instituto Rio Grandense do  Arroz  (Irga) para a safra a 2025/2026 são próximos aos levantados pela Conab. Está previsto o plantio de 920.081 hectares, representando uma redução de 5,17% em comparação à safra 2024/2025.

CRISE
Denis Nunes entende que o momento é de assegurar o equilíbrio para garantir a sustentabilidade da cultura.
Foto: Érika Ferraz/AgroEffective Divulgação

CONTRASTE

Números que contrastam com os do início da safra passada, quando a área semeada teve uma expansão,  em termos de Brasil, teve uma expansão de 9,8% em relação a 2023/2024, convertendo em uma produção de 12.756,9 toneladas. No Rio Grande do Sul, a ampliação foi de 7,5%, resultando em uma colheita de 8.733,2 toneladas do cereal. Os números são da Conab e atualizados em setembro/2025.

De acordo com o dirigente da Federarroz, uma produção motivada por investimentos em tecnologia, clima favorável e preços atraentes no momento do plantio. No entanto, a superprodução e retração do consumo interno trouxeram queda acentuada nas cotações.

Também pesa sobre o setor a falta de políticas públicas de longo prazo. Para Nunes, é necessário que a agricultura seja tratada como política de Estado, garantindo segurança e previsibilidade. “Hoje sofremos com custos financeiros elevados e desvantagens em relação a países vizinhos, que não enfrentam as mesmas exigências ambientais, trabalhistas e fitossanitárias que nós”, reforça o presidente da Federraroz.

No entender de Nunes, o desafio agora é ajustar a oferta à demanda, sem perder competitividade. “Temos tecnologia, qualidade e certificações ambientais que agregam valor. Mas precisamos de equilíbrio para garantir a sustentabilidade da lavoura arrozeira”, conclui o dirigente. Lembra que o arroz beneficiado brasileiro já conquistou espaço nos Estados Unidos, apesar da recente sobretaxação. Tanto que compram o cereal do Brasil para consumo interno e exportam o deles.

Operador procura solução para diminuir impacto da retração da lavoura arrozeira

ADEQUAÇÃO
Silvia Figueredo diz que período é de buscar soluções para manter estrutura operacional

Aeroagrícolas que têm na orizicultura seu principal foco de atuação estão fazendo contas para manter a sustentabilidade do negócio. A sócio e diretora da Arenhart Aviação Agrícola, Silvia de Souza Figueredo, conta que a redução da área plantada do cereal vai impactar diretamente o volume de serviço da empresa. “O trabalho principal é o arroz mesmo, não tem outra cultura”, afirma a empresária.

A Arenhart tem sede em Uruguaiana, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, onde a cultura irrigada é predominante. Inclusive, na safra 2024/2025, o município aparece liderando a produção orizícola do Estado no ranking do Irga. De acordo com Silvia, a possibilidade da área não plantada de arroz migrar para outra cultura é baixa. “O solo inviabiliza grandes extensões de soja ou milho”, explica.

Além do arroz, que tem seu ciclo de operações de setembro a fevereiro, com aplicações de dessecante, no preparo da terra para o cultivo, fertilizantes e defensivos, a Arenhart também faz semeadura de pastagens. Esse trabalho ocorre de março a junho/julho, mas a demanda e o valor cobrado por esse serviço são consideravelmente menores. “A semeadura de pastagem vem aumentando um pouco a cada ano, mas não chega a compensar a redução da área de arroz”, pontua Silvia.

Apesar das dificuldades impostas pela sazonalidade e pela redução das margens, Silvia ressalta que a empresa busca soluções para manter a estrutura operacional e em condições para a safra 2026/2027. “É um custo alto, principalmente quando as aeronaves ficam paradas. Mas a gente vai ajeitando daqui e dali para manter a frota em condições e garantir a modernização”, diz Silvia.

Incertezas e custo elevado da safra desafiam produtores de soja no Brasil

A expectativa de um novo recorde na produção brasileira de soja na safra 2025/2026, com ampliação da área plantada em 3,6%, conforme projeções da Conab, é vista com cautela por produtores. “Nós não acreditamos nesses números. O aumento de área deve ficar em 1,2% ou 1,4% em relação a 2024/2025”, pontua o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja), Maurício Buffon.

Conforme o dirigente, ainda é muito cedo para afirmar que haverá uma supersafra, apontando como motivo a dificuldade de crédito, com juros altos, e falta de subsídios. Aliado a isso, enquanto o mundo observa uma escalada nas tensões comerciais entre grandes potências, o Brasil sente de perto os efeitos desse ambiente conturbado, especialmente na principal commodity agrícola do País.

O chamado “tarifaço” dos Estados Unidos, responsável por impor barreiras a produtos de diversos países, não atingiu diretamente as exportações brasileiras de soja para território norte-americano. Porém, afetou as exportações de carne, que demanda soja para ração, gerando incertezas para as indústrias brasileiras de esmagamento do grão.

PREOCUPAÇÃO
Maurício Buffon faz uma análise de mercado e diz que ainda é cedo para comemorar uma supersafra.
Foto: Wenderson Araújo

REAÇÃO

É uma reação que afeta toda a cadeia produtiva, no caso, da carne, onde a soja está inserida. Diante disso, Buffon expressa grande preocupação com a postura do governo brasileiro, alertando para impactos “devastadores” na agricultura, especialmente na cultura da soja, caso esse cenário persista.

O custo de produção é uma das preocupações do setor, especialmente no que diz respeito aos fertilizantes e ao combustível. O dirigente estima que o custo dos fertilizantes na safra 2025/26 já esteja 25% a 30% mais alto do que no ciclo anterior. O encarecimento decorre, sobretudo, da dependência externa — cerca de 85% a 90% dos fertilizantes usados no Brasil são importados, principalmente da Rússia, Bielorrússia e Canadá.

Além disso, o óleo diesel — essencial para o transporte e o maquinário agrícola — segue vulnerável à volatilidade global. Muito desse combustível é importado da Rússia. “Com essa guerra comercial entre Estados Unidos e Rússia acirrando-se, temos uma preocupação muito grande que possa afetar, inclusive, o fornecimento de combustível para o Brasil”, adverte Buffon.

DÓLAR

O presidente da Aprosoja Brasil cita ainda a volatilidade do dólar como um dos fatores de insegurança na hora de planejar a safra. Como a lavoura de soja tem custos estruturados em moeda norte-americana e receitas atreladas ao mercado global, qualquer oscilação rápida entre R$ 5,30 e R$ 6,00 pode significar uma diferença de até 25% no balanço financeiro do produtor. Tal instabilidade dificulta o planejamento e aumenta o risco de perdas na hora da comercialização. Mesmo assim, agricultores têm recorrido ao chamado mercado futuro, travando cerca de metade da produção, na hora de comprar fertilizantes.

Buffon reconhece que tensões comerciais podem redesenhar o mapa global do comércio agrícola, abrindo oportunidades em mercados emergentes, como Indonésia e países do Sudeste Asiático. Ainda assim, ele ressalta que o processo é lento e complexo. “Quando a principal economia do mundo entra em conflito comercial, o desequilíbrio é inevitável”, lamenta.

Área cultivada de milho deve crescer exigindo mais de aeroagrícolas

SUSTENTABILIDADE
Daniel Rosa destaca a eficiência da ferramenta aérea na aplicação de insumos na lavoura de milho.
Foto: Divulgação

A safra 2025/2026 começa com a previsão de aumento de 3,5% na área cultivada de milho em relação ao ciclo anterior, considerando os três períodos de plantio dentro do mesmo ano agrícola. Apesar da expansão, o boletim Perspectivas para a Agropecuária – Safra 2025/2026, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), aponta uma produção total inferior à registrada em 2024/2025.

De acordo com o diretor técnico da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Daniel Rosa, essa projeção está relacionada à possibilidade de ocorrência do fenômeno La Niña na segunda safra de milho, que responde por cerca de 80% da produção nacional do grão. Pode-se dizer que o milho safrinha consolidou-se como elemento-chave no manejo agrícola brasileiro, favorecendo a rotação de culturas e a sustentabilidade do sistema produtivo.

Ao falar em sustentabilidade, Rosa destaca o papel preponderante da aviação agrícola, utilizada na aplicação de defensivos e fertilizantes, por proporcionar maior agilidade e uniformidade no manejo. O diretor técnico da Abramilho lembra que os produtores de milho defendem o uso da ferramenta aeroagrícola por diversos motivos — entre eles, a facilidade de acesso às lavouras e a eficiência operacional —, além de contribuir para a redução de impactos ambientais e riscos à saúde humana.

País diversifica mercados, mas barreiras ambientais impostas pela UE preocupam

Embora o consumo interno de milho esteja em ascensão — especialmente devido ao avanço da indústria de etanol, que utiliza o grão como matéria-prima em estados como Mato Grosso e Goiás —, o Brasil vem se consolidando como um dos principais exportadores mundiais do cereal. O diretor técnico da Abramilho, Daniel Rosa, destaca que a produção brasileira é superavitária, com importações pontuais voltadas principalmente para suprir demandas regionais específicas.

Rosa observa que, no cenário internacional, mesmo diante de um ambiente econômico e geopolítico adverso, o milho brasileiro ganha espaço nos mercados asiáticos, como o chinês, e mantém relações comerciais sólidas com a União Europeia e o Irã. “A diversificação de destinos é estratégica diante das incertezas globais”, ressalta o dirigente.

EXIGÊNCIAS

Se, por um lado, a competitividade do milho brasileiro segue sustentada por alta produtividade e qualidade, por outro, as exigências ambientais dos compradores internacionais vêm se intensificando. A Lei Antidesmatamento da União Europeia, que classifica países segundo o risco de associação a áreas desmatadas, é motivo de preocupação para o setor. “Brasil e Argentina foram enquadrados como risco padrão, enquanto Estados Unidos e China ficaram com risco baixo. É uma barreira não tarifária disfarçada de política ambiental”, critica Rosa.

Segundo ele, a legislação europeia ignora o Código Florestal brasileiro e o fato de o País possuir áreas legalmente abertas à produção. Além disso, a medida penaliza nações com grande extensão de mata nativa, desconsiderando suas particularidades regionais.

Em setembro, representantes da Abramilho e da Aprosoja Brasil se reuniram com autoridades argentinas para discutir o tema e traçar estratégias conjuntas diante da nova legislação europeia. Rosa alerta para a possibilidade de o Brasil ser reclassificado como país de alto risco ambiental no futuro.

Clima de incertezas deixa operador em alerta

CENÁRIO
Carlos Ferronato fala da preocupação com aumento de custos influenciados pela tensão entre Brasil e Estados Unidos.
Foto: Acervo pessoal

Enquanto a safra 2025/2026 começa a ser desenhada, operadores aeroagrícolas estão em alerta sobre os desdobramentos do plantio, bem como à possibilidade de aumento nos custos das operações. Alguns deles já sentidos no caixa das prestadoras de serviço, como o valor do seguro aeronáutico, que teve um aumento significativo diante do volume de acidentes ocorridos no ano passado.

No entanto, a grande preocupação está na dependência do setor de equipamentos e peças importados e cotados em dólar. “As peças dos aviões vêm quase todas de fora. Quando o dólar sobe, o preço da manutenção dispara. Se houver sobretaxas em razão das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, pode ficar inviável — pode dobrar o preço das peças”, alerta o sócio-administrador da Santa Fé Aviação Agrícola Carlos Henrique Ferronato.

O empresário que concentra sua atividade nos municípios de Lucas de Rio Verde, Sorriso, Mutum e Tapurah, no Mato Grosso, também está apreensivo com a possível redução da área cultivada do algodão. Apesar da Conab apontar um aumento de 3,5% no espaço de plantio, o também piloto agrícola conta que em conversa com produtores locais soube que há uma propensão em diminuir o número de hectares semeados.

“A retração vai impactar bastante, porque o algodão é uma cultura muito dependente das aplicações aéreas”, explica Ferronato. Ele destaca que a intensidade do manejo do algodão é alta: entre o plantio e a colheita, são realizadas de 30 a 35 aplicações, especialmente no controle do bicudo-do-algodoeiro, principal praga da cultura.

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