O adolescente que da janela de seu quarto via os aviões agrícolas decolarem do hangar do Aeroporto Brigadeiro Nero Moura, em Cachoeira do Sul/RS, encontrou seu caminho profissional no setor, aos 16 anos, e foi além das lavouras. “Eu ficava deslumbrado com os aviões”, conta Everton dos Santos, que, hoje com 45 anos, não esconde a paixão pelas máquinas voadoras e pela arte de fazer miniaturas das aeronaves. Um hobby que ultrapassou as fronteiras do Rio Grande do Sul e, além de todo o território brasileiro, já chegou a países como Paraguai e Costa Rica.
Na verdade, Everton dos Santos não sabe ao certo o alcance de seu trabalho, pois muitas encomendas são para presentear clientes da cadeia produtiva ou seus familiares. Por isso, nem sempre sabe o destino. No entanto, a produção é grande, ainda mais quando se fala em trabalho artesanal. O coordenador de serviços da Terra Aviação Agrícola conta que desde que começou a fazer as miniaturas, aos 30 anos, já foram mais 1 mil unidades entregues.
O número poderia ser maior, pois chega a recusar 50% dos pedidos, por falta de tempo para se dedicar à produção. “Eu faço as maquetes nas minhas horas de folga da aeroagrícola”, justifica o artista, que trabalha sozinho e conta com a ajuda da esposa, Ana Cátia dos Santos, e do filho, Guilherme Schneider dos Santos, que está finalizando o curso de Técnico Agrícola e, como a mãe e o pai, atua na Terra. “O tempo dos meus ajudantes também é curto”, pontua. Mesmo assim, aos poucos, vai ensinando a arte ao seu filho.
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Cada nova unidade que faz tem uma história única, como diz Everton dos Santos, “é feito na mão e no olho”
Primeira miniatura demorou 3 meses para ficar pronta
Autodidata, Everton dos Santos uniu a habilidade para o desenho que tinha desde menino e começou a esculpir as pequenas aeronaves em madeira. A primeira unidade foi um Ipanema 202, tendo como modelo um avião da Aero Agrícola Santos Dumont (Cachoeira do Sul/RS), onde trabalhava. “Foram três meses de dedicação até ficar pronta”, lembra sobre o trabalho. Depois foi a vez de presentear o proprietário da operadora e escola, o sr. Laudelino Bernardi (já falecido), que o incentivou muito.
A partir disso, Everton passou a dividir seu tempo entre o trabalho formal na aeroagrícola e as maquetes nas horas de lazer. E não esquece de quem o ajudou nesse processo de encontrar um lugar no mercado. “O falecido Diego Preuss, proprietário da DP Aviação, também me motivou sempre, inclusive levou meu trabalho para o Congresso Nacional da Aviação Agrícola (Congresso AvAg)”, conta o artesão. Reconhecimento que estende aos diretores e colegas da Terra Aviação Agrícola, onde trabalha atualmente, pelo apoio recebido.
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Em constante aprimoramento
Da primeira miniatura em caixeta, uma árvore do Norte, que só encontrava em uma madeireira do município, e de um facão usado para esculpir a peça, já se passaram 15 anos. Depois de usar pinho e pinus, Everton dos Santos passou a aproveitar as lascas do Kiri, uma árvore que geralmente cai quando termina seu ciclo de vida. Quanto às ferramentas, é taxativo: “uso poucas ferramentas, uso o serrote, adaptei uma lixa no esmeril, adquiri uma serra fita, mas o acabamento mesmo é na mão e no olho”, conta o artista, que sabe que o valor está no trabalho artesanal.
Por isso, cada peça é única. É um momento que Everton se dedica a criar. Perfeccionista, como se autointitula, cada maquete leva um pouco da sua alma. Por sinal, ele não descuida de seu aprimoramento profissional em nenhuma das áreas. Recentemente, concluiu o curso de Técnico Agrícola e já está se preparando para fazer o Curso Técnico Executor em Aviação Agrícola.