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Neaagri apresenta resultados da pesquisa sobre deriva

Pesquisadores da UnB e dirigentes das entidades aeroagrícolas preparam segunda etapa do estudo

Publicado em: 10/01/25, 
às 11:58
, por IBRAVAG

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O estudo Deriva e Faixa de Segurança na Pulverização Aeroagrícola, desenvolvida dentro do Núcleo de Estudo em Atividades Aeroagrícolas (Neaagri), da Universidade de Brasília (UnB), mostrou um método de análise de dados que pode ser utilizado para estimar a deriva nas faixas aplicadas nas lavouras. Em um estudo de deposição de faixa, a deriva foi estimada a partir de diversos dados e mostrou potencial para ficar abaixo das faixas de segurança previstas em lei para a aviação agrícola. Atualmente, a Instrução Normativa 02 do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), de 1988, prevê uma área de exclusão de 250 a 500 metros de moradias, animais e áreas ambientalmente sensíveis.

Os resultados apresentados no dia 20 de novembro, em live transmitida pelo canal do YouTube do Sindag (acesse pelo QR Code), apontou que a deriva em cada linha de aplicação na lavoura ficou em média dentro dos 20 metros. Houve apenas um caso verificado no estudo que chegou ao máximo de 45 metros. Porém a deriva considerada aqui foi calculada a partir da faixa de deposição até o limite de sobreposição de faixa que permite que a aplicação ocorra de forma uniforme.

Agora, a meta é dar sequência ao estudo, que tem o apoio do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) e Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag). Tanto que dois dias depois da divulgação dos resultados, o Sindag e gestores de empresas aeroagrícolas reuniram-se com pesquisadores da UnB, para viabilizar a complementação da pesquisa sobre segurança das aplicações aéreas nas lavouras.

RELATÓRIO
Mais de 400 conjuntos de dados de testes referem-se as safras 2018/2019 a 2023/2024

BASE DE DADOS

A ideia é iniciar articulações para possibilitar que, nesta segunda etapa, os pesquisadores acompanhem o trabalho de aviões e drones em diversos Estados nas plantações. Na primeira fase da pesquisa, os mais de 400 conjuntos de dados de testes de deposição feitos em 14 Estados, das safras 2018/2019 a 2023/2024, foram coletados por empresas especializadas que fazem auditorias técnicas das aplicações em campo. Trabalho normalmente contratado por produtores rurais e por empresas de aviação agrícola, para atestar a precisão das operações.

Os testes são feitos em campo e avaliam cada aeronave em passadas sobre alvos com marcadores sensíveis que permitem a leitura eletrônica de cada gota da aplicação. Com isso, é feito o ajuste fino de cada bico ou atomizador na barra de aplicação. Tudo tecnicamente atestado e com foco justamente em evitar perdas de produto e garantir a cobertura ideal em cada planta da lavoura.

Destaque para a sustentabilidade do setor

Durante a live, o diretor-executivo Sindag e Ibravag, Gabriel Colle, destacou a importância da pesquisa e divulgação científica. Em uma breve explanação sobre os mais de cem anos da aviação agrícola no mundo e 77 anos de história no Brasil, ressaltou o empenho do setor para garantir a sustentabilidade, transparência e melhoria contínua das operações.

Já a coordenadora do Núcleo de Estudo em Atividades Aeroagrícolas (Neaagri), a doutora em Ciências Florestais Maisa Santos Joaquim – vice-diretora da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) da Universidade de Brasília (UnB), reforçou a robustez da base de dados utilizada para a pesquisa sobre pulverizações aéreas. Ela destacou também a seriedade dos pesquisadores da casa, “muito engajados e competentes”.

Ao lembrar que a UnB está entre as cinco melhores universidade da América Latina e Caribe e faz parte da lista das 4% melhores entre as mais de 7 mil instituições do planeta, enfatizou: “a UnB é a universidade mais sustentável do País, segundo a Folha de São Paulo”. E, reforçando a fala do executivo do Sindag/Ibravag, a coordenadora do Neaagri lembrou os compromissos tanto da universidade quanto da entidade aeroagrícola com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 ONU. 

DENSIDADE

O professor Álvaro Nogueira de Souza, doutor em Engenharia Florestal e coordenador da pesquisa, esmiuçou o estudo e salientou a densidade do trabalho. Reforçou também a importância da continuidade dos estudos e do apoio do setor aeroagrícola para as pesquisas de campo.

Na ocasião, Souza, apresentou como foi cada etapa do trabalho. Falou desde a definição dos parâmetros matemáticos aplicados sobre os dados informados – para se avaliar a deriva –, até a validação do modelo que foi reforçada pela quantidade de dados disponíveis.

A live do dia 20 de novembro contou ainda com os demais membros da equipe do estudo. A engenheira agrônoma Beatriz Alves Fernandes da Cruz – mestranda em Agronomia na UnB, e os alunos de Agronomia  Bárbara Martins Passos, Daniel Alves da Guarda e Isa Maria Mendonça Miranda.

ENTENDA O QUE É DERIVA

A deriva é o deslocamento lateral do produto na faixa aplicada. O fenômeno ocorre em qualquer tipo de aplicação, seja por avião, drone, trator e até com pulverizadores costais. Ela depende basicamente das condições de temperatura ambiente, umidade relativa do ar e da velocidade do vento. Do seu manejo, depende também a qualidade da aplicação: existe a deriva boa, que ocorre dentro da lavoura e permite que o produto chegue às partes baixas da planta e sob as folhas (por exemplo). E a deriva nociva, que é quando o produto escapa da lavoura –  provocando perda de produto, cobertura irregular das plantas contra pragas e, em casos mais sérios, prejuízos em áreas vizinhas.

Deriva e faixa de segurança na aplicação aeroagrícola

Dra. em ciências florestais Maisa Santos Joaquim; Dr. em engenharia Floresta Álvaro Nogueira de Souza; engenheira agrônoma, mestranda em agronomia Bárbara Martins Passos; engenheira agrônoma Beatriz Alves Fernandes da Cruz*

A pulverização aérea desempenha um papel fundamental na agricultura, sendo amplamente utilizada para a proteção de cultivos, combate a incêndios, dispersão de sementes e fertilizantes, e até no repovoamento de lagos. Essa técnica permite cobrir grandes áreas de forma eficiente e em curto período, contribuindo significativamente para a produtividade agrícola. Contudo, um dos principais desafios dessa prática é a deriva, que ocorre quando as gotas de pulverização são desviadas do alvo pretendido, principalmente devido a condições climáticas inadequadas ou ao manejo impróprio durante a aplicação.

Buscando colaborar com iniciativas que possam resolver situações de deriva indesejada, nós, pesquisadores do Núcleo de Estudos em Atividades Aeroagrícolas da Universidade de Brasília (Neaagri/UnB), em parceria como o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), elaboramos um trabalho “Deriva e Faixa de Segurança na Aplicação Aeroagrícola”.

O estudo partiu de uma base de dados robusta utilizada para estudos de faixa de deposição com mais de 400 coletas de dados em campo. Os locais de coleta foram 108 municípios de 14 Estados brasileiros (veja no mapa), e compreendeu as safras de 2018/2019, 2019/2020, 2020/2021, 2021/2022, 2022/2023 e 2023/2024. Foram levantados mais de 4 mil dados das variáveis faixa de aplicação, altura de voo, pressão informada pelo piloto, volume de calda, temperatura, umidade relativa, incidência de ventos, deriva asa esquerda, deriva asa direita, deriva total e diâmetro médio volumétrico.

VASTA LITERATURA

Além da base de dados utilizada, nós e os demais pesquisadores envolvidos também consultamos uma vasta literatura sobre as técnicas de aplicação e sobre os problemas ocasionados pela deriva. Tivemos acesso a plataformas como o Google Scholar, a Scopus, a Web of Science e a SciELO, que reúne produções científicas da América Latina e do Caribe, incluindo o Brasil. Além disso, houve acesso ao portal de Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) para obter uma ampla gama de artigos acadêmicos e materiais técnicos relevantes.

A deriva considerada no estudo foi estimada a partir das gotas que ficaram fora da faixa de deposição e que formam a condição de sobreposição de faixa, desejada para permitir a aplicação que cubra toda a área alvo. A proposta do grupo foi apresentar uma metodologia que pode ser utilizada em estudos de deriva para fazer modelos matemáticos que descrevam a deriva em função das demais variáveis que possam ser coletadas de forma rápida e prática.

A expectativa é ter modelos matemáticos para determinação da deriva antes mesmo da aeronave decolar para fazer a aplicação. Assim, uma determinação legal que é questionada pelos profissionais que autuam na área, a largura ou faixa de segurança (Instrução Normativa no 02 de 2008), pode ter marcos científicos a partir de novos estudos utilizando a metodologia proposta. Na Instrução Normativa a largura de segurança que deve ser observada está entre 250 e 500 metros e serve para proteger o que não deve ser atingido por produtos utilizados nas aplicações aeroagrícolas. 

CONCLUSÕES

Os resultados desse trabalho mostraram que se pode ter um valor reduzido de deriva quando as variáveis climáticas desfavoráveis são evitadas e quando as variáveis que são controladas pelo piloto são observadas dentro das normas técnicas específicas, tais como altura de voo, velocidade de voo, tamanho das gotas etc.  Nos próximos passos do estudo, os pesquisadores esperam apresentar modelos matemáticos para produtos ou classe de produtos, por estado, por região e irão testar se um modelo único por produto poderá ser utilizado para o país todo.

A nova fase do estudo irá coletar dados específicos para a deriva, o que não foi possível fazer no primeiro estudo. Os pesquisadores farão expedições em campo em pelo menos três Estados por região do País para o levantamento das informações necessárias para desenvolver os modelos matemáticos que serão ajustados por métodos de análise de regressão e com o uso de redes neurais artificiais. A expectativa é que essa nova fase da pesquisa tenha início na safra atual (2024/2025) e que os resultados sejam apresentados nos próximos seis a oito meses.

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