“Mulher, não peça permissão para voar, as asas são suas.” A fala da presidente do Instituto Asas da Esperança (Linhares/ES), Graziele Ferreira, sintetizou a live Liderança e Empreendedorismo Feminino no Agronegócio, realizada na noite de quinta-feira (9 de março). O encontro, resultado da parceria entre Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag), Sindicato das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) e a instituição capixaba, teve como propósito marcar o Dia Internacional Mulher, comemorado em 8 de março, por meio de histórias inspiradoras.
Taylla Lara Scherwinski de Faria (Jusarah Agro Aérea); Janquieli Vargas (Avante Aviação Agrícola); Ronize Damassini (especialista em Direito Agrário) e Gabriella Meirelles (Sindag), representando a diretora-executiva do Ibravag, Michele Fanezzi, contaram suas trajetórias profissionais em um mercado dominado por homens. Durante transmissão pelo canal do Youtube do Sindag, Graziele, que dividiu a condução da live com Gabriella, falou sobre a sua trajetória como empreendedora no ramo de peças para aeronaves e na liderança de projetos sociais.
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Presidente da Versátil Innovation e gerente comercial de outras duas organizações, Graziele comenta que quando começou a contatar clientes causou um certo estranhamento dos tomadores de decisões, todos homens. “Eles me perguntavam se a empresa era do meu pai, ou do meu marido, ou do meu irmão, ao que eu respondia: – a empresa é minha.” Um diálogo que se repetiu muitas vezes. Hoje, o mercado a conhece e sabe da sua capacidade.
E é com base nas dificuldades que vivenciou, Graziele tem como meta ajudar as pessoas a superarem seus desafios. É assim no Instituto Asas da Esperança, voltado a crianças e adolescentes para que tenham um futuro mais digno. Projeto que gerou outro programa o Elas Voam, com o objetivo de ajudar as mulheres a ressignificarem sua história, resgatando sua autoestima. Mais recente participa do Semeando Esperança, desenvolvido pelo Ibravag e Sindag, voltado para o setor aeroagrícola. A partir desses trabalhos, Graziele espera estimular as empresas a investirem cada vez mais em projetos de Responsabilidade Social.
COMPETÊNCIA
Na sua fala, a advogada Ronize Damassini, palestrante e diretora regional Fronteira Oeste da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), destacou que as mulheres se encontram em posição de liderar porque são capazes e competentes para administrar a propriedade. Dados levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que 21% das mulheres entre 25 e 44 anos de idade têm graduação, o índice cai para 15,26% quando se fala em homens.
No entanto, mesmo assim, de cada 10 líderes apenas dois são mulheres. “Esse dado é muito baixo”, pontua Ronize, ao defender que as mulheres no agronegócio, como nos demais setores da sociedade, ainda têm um longo caminho a percorrer. Lembra que as mulheres precisam se bancar com muito mais força suas opiniões. “Nós ainda estamos quebrando barreiras, quebrando dificultores”, reforça a advogada especialista em Direito Agrário, que se diz fruto de uma liderança feminina. Sua mãe ao ficar viúva cedo precisou tomar as rédeas da sua vida e da sua família para criar os filhos.
REALIDADE MUDANDO
A estrategista de Mídias Sociais do Sindag, Gabriella Meirelles, graduada em Ciências Aeronáutica e cursando o último período da Faculdade de Agronomia, sabe bem o que é ser a minoria em uma sala de aula. No seu depoimento durante a live, lembrou que no setor da Aviação Agrícola ainda são poucas mulheres em campo, como pilotos, e até mesmo como agrônomas executoras. Uma realidade que aos poucos vai mudando, principalmente na área administrativa das empresas, até mesmo pela configuração das empresas aeroagrícolas, que na sua maioria são familiares.
Um dos exemplos da presença feminina nas prestadoras de serviço é Taylla Lara Scherwinski de Faria, que se casou com um piloto agrícola e foi levada a administrar a empresa da família a Jusarah Agro Aero (Cerejeiras/RO). “Há 4 anos não me imaginava uma mulher empreendedora na aviação agrícola”, conta. No entanto, a vida a levou a trilhar um caminho que começou do zero. A curiosidade que sempre acompanhou Taylla foi decisiva para que aprendesse tudo sobre um setor com muitos regramentos de órgãos federais, estaduais e até municipais.
A hoje gerente-executiva da Jusarah usou tudo que tinha à disposição para entender a engrenagem que movimenta as aeroagrícolas. Da leitura da Revista da Aviação Agrícola até o curso de MBA em Gestão, Inovação e Sustentabilidade Aeroagrícola (oferecido pelo Sindag/Ibravag em parceria com a Atitus Educação), Taylla trilhou um caminho de sucesso, inclusive foi a oradora da turma na formatura que ocorreu durante o Congresso Nacional da Aviação Agrícola 2022. “Comecei do zero e todo dia ia regando a sementinha”, pontua. Capacidade que atribui ao poder feminino de gestar, de dar uma forma ao que não existia. Processo que, confessa, contou com a parceria do esposo, Rodrigo de Faria.
DESAFIOS
A coordenadora-geral da Avante Aviação Agrícola (Espumoso/RS), Janquiele Vargas, confessa que se identificou com a fala de Taylla. Apresentada ao setor pelo então namorado, o piloto agrícola Ricardo Tatsch – hoje eles são casados e têm dois filhos –, começou a trabalhar na empresa sem conhecer nada sobre a rotina de uma aeroagrícola. Inicialmente, essa carência de informações sobre o setor causou desconforto. Mesmo assim, resolveu encarar o desafio e foi pesquisar, ler e escutar o sogro, Ildo Tatsch, uma referência no setor.
Desafios não faltaram, o maior deles confessa foi o período da supersafra, quando abriram base em Cruz Alta/RS e precisou ficar longe dos filhos por dois meses. A empresa cresceu. Quando Janquiele começou era um avião, hoje são seis, 25 funcionários entre pessoal da administração e operacional, e a ela cabe a coordenação e o atendimento aos clientes. E admite: “hoje, quando chega um cliente novo, eu entendo o que ele está falando, consigo conversar com ele, fui aprendendo no dia a dia. Um passinho de cada vez”.