AUTORES
João Paulo Arantes Rodrigues da Cunha
Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia/MG, Brasil, jpcunha@ufu.br
Luana de Lima Lopes
Instituto de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia/MG, Brasil, jpcunha@ufu.br
O cultivo do café (Coffea arabica L.) é uma atividade agrícola de elevada importância econômica e social em diversos países, o que justifica que novos esforços de pesquisa sejam envidados em prol da melhoria contínua da produtividade. Neste cenário, a broca do café, Hypothenemus hampei (Ferrari, 1867) (Coleoptera: Curculionidae, Scolytinae), é considerada uma das pragas mais importantes pelos grandes prejuízos econômicos que causam ao reduzir a produtividade das lavouras e afetar a qualidade do café produzido (Souza et al., 2013). A solução para o controle populacional dessa praga muitas vezes consiste no monitoramento frequente dos talhões com histórico da praga, para tratá-los com inseticidas no início da infestação. O emprego de aeronave remotamente pilotada (ARP), comumente chamada de drone, para aplicação de defensivos agrícolas tem aumentado muito em nível mundial. É uma tecnologia relativamente nova em muitos países e poucos são os dados de pesquisa disponíveis. Variáveis como altura de voo, tipo de ponta de pulverização e volume de calda são dúvidas recorrentes entre técnicos e agricultores. Desta forma, este trabalho teve como objetivo avaliar a deposição de calda nos frutos e nas folhas do cafeeiro e a eficácia de controle da broca do café promovidos pela aplicação de inseticida empregando uma ARP, operando com diferentes pontas de pulverização, alturas de voo e volumes de calda.
O trabalho foi realizado no Setor de Cafeicultura da Universidade Federal de Uberlândia – UFU, Uberlândia, MG, Brasil). O clima característico da região é do tipo Aw tropical úmido megatérmico, segundo a classificação de Köeppen, caracterizado pelo verão quente e úmido e inverno frio e seco. O solo apresenta uma topografia levemente ondulada. O veículo aéreo não tripulado utilizado foi um octocóptero AGRAS MG-1P (DJI, China), com depósito de calda de 10 L, 4 bicos de pulverização e 8 motores. Em todos os tratamentos optou-se por trabalhar com largura de trabalho de 4 m e velocidade de avance de 10,2 km h-1. Os estudos de deposição de calda e eficácia de controle da broca do café foram feitos em uma área de café cultivar Catuaí IAC 99, com 11 anos de idade, com espaçamento entre linhas de 3,5 m, 0,6 m entre plantas, altura média de 2,1 m e projeção da copa com diâmetro de 1,7 m. As parcelas experimentais foram constituídas de 50 m de comprimento e 24 m de largura, com voos perpendiculares às linhas de plantio. No momento de realização do trabalho, a cultura encontrava-se em estágio reprodutivo, na fase de granação dos frutos. A deposição de calda foi avaliada por meio da detecção de um traçador nas folhas do dossel do café, considerando as partes inferior e superior da planta de forma separada. Este ensaio constou de 8 tratamentos e 4 repetições. Empregou-se um delineamento inteiramente casualizados em esquema fatorial 2x2x2: duas alturas de voo (1,5 e 3,0 m em relação ao dossel da cultura), duas pontas de pulverização (jato plano e jato cônico vazio) e dois volumes de calda (10 e 15 L ha-1). Foram empregadas pontas de pulverização de jato plano XR 11001 (Teejet, EUA), com espectro de gotas muito finas a finas dependendo da pressão de trabalho e pontas de jato cônico vazio COAP 9001 (KGF, Brasil), com espectro de gotas muito finas, de acordo com os fabricantes. Durante as aplicações, foram monitoradas as condições de temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento. A temperatura variou de 25 a 28°C, a umidade relativa de 68% a 74% e a velocidade do vento de 4 a 6 km h-1. Para a avaliação da deposição, adicionou-se à calda de aplicação um traçador composto do corante alimentício Azul Brilhante, na dose fixa de 500 g ha-1 para ser detectado por absorbância em espectrofotometria. Após a pulverização, foram marcadas 10 plantas ao acaso em cada repetição e, em cada planta, foram coletadas uma folha na parte superior, uma folha na parte inferior e um grão na parte central. Em laboratório, adicionaram-se 100 mL de água destilada em cada saco plástico contendo as folhas e 30 mL em cada saco contendo os grãos. Os mesmos foram fechados e agitados por 10 minutos em agitador pendular para a extração do traçador presente nas amostras. Em seguida, o líquido foi retirado para posterior leitura de absorbância em espectrofotômetro. A área das folhas foi medida com um medidor de área foliar Licor LI 3100C (Lincoln, USA) e a área da superfície dos frutos foi estimada usando-se a metodologia de Miranda et al. (2012), para obter-se a quantidade em g de traçador por cm2 de área foliar e fruto. O ensaio de eficácia de controle da broca do café foi realizado em duplicata em duas áreas distantes 100 m entre si, após a finalização do ensaio de deposição. De posse dos resultados, foram definidas as condições operacionais para as aplicações: faixa operacional de 4 m e volume de calda de 10 L ha-1 (optou-se por não se utilizar o volume de calda de 15 L ha-1, tendo em vista a inexistência de diferenças na deposição e visando a reduzir a área total do experimento). Cada ensaio então constou de 5 tratamentos e 4 repetições. Empregou-se um delineamento inteiramente casualizados em esquema fatorial 2×2+1: duas alturas de voo em relação ao dossel (1,5 e 3,0 m), duas pontas de pulverização (jato plano e jato cônico vazio) e uma testemunha, sem aplicação. Foram realizadas duas aplicações, com intervalo de 30 dias, do inseticida clorpirifós (concentração 480 g L-1 na formulação concentrado emulsionável) na dose de 1,5 L ha-1. A primeira aplicação ocorreu quando a incidência de frutos danificados pela broca do café atingiu 3% (Reis, 2015). A avaliação da eficácia de controle dos tratamentos foi feita através da porcentagem de incidência de frutos danificados pela broca do café, calculada aos 60 dias após a 2ª aplicação, seguindo metodologia proposta por Zampiroli et al. (2022). Para efeito de análise estatística, foi realizado o estudo das pressuposições do modelo linear em que foram empregados o teste de Shapiro-Wilk (W) para testar a normalidade dos resíduos e o teste de Bartlett para homogeneidade das variâncias. Satisfeitas estas pressuposições, realizou-se um estudo de análise de variância, seguido do teste F de Snedecor, ao nível de 0,05 de significância. Para comparação dos tratamentos com a testemunha sem aplicação, utilizou-se o teste de Dunnet ao nível de 0,05 de significância.

Analisando-se a deposição de calda nos frutos (Tabela 1), nota-se que a interação entre os fatores altura de voo, pontas de pulverização e volumes de calda não foi significativa (p>0,05), por isso não se efetuaram os desdobramentos das interações e cada fator foi analisado de forma isolada. O efeito do volume de calda e das pontas também não foi significativo. A ARP voando a 1,5 m promoveu maior deposição nos frutos em comparação a 3,0 m de altura. Maiores alturas de lançamento aumentam o tempo no qual as gotas estão sujeitas ao arraste provocado pelo vento, o que provavelmente deve ter levado a ocorrência mais acentuada do fenômeno da deriva. Na Tabela 2, tem-se a deposição do traçador nas folhas das metades superior e inferior. Os diferentes volumes de calda novamente não se diferenciaram em ambas as partes do dossel do cafeeiro. A menor altura de voo proporcionou maior deposição tanto na parte superior quanto na parte inferior do dossel. As pontas de jato plano também resultaram em maior deposição na folhagem do cafeeiro. Na Tabela 3, tem-se a incidência de frutos danificados pela broca do café. A maior altura de voo resultou em maior incidência de frutos danificados nas duas áreas avaliadas. Provavelmente, isso se deve a menor deposição de calda verificada, tanto nos frutos quando nas folhas. O clorpirifós é um inseticida de contato e ingestão, por isso a deposição no fruto é muito importante.
De acordo com os resultados, pôde-se concluir que a altura de voo de 1,5 m em relação ao dossel das plantas promoveu maior deposição de calda nas folhas e nos frutos e menor incidência de frutos danificados pela broca do café. O uso de pontas de jato plano resultou em maior deposição de calda nas folhas, mas não interferiu na deposição no fruto e no controle da broca. O incremento do volume de calda (10 para 15 L ha-1) não resultou em aumento da deposição de calda nas folhas. O clorpirifós aplicado via ARP reduziu a incidência da broca do café.
Agradecimentos: À FAPEMIG e ao CNPq pelo financiamento deste trabalho.
Referências bibliográficas
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REIS P.R. Manejo da broca do café. Cultivar Grandes Culturas, v. 198, p. 38-40, 2015.
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ZAMPIROLI, R.; PARENTI, M.V.; ALVARENGA, C.B.; CELOTO, F.J.; CUNHA, J.P.A.R.; RINALDI, P.C.N. Use of different spray volumes and hydraulic nozzles in air-assisted electrostatic insecticide application technologies to control coffee berry borer (Hypothenemus hampei) populations. Acta Scientiarum-Agronomy, v. 44, p. e53751, 2022.