“Para mim, o melhor caminho é do diálogo e do entendimento.” Com esta frase o deputado federal Sebastião Henrique Medeiros (PP/PR) sintetiza sua postura diante das diferentes circunstâncias que surgem em seu dia a dia na vida pública ou privada. Nascido em Paranavaí, o político paranaense de 40 anos – completa 41 em 8 de janeiro –, advogado e produtor rural tem pautado seu trabalho como presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR) em defesa do agro de forma equilibrada e transparente.
Tião Medeiros deixa claro que só é a favor de quem “produz com responsabilidade”. Assim, partindo da premissa que somente a informação correta pode derrubar preconceitos, Tião Medeiros tem combatido os constantes ataques aos produtores rurais, baseados em argumentos equivocados, com a disseminação do conhecimento. Foi assim ao abrir as portas da Câmara federal ao setor aeroagrícola, com a audiência pública “Desafios e oportunidades da aviação agrícola no País”, que ocorreu no dia 30 de agosto. Com isso, mostrando a importância da atividade para uma agricultura com alta produtividade e segura.
Na sua biografia, consta que o senhor é produtor rural. Como surgiu o gosto pela agricultura? O senhor nasceu em uma família de agricultores?
Eu sou de Paranavaí, município localizado no Noroeste do estado do Paraná. Para quem não conhece, essa região gira em torno da agricultura. Além da produção pecuária e mandiocultura, a citricultura chegou com muita força, transformando Paranavaí no maior produtor de laranjas do Paraná. Meus pais são agricultores e meus avós eram agricultores. Tenho orgulho de poder representar a categoria e estar sempre atuando em defesa do agronegócio.
Quando a política entrou em sua vida?
Iniciei a minha história na política como estagiário na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná (Alepr). Foi um grande aprendizado sobre a relação com outros poderes. Aprendi, principalmente, sobre a necessidade da construção de pautas consensuais onde há divergências. Em 2011, me tornei chefe de gabinete da Casa Civil do Paraná, adquirindo mais experiência e conhecimento sobre a estrutura administrativa do governo paranaense e da Assembleia Legislativa. Tive a oportunidade de visitar centenas de cidades e pude conhecer de perto a realidade de cada região. Em 2012, eu assumi a chefia de gabinete da Superintendência dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA). Essa foi mais uma grande experiência que me despertou a maturidade para buscar formas de impulsionar a competitividade e o desenvolvimento desse setor. Em 2014, fui eleito pela primeira vez como deputado estadual, com 31.875 votos. Na eleição seguinte, tive 54.276 votos e assim que assumi o mandato, me tornei presidente da Comissão de Obras Públicas, Transportes e Comunicação e membro da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. Além disso, fui relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Ocupação Fundiária de Pontal do Paraná, que investigou uma série de ilegalidades em áreas do município. Em 2022, fui eleito deputado federal com 109.344 votos. Com certeza, essa expressiva votação foi por conta do trabalho realizado nos pequenos municípios do Paraná ao longo dos 8 anos como deputado estadual. Agora, em 2023, estou exercendo meu primeiro mandato como deputado federal e sou presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados.
O senhor chegou a imaginar que já no primeiro ano como deputado federal (eleito para o mandato 2023/2026) seria presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (CAPADR), fundamental para ampliar debates sobre o agro brasileiro?
Eu jamais imaginei ser presidente de uma comissão tão importante como a Comissão de Agricultura e Pecuária da Câmara. É um colegiado de alto nível, composto por parlamentares experientes, representativos e atuantes na defesa do agronegócio. Eu aprendo bastante com todos eles. A minha linha de trabalho tem dois caminhos: o primeiro, tornar a Comissão cada vez mais representativa, em defesa dos setores produtivos do agronegócio. Nossa comissão precisa estar cada vez mais perto do produtor rural, entender e apoiar as suas necessidades. O segundo caminho é equilibrar as relações com o Poder Executivo. O nosso País vive um novo momento político. Como presidente, o meu papel é promover o diálogo, trazer as autoridades do Governo para que elas possam apresentar os seus cronogramas de trabalho e ouvir de nós as prioridades do setor. Eu sempre digo que o melhor caminho é o diálogo. Fizemos isso ao longo do ano e estou feliz com os resultados alcançados, mas há muito o que fazer nos próximos anos.
Como é a relação do senhor e da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), que tem na presidência o deputado Pedro Lupion, também paranaense?
A bancada do agronegócio é a mais forte e representativa da Câmara dos Deputados e do Senado não por acaso. A FPA vem realizando, nos últimos anos, um importante trabalho técnico de assessoramento dos parlamentares, no sentido de promover a unidade. Eu me sinto muito mais tranquilo e acolhido com o apoio da FPA. O deputado Pedro Lupion é amigo de longa data. Fomos deputados estaduais na mesma legislatura e nossa amizade é forte também por isso. Eu tenho a honra de acompanhá-lo na Câmara Federal. Lupion é um expoente na luta em defesa dos setores do agro. É um parlamentar jovem, experiente e firme em seus posicionamentos. E como presidente da FPA, ele faz questão de dividir com todos o protagonismo político. Por isso, a FPA é um colegiado forte e unido, porque temos um presidente que fortalece esses valores, que são caros.
Quando se fala em agronegócio, a insegurança jurídica é apontada como um grande desafio para quem vive da agropecuária. A aviação agrícola é um dos setores que tem sofrido constantemente com projetos de proibição da atividade. Como resolver esse problema?
Pelo diálogo e pela exposição da importância da aviação agrícola para o País e para a segurança alimentar de nossa população. A aviação agrícola evoluiu, assim como todas as atividades. As aeronaves, os helicópteros e drones são equipados com alta tecnologia para realizar suas atividades de forma muito precisa, otimizada e sustentável. Estão demonizando a aviação agrícola em narrativas ambientalistas equivocadas. Recentemente, nós discutimos o assunto na Câmara dos Deputados. Existe uma regulamentação nacional, que precisa ser respeitada. Mas decisões judiciais estão enfraquecendo a atividade, havendo o risco de um ‘efeito dominó’. Eu pedi o apoio do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), braço da FPA, e de consultores da Câmara para definirmos a melhor estratégia de ação em defesa da aviação aeroagrícola. Em breve, daremos uma resposta ao setor.
O senhor abriu as portas do Congresso Nacional para o setor aeroagrícola expor sua realidade. Para o senhor, qual a importância da aviação agrícola para o Brasil manter-se como uma potência no agro?
Com o apoio da Sindag, nós realizamos uma audiência pública para discutir a realidade e o futuro da aviação agrícola. Um tema desafiador, pois o preconceito persiste em parte da grande mídia. O nosso trabalho foi desmistificar a aviação agrícola, mostrar que é uma atividade essencial para a agricultura, que vem se modernizando cada vez mais para ser eficiente e econômica. A aviação agrícola é, hoje, essencial para a agricultura brasileira, porque é o método mais sustentável de pulverização por hectare, com menor impacto de carbono. O Brasil é hoje uma potência no agro mundial com a ajuda da aviação agrícola. Há muito o que fazer para vencer as barreiras e eliminar os preconceitos.
Assim, como a aviação agrícola, o agro brasileiro tem sido constantemente atacado com argumentos que não condizem com a realidade. Ao que o senhor atribui essa falta de empatia com o agro, uma vez que é dele que provém o alimento para a mesa?
Atribuo à desinformação. Diversos setores da economia, como o agronegócio, vêm se modernizando ano após ano, mas parte da mídia e demais grupos formadores de opinião ainda passam a informação de que são setores nocivos à natureza. O produtor rural não é mais o mesmo, os equipamentos agrícolas são bem mais modernos, as técnicas de cultivo são mais eficazes. Na aviação agrícola, acontece o mesmo. As aeronaves e equipamentos são mais modernos, os dispositivos de aplicação são mais eficientes, a tecnologia embarcada garante um nível altíssimo de precisão e assertividade. Essa nova realidade precisa ser mostrada à sociedade, mas, lamentavelmente, ainda tratam o agronegócio como inimigo do País. Tenho visto uma certa evolução em nosso favor, afinal, não dá para esconder ou omitir a verdade. E a verdade é que o agronegócio é a atividade que mais cresceu, mais gerou emprego, renda e desenvolvimento ao País, e que mais vem se modernizando.
O senhor, em diferentes ocasiões, tem feito referência ao avanço das tecnologias no campo como um caminho sem volta, sempre mirando a sustentabilidade do agronegócio, como um setor da economia que produz e preserva. Como o senhor vê o agro brasileiro daqui a cinco anos?
Eu vejo o agro brasileiro cada vez mais sustentável. Não há outro caminho senão produzir preservando o meio ambiente, reciclando, reaproveitando, e promovendo a sustentabilidade dentro do ambiente agropecuário. O planeta está dando sinais cada vez mais fortes de esgotamento. O Brasil, enquanto potência agrícola mundial, precisa implementar alternativas que agreguem produtividade e sustentabilidade. O poder público tem papel importante nisso, ampliando a oferta de crédito ao produtor rural para incentivá-lo a investir em novas tecnologias.
O que falta para a sociedade entender que a agricultura brasileira avançou, que a legislação brasileira sobre o agro é severa nos quesitos que tratam da preservação ambiental, especialmente da mata nativa?
Existe uma narrativa injusta de que a culpa das mudanças climáticas no País é da atividade agropecuária. Não é verdade. A agropecuária brasileira, que produz com responsabilidade, não pode ser penalizada por alguns produtores que insistem na degradação do meio ambiente. A agropecuária mudou para melhor e a sociedade deve saber. O problema é que ainda ficamos surpresos com algumas coisas, como, por exemplo, questões na prova do Enem* que abordam o agronegócio de forma ideológica e depreciativa, induzindo os alunos a pensarem que o agronegócio é o inimigo do País. É preciso construir uma nova narrativa, a de que o agronegócio é a atividade que mais cresceu no País, que mais gerou empregos, que mais trouxe desenvolvimento social às cidades brasileiras. É preciso trocar uma narrativa por outra, a de que o Brasil é o País do agro e estamos muito bem com isso. Precisamos mostrar com mais intensidade os ótimos exemplos que temos de produção agropecuária com respeito ao meio ambiente. O Brasil é um dos líderes nesse processo e devemos ter orgulho dessa convivência. Mas podemos e devemos evoluir, esse é um processo constante.
* Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) é uma prova para ingresso no ensino superior realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), autarquia vinculada ao Ministério da Educação do Brasil. Neste ano, a prova realizada em 5 de novembro, trouxe enunciados de perguntas que foram questionados pelo setor agropecuário por entenderem tratar-se de conteúdo ideologizado e provocar a desinformação em relação ao agronegócio brasileiro.
Qual o legado que o senhor quer deixar como presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural?
Eu sempre tive uma postura de equilíbrio e de racionalidade, sobretudo nos temas mais polêmicos. Quando duas pessoas gritam entre si, ninguém se ouve. Para mim, o melhor caminho é do diálogo e do entendimento. Embora existam divergências, sempre é possível encontrar convergências e pontos em comum. Quero deixar essa característica na minha passagem pela Comissão de Agricultura e Pecuária.