PATIO 1

O papel estratégico dos pátios de descontaminação

Publicado em: 19/08/25, 
às 05:00, 
por IBRAVAG

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Cléria Regina Mossmann

Parceira do Sindag e Ibravag, a empresária é mestranda em Agronegócios, pela (UFGD), e especialista em Gestão, Inovação e Sustentabilidade Aeroagrícola, com expertise em documentação. Inclusive é habilitada pela Anac como Gestora de Segurança Operacional (GSO).

A aviação agrícola consolidou-se como uma ferramenta indispensável na agricultura moderna, desempenhando um papel fundamental no aumento da produtividade e na otimização do manejo de grandes áreas cultivadas. Sua capacidade de realizar aplicações rápidas, uniformes e precisas de insumos, em momentos estratégicos do ciclo das culturas, contribui significativamente para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas, além de possibilitar a adubação e a semeadura com alta eficiência. Esses fatores se traduzem em maiores rendimentos agrícolas, com impactos positivos diretos na oferta de alimentos e, consequentemente, na segurança alimentar da população.

Além de promover a produtividade, a aviação agrícola também se insere no contexto da agricultura de precisão, utilizando tecnologias avançadas que permitem aplicações em taxas variáveis, otimizando o uso de recursos e reduzindo os custos de produção. Apesar dos inúmeros benefícios, as operações aéreas envolvem o uso de produtos que requerem cuidados específicos, o que demanda a adoção de boas práticas operacionais e ambientais para garantir a segurança e a sustentabilidade das atividades.

Nesse contexto, a Instrução Normativa nº 2, de 3 de janeiro de 2008, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), estabelece diretrizes claras para a atividade, incluindo exigências relacionadas à infraestrutura de apoio, como o pátio de descontaminação. Trata-se da estrutura destinada à lavagem das aeronaves e equipamentos após a aplicação de produtos fitossanitários, assegurando o correto manejo dos resíduos da pulverização e evitando a contaminação do solo e da água.

ESTRUTURA

Conforme a referida Instrução Normativa, os restos de calda remanescente e a água da lavagem devem ser descartados em local apropriado — o próprio pátio — ou, de forma diluída, sobre a mesma lavoura tratada. Para garantir sua efetividade, o pátio deve ser construído com piso impermeável, canaletas ou caixas coletoras que direcionam os líquidos gerados a um sistema de tratamento de efluentes. Esse sistema inclui a aplicação de ozônio, por meio de um ozonizador, que quebra as moléculas dos produtos utilizados, seguida por um processo de solarização, onde o efluente tratado permanece até sua completa evaporação.

Além disso, o pátio deve contar com sinalização adequada, um sistema de drenagem eficiente e manutenção preventiva, incluindo inspeções periódicas e limpeza das canaletas e do reservatório de decantação, para prevenir obstruções e o acúmulo de resíduos. Esses cuidados são essenciais para assegurar que o dimensionamento da estrutura, que leva em consideração a quantidade e o porte das aeronaves utilizadas, atenda adequadamente à demanda gerada durante as operações.

A adoção dessa estrutura traz benefícios que extrapolam a conformidade legal, ao integrar princípios de sustentabilidade à rotina operacional. Ambientalmente, impede a degradação do solo e a contaminação dos recursos hídricos. Socialmente, contribui para a saúde e segurança dos trabalhadores e comunidades do entorno ao evitar a exposição a resíduos perigosos. Economicamente, reduz riscos de autuações e processos, valoriza a propriedade e fortalece a imagem do produtor junto ao mercado, certificadoras e investidores.

No entanto, para que a estrutura cumpra sua função, é essencial que sua implantação seja fruto de planejamento técnico e responsável. Um sistema mal dimensionado pode não suportar o volume de efluentes gerado em períodos de alta demanda, e escolhas inadequadas de materiais podem comprometer sua durabilidade, gerando custos adicionais e riscos operacionais. Além disso, falhas no projeto ou na execução podem prejudicar o escoamento, a contenção e a eficiência do tratamento.

PLANEJAMENTO

O planejamento deve considerar a integração do pátio com outras estruturas da propriedade, como pontos de abastecimento, áreas de armazenamento de defensivos, oficinas e espaços de convivência. Também envolve a definição de procedimentos operacionais, rotinas de manutenção, sistemas de monitoramento e, especialmente, o treinamento da equipe responsável. A capacitação adequada é decisiva para a eficácia do sistema e para a prevenção de práticas inadequadas ou acidentes.

A contratação de consultoria técnica especializada é, nesse cenário, uma decisão estratégica. Profissionais qualificados garantem que o projeto atenda às normas técnicas e ambientais, respeite as condições locais e ofereça soluções eficientes e seguras. Isso evita erros que poderiam resultar em passivos ambientais, retrabalhos ou paralisações onerosas.

Sustentabilidade e planejamento caminham juntos. Um projeto bem elaborado garante o tratamento adequado dos efluentes, evita desperdícios, minimiza riscos e reforça a segurança dos colaboradores e da comunidade. Além disso, fortalece os pilares da governança, promovendo transparência e responsabilidade — aspectos fundamentais para quem busca alinhar sua atividade aos critérios ESG (Environmental, Social and Governance), cada vez mais valorizados no setor agropecuário.

Projetar um pátio de descontaminação eficiente e tecnicamente adequado é mais do que cumprir a legislação: é agir com ética, responsabilidade e visão de futuro. Trata-se de investir em uma infraestrutura essencial para conciliar a produtividade da aviação agrícola com a preservação ambiental e a proteção da saúde humana. Nesse contexto, a sustentabilidade deixa de ser apenas um ideal e torna-se uma estratégia concreta de gestão, capaz de assegurar a continuidade do negócio, ampliar sua competitividade e reafirmar o compromisso do produtor com a sociedade e o meio ambiente.

* Com colaboração de Natalia Ohara, Leticia Albino e Ana Kalife, engenheiras civis com experiência em regularização ambiental de pátios de descontaminação.

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